Economista que previu ascensão e queda da China é entrevistada pelo Epoch Times

Economista-chefe da Enodo explica sua perspectiva única sobre a segunda maior economia

19/12/2018 13:34 Atualizado: 19/12/2018 15:08

Por Valentin Schmid, Epoch Times

Todos sabem que o que acontece na segunda maior economia do mundo influencia tudo, desde as cadeias de suprimentos até os mercados de ações dos Estados Unidos. Mas poucas pessoas entendem como funciona a peculiar combinação de uma economia planejada com o livre mercado, por não falar de como as mudanças na China afetam o resto do mundo.

No início, poucas pessoas prestaram atenção ao milagre econômico depois que a China ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC). Então, todos pensaram que o milagre econômico duraria para sempre. Isso não aconteceu. Mais tarde, em meados de 2010, muitas pessoas acreditaram que o sistema chinês entraria em colapso completamente. Isso não aconteceu.

Diana Choyleva é diferente. A economista-chefe da Enodo Economics e ex-diretora de pesquisas da Lombard Street Research vem analisando a China desde o início dos anos 2000, antes que a maioria dos analistas começasse a prestar mais atenção a ela. Desde então, ela previu muitos dos momentos cruciais que determinariam o destino da economia chinesa.

Nesta entrevista ao Epoch Times, Diana Choyleva compartilha suas ideias sobre como analisar corretamente a economia chinesa e como ela afeta o resto do mundo.

Epoch Times: Qual foi sua primeira previsão significativa para a China?

Diana Choyleva: Eu comecei a estudar a China no ano 2000. Acho que consegui esse emprego porque cresci em outro país comunista, a Bulgária.

No final de 2001, eu previ uma opção de compra que seria fator fundamental do que iria acontecer, devido a um tipo diferente de ciclo em relação ao resto do mundo, o que era um bom presságio para as matérias-primas.

Se você tivesse ficado sentado sobre a opção de comprar matérias-primas nos próximos dez anos, teria ganho muito dinheiro. E eu também sabia na época que essa história terminaria em 2011. Para os investidores, ser capaz de capturar esse tipo de ponto de inflexão é o que oferece a maior vantagem.

Diana Choyleva, fundadora e economista-chefe da empresa Enodo Economics (Enodo Economics)
Diana Choyleva, fundadora e economista-chefe da empresa Enodo Economics (Enodo Economics)

Logo depois que comecei a me ocupar com o país asiático, a China ingressou na OMC em 2001. No entanto, continuou controlando o preço do capital e da eletricidade e tinha uma grande quantidade de mão-de-obra barata. Por isso, foi fácil prever que eles iriam abocanhar quotas do mercado de exportação como loucos.

Além disso, eles têm uma economia semi-planejada, e Pequim pretendia usar as poupanças nacionais da China para industrializar o país. Eles usaram os ganhos com a exportação para construir, construir e construir. E a China não foi afetada pela crise das “ponto com” no Ocidente.

Em geral, aqueles que ignoraram a China na época, demoraram a aderir ao mercado mundial em alta das commodities.

Um casamento por conveniência?

Epoch Times: Mas a China se beneficiou dos termos favoráveis concedidos pelos Estados Unidos, certo?

Diana Choyleva: A relação entre Estados Unidos e China nunca foi um casamento por conveniência, como alguns disseram na época. Os Estados Unidos se comprometeram com a entrada na OMC com base na transformação da China em uma economia de mercado. E então a China entrou sem ser convidada, mantendo sua moeda com câmbio fixo e sem liberar seus mercados com rapidez suficiente.

Para 2004/2005, a escassez de energia e transporte freou a onda de investimentos da China.

Mas mesmo assim eles economizaram muito, então tiveram que exportar suas economias, comprando títulos do Tesouro para manter sua moeda estável em relação ao dólar.

Do ponto de vista dos Estados Unidos, todo esse dinheiro barato era bom demais para ser recusado.

As razões pelas quais os chineses estavam dispostos a fazê-lo não tinha nada a ver com o livre mercado, de modo que o Federal Reserve não podia fazer muito para impedir a chegada de dinheiro barato.

Aí eu passei de otimista a pessimista e pensei que esses grandes desequilíbrios globais levariam a uma crise financeira, como escrevi em um livro do qual fui co-autora em 2006, “A fatura da loja chinesa”.

Argumentei que em algum momento a capacidade dos Estados Unidos de tomar emprestado e gastar estaria esgotada, e foi o que aconteceu. A crise financeira mundial tirou o apoio ao modelo de desenvolvimento da China de exportações e desperdício de investimentos.

Epoch Times: O que aconteceu depois da crise?

