Por Annie Wu, Epoch Times
Um documento vazado recentemente, produzido pelas autoridades de censura do regime chinês e destinado à grande mídia, circulou pela internet chinesa revelando até que ponto o Partido Comunista Chinês controla e dita como o conteúdo é produzido.
O documento, que foi republicado na popular plataforma de mídia social Weibo e por vários portais de notícias chineses, foi emitido pela Administração Estatal de Imprensa, Publicação, Rádio, Cinema e Televisão (SAPPRFT). Ele explica as regras internas da agência sobre quais assuntos são ou não são apropriados para cinema e televisão.
Como retratar uma história ou assunto é uma questão particularmente delicada. “Desde os tempos antigos, o território chinês enfatizou a unidade”, afirma um regulamento. Assim, quaisquer “tabus históricos” em torno das reivindicações territoriais devem ser evitados. A soberania chinesa deve ser enfatizada; vários reinos nas periferias da Dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.), por exemplo, não podem ser chamados de “nação”. O regime faz isso para sustentar sua narrativa em regiões como Xinjiang, Tibete, Hong Kong e Taiwan.
As autoridades comunistas também instruíram para evitar adaptações de figuras históricas famosas. O regime chinês tem um histórico de apagar elementos da cultura tradicional chinesa, como o infame período da Revolução Cultural dos anos 1960 e 1970, quando estátuas de figuras históricas, locais culturalmente significativos, ícones religiosos e textos seminais do confucionismo, budismo e taoísmo foram considerados contrários aos interesses comunistas e destruídos.
O regime chinês até encoraja a distorção total dos eventos históricos para seus próprios fins. “Precisamos fabricar completamente a história. A fabricação deve ser completa, até que você não consiga encontrar a base histórica”, afirma uma das regras.
Em outro eco da Revolução Cultural, outro ditame instrui a “persistir no materialismo, destruir e eliminar a superstição feudal”. “Superstição” geralmente se refere a crenças populares, espiritualidade e doutrina religiosa que o Partido Comunista Chinês está sempre tentando destruir, forçando as pessoas a substituírem essas crenças pela ideologia comunista.
Além disso, qualquer coisa que possa sugerir críticas ou questionamentos sobre a legitimidade do regime chinês é proibida. “Não comente de forma precipitada sobre assuntos nacionais. Evite questões sobre o sistema social, o estado atual do país, questões maiores sobre como o país irá se desenvolver”.
O cinema e a televisão devem retratar apenas o lado bom da vida na China, apesar das duras realidades da vigilância constante, dos abusos dos direitos humanos e da grave poluição ambiental, para citar apenas alguns problemas sociais. “Enfatize retratar as lindas vidas dos cidadãos. Mostre que as pessoas são felizes e têm uma sensação de satisfação”.
A censura do regime chinês se aplica também aos próprios atores. “As obras de filmes e televisão de celebridades e artistas que defendem a independência de Hong Kong e Taiwan serão priorizadas para monitoramento”. Ambas as regiões têm sistemas políticos e econômicos independentes e separados da China continental. Hong Kong foi devolvida à soberania chinesa, enquanto Pequim considera Taiwan parte da China, apesar de ter seu próprio governo democraticamente eleito.
Em entrevista à Rádio Free Asia, um graduado de uma academia de mídia na China disse que as restrições do regime chinês ao cinema e à televisão haviam sido a principal razão pela qual ele escolheu não entrar para a profissão, apesar de estudá-la.
“Neste momento, desde que se empreenda um trabalho relacionado com a ideologia [comunista], é perigoso. A indústria cinematográfica e televisiva é definitiva e rigidamente controlada”, disse ele.