Duras críticas do regime chinês sobre funcionário derrubado sugerem maiores crimes

15/02/2018 20:41 Atualizado: 15/02/2018 20:41

Por Annie Wu, Epoch Times

Na última remoção de um alto funcionário do Partido Comunista Chinês acusado de corrupção grave, a redação das advertências foi tão severa que o Partido chamou o episódio de “raro e incomum”.

Depois que a agência de vigilância anticorrupção do Partido Comunista Chinês anunciou em 13 de fevereiro que o diretor da Administração de Assuntos do Ciberespaço, Lu Wei, foi despojado do seu cargo e expulso do Partido, uma publicação online afiliada ao Diário do Povo, um jornal estatal porta-voz do regime, chamou as descrições de seus crimes pela agência anticorrupção como “extremamente implacável” e “excepcionalmente severas, mostrando claramente que seus problemas são sérios”.

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De 2013 a 2016, Lu Wei foi o chefe da internet chinesa, supervisionando a vigilância e censura rigorosas da internet do país. Ele também era conhecido por suas aparições públicas de destaque, algo incomum para os burocratas chineses. Por exemplo, ele estabeleceu a Conferência Mundial da Internet na China, uma tentativa de atrair atenção para si quando diante dos executivos de tecnologia, apesar da reputação da China de ter um dos ambientes de internet mais restritivos.

A agência anticorrupção do regime chinês, conhecida como Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), acusou Lu Wei de uma longa série de crimes, incluindo “concordar externamente com a autoridade mas secretamente opor-se [as diretrizes oficiais]”, “incriminar pessoas anonimamente”, “formar panelinhas e facções”, “comportamento desagradável”, “ter um senso exagerado de ambição” e “usar qualquer meio possível para se promover”.

A crítica implacável sugere que Lu Wei cometeu algo muito errado aos olhos da liderança do Partido Comunista Chinês.

Embora o CCID não tenha elaborado, há algumas pistas sobre os delitos que podem ter provocado a queda de Lu Wei. Chen Simin, um analista de assuntos chineses, apresentou algumas análises de reportagens de notícias e relatos que surgiram online.

Uma postagem de mídia social é exibida num dispositivo móvel em Pequim em 21 de julho de 2017 (Greg Baker/AFP/Getty Images)
Uma postagem de mídia social é exibida num dispositivo móvel em Pequim em 21 de julho de 2017 (Greg Baker/AFP/Getty Images)

Por exemplo, um incidente pode ter criado problemas para Lu Wei: em março de 2016, durante o momento altamente sensível das reuniões políticas anuais “lianghui” em Pequim, um website de notícias afiliado às autoridades de Xinjiang chamado Watching Media publicou uma carta aberta dirigida ao líder chinês Xi Jinping sugerindo que ele renunciasse. O website foi logo encerrado. As autoridades locais lançaram uma investigação e dezenas de funcionários foram interrogados e/ou detidos.

Mas a aparição da carta sediciosa era suficientemente perigosa. Chen Simin prevê que, como Lu Wei era o oficial responsável por patrulhar a internet, ele pode estar sendo punido pela ofensa. Alguns observadores sugeriram que o próprio Lu Wei pode ter orquestrado o incidente.

As palavras ásperas do CCID também podem servir de aviso para os funcionários envolvidos no incidente mas que ainda não foram punidos. “A audiência também pode compartilhar alguma responsabilidade”, escreveu Chen Simin.

Quanto às acusações de “formar panelinhas e facções”, sugerindo a possibilidade de que Lu Wei estaria alinhado com uma facção da oposição, Chen Simin apontou reportagens anteriores sobre as conexões de Lu Wei com Ling Jihua, um ex-assessor político e membro conhecido da “facção de Jiang”, ou aqueles que são leais ao ex-líder chinês Jiang Zemin.

A campanha anticorrupção de Xi Jinping tem visado numerosos membros da facção de Jiang Zemin que ameaçaram o controle de Xi Jinping sobre o Partido Comunista.

Ling Jihua numa reunião da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês em Pequim em 8 de março de 2013 (Lintao Zhang/Getty Images)
Ling Jihua numa reunião da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês em Pequim em 8 de março de 2013 (Lintao Zhang/Getty Images)

Em dezembro de 2014, vários portais chineses publicaram um artigo detalhando como Ling Wancheng, o irmão de Ling Jihua, fez uma fortuna secretamente usando sua posição como gerente-geral de uma agência de publicidade pertencente à Xinhua, uma agência estatal de notícias porta-voz do regime chinês. Durante o mesmo período, Lu Wei foi responsável pelas operações comerciais da Xinhua. Chen Simin sugere que Lu Wei poderia estar envolvido nas falhas de conduta de Ling Jihua.

Ling Jihua é um ex-assessor político vinculado à rede política de Jiang Zemin.

As conexões políticas de Lu Wei podem ser a razão de sua queda. Lu Wei passou a maior parte de sua carreira trabalhando nas agências de propaganda do Partido Comunista sob Liu Yunshan, o ex-chefe da propaganda que também é um dos principais associados da facção de Jiang Zemin.

Colaboraram: Li Jing e Xu Meng’er