Diana Choyleva: O regime chinês injetou dinheiro na economia, mas o período de forte crescimento que se seguiu em cada ciclo tornou-se cada vez mais curto. Eles tiveram um estímulo em 2009, 2010; então, quando a inflação aumentou, eles tiveram que apertar o cinto. Em seguida, o crescimento se reduziu pela metade em 2011/2012 em relação ao que era antes da crise. E esse ciclo se repetiu várias vezes desde então. O estímulo de 2016 produziu apenas um pouco de crescimento. E agora a tendência de crescimento da economia é de 5% no máximo em termos reais.

Não apenas o bolo do comércio mundial não estava crescendo como nos níveis anteriores. Mas para 2010/2011, a capacidade da China de atingir uma maior participação de mercado ficou extremamente limitada. Os salários subiram e a taxa de câmbio foi supervalorizada, de modo que a China se tornou muito menos competitiva.

O ganho com as exportações sumiram e, portanto, quanto mais eles queriam alocar dinheiro em investimentos improdutivos, mais rapidamente sua dívida começava a aumentar em relação ao PIB. E o equilíbrio entre crescimento e inflação se perdeu.

Em 2011, comentei a história da China no meu livro “The American Phoenix”. Se você se lembra, naquela época todos falavam sobre como a China estava indo muito melhor, enquanto a economia dos Estados Unidos estava estagnada. Tudo negativo estava na América. Minha análise dizia que a China surpreenderia no lado negativo e os Estados Unidos no positivo.

Se nesse momento você investisse seu dinheiro em ações norte-americanas, em relação a qualquer outra coisa, você teria feito muito bem.

A maioria das pessoas pensa em mim como propensa a ver a China caindo. Isso porque eles começaram a prestar atenção por volta de 2005, quando meus colegas e eu começamos a desenvolver a ideia de que a excessiva poupança chinesa era o problema.

No entanto, em 2015, quando todos estavam preocupados com a dívida da China, argumentei que a China ainda não havia chegado ao fundo do poço. Você pode reconhecer o problema, mas também precisa capturar o timing dos processos para avaliar as consequências dos preços dos ativos.

Mudança estrutural

Epoch Times: O que vai acontecer agora?

Diana Choyleva: Pois então, o próximo estágio desta questão é a fratura da globalização. Não há maneira de a ordem econômica e política global permanecer como está. Estamos caminhando para uma nova guerra fria digital e para um mundo bipolar: de um lado, a China e, do outro, os Estados Unidos.

Apesar de sua adesão à OMC, a China nunca se tornou uma economia de mercado plena, como os norte-americanos esperavam. As forças do mercado começaram a desempenhar um papel mais importante em alguns mercados domésticos, mas Pequim continua mantendo fechada a conta de capital e fixando o preço do capital tanto em termos de taxa de câmbio quanto de juros nacionais.

Portanto, a China continua sendo uma economia semi-planejada, e tentar fundi-la com economias de mercado ocidentais, particularmente os Estados Unidos, não funciona.

Se você lembrar como era o mundo nos últimos 20 ou 30 anos, um grande número de pessoas saiu da pobreza e subiu na escala de renda. Mas todos nós temos nossas nacionalidades e valorizamos nossa soberania, e nas economias em desenvolvimento esses sentimentos são muito mais fortes. Durante esses 20-30 anos, as pessoas que se beneficiaram estavam na China e em outras economias emergentes, mas mesmo lá, os benefícios estavam concentrados em alguns bolsos.

Por outro lado, no mundo ocidental, grande parte do eleitorado se sentia abandonado. Não em termos absolutos, mas em termos relativos.

Depois da crise financeira mundial, eu me enganei sobre uma coisa. Eu esperava que o protecionismo aumentasse, mas me enganei quanto ao momento em que isso iria acontecer, e depois de 10 anos está finalmente acontecendo, agora. Fui ingênua ao esperar que uma mudança importante no status quo mundial fosse possível sem uma mudança política anterior a isso. Agora, formou-se uma massa política crítica com a eleição do presidente Trump, o Brexit e eventos políticos na Europa para levar a um mundo desglobalizado.

Esta é a grande questão que moldará os mercados financeiros nos próximos anos.

Uma perspectiva única

Epoch Times: Por que você tem uma perspectiva tão única sobre a China e a economia mundial?

Diana Choyleva: Eu fiz essa pergunta aos meus clientes, e eles responderam que eu tenho um ponto de vista único sobre a China porque nasci em um país comunista e vivi meus anos de formação acadêmica em um regime comunista, na Bulgária. Então eu tenho uma compreensão inata de como esse sistema de planejamento central funciona.

Tive a sorte de ir para o Ocidente e ser educada por algumas das melhores mentes da economia ocidental. Esta é uma combinação única para entender como a maior economia comunista do mundo e a maior economia de mercado do mundo interagem.

O que também ajuda é que eu não sou chinesa, então posso ser verdadeiramente independente do orgulho nacional e dos tentáculos do Partido Comunista.

Também não me importo de me destacar da multidão se tiver uma firme convicção. Eu falo as coisas como as vejo.