Quando as autoridades de Pequim começaram a expulsar trabalhadores migrantes e outros residentes de baixa renda dos subúrbios da cidade nas últimas semanas, a tendência de limpar o que o regime chinês chama de “população de baixa classe” se espalhou para outras cidades. Um especialista acredita que o regime teme que essa população possa ser uma ameaça para as autoridades em tempos econômicos difíceis.
Na sequência de um incêndio mortal que destruiu parte do distrito de Daxing, uma área em Pequim, onde muitos trabalhadores de fábricas vivem em apartamentos de baixa renda, as autoridades locais aproveitaram o desastre, que ocorreu num prédio sem medidas adequadas de segurança contra incêndio, como uma desculpa para expulsar os moradores.
Em 29 de novembro, o Hong Kong Economic Times informou que esses esforços de despejo se estenderam a Ningbo, uma cidade na costa leste da China, bem como a Guangzhou e Shenzhen, na costa sul da China. As autoridades locais começaram a demolir edifícios com apartamentos para alugar que dizem violar os códigos de construção. A publicação também obteve fotos dos avisos de despejo no distrito de Longhua em Shenzhen.
Enquanto isso, os despejos em Pequim afetaram inesperadamente as empresas e serviços de entrega. Muitos trabalhadores de entrega perderam suas moradias na onda de despejos e estão lutando para encontrar um lugar para viver, e como resultado não apareceram para trabalhar.
Um entregador disse ao Epoch Times: “Não há trabalhadores suficientes agora. Nós precisamos de mais pessoal de entrega.” O entregador acrescentou que inclusive alguns centros de entrega foram demolidos no processo dos despejos, com as autoridades citando violação dos códigos de construção.
A publicação chinesa Jiemian News também informou que várias grandes empresas de serviços de entrega como SF Express, ZTO Express e China Post (uma empresa estatal) tiveram seus armazéns e centros de distribuição inspecionados e fechados nos últimos dias.
O proprietário de um negócio online chinês, que deseja permanecer anônimo, disse ao Epoch Times que muitos de seus clientes reclamaram que não puderam receber suas encomendas. Muitos de seus funcionários estão atualmente ocupados procurando por um lugar para viver, então ele parou temporariamente de receber pedidos de clientes na área da Pequim e da província vizinha de Hebei.
Nos últimos dias, houve inúmeras postagens de internautas de Guangzhou no fórum online do Baidu que disseram que suas encomendas ainda não haviam chegado. Compras online são muito populares entre os consumidores chineses; como o festival de compras anual do Dia dos Solteiros em 11 de novembro que gerou bilhões de yuanes em vendas para os varejistas online da China.
As empresas de entrega e os varejistas sofreram inadvertidamente como resultado dos despejos em massa.
Um estudioso econômico, Qin Weiping, apresentou à Voz da América sua teoria sobre por que as autoridades de Pequim iniciaram esses despejos apesar do grande protesto público; que pode ser visto inclusive em manifestações de chineses em Hong Kong e nos Estados Unidos.
Qin Weiping observou que muitas das populações de “baixa classe” têm salários baixos e não recebem assistência social devido ao sistema de registro domiciliar da China, o chamado sistema “hukou“, que limita os benefícios do governo apenas aos residentes oficiais da cidade, mas exclui os residentes não autorizados pelo regime. Na economia instável atual da China, esses trabalhadores correm o risco de perder seus meios de subsistência. Assim, o regime chinês considera este grupo de pessoas “elementos instáveis”.
“[O regime] tem medo de que eles iniciem uma revolta, por isso estão removendo-os para pôr um fim nisso”, disse Qin Weiping à Voz da América.
“Se um grande grupo deles de repente perder seus empregos e eles não puderem ganhar a vida, eles se tornarão uma ameaça para as autoridades chinesas”, acrescentou.
Contribuíram: Xiao Lusheng e Xu Jian