Delegacias de polícia secretas dão ao PCCh “enorme quantidade de controle” sobre lideranças chinesas no exterior

O regime chinês opera mais de 100 estações secretas no exterior em 53 países, de acordo com a Safeguard Defenders.

Por Jan Jekielek e Danella Pérez Schmieloz
17/10/2023 18:37 Atualizado: 17/10/2023 18:37

O Partido Comunista Chinês (PCCh) criou um sistema no qual líderes de comunidades chinesas no exterior não têm opção senão se envolver com sua estrutura para ajudar seus compatriotas, de acordo com Laura Harth, diretora de campanha da Safeguard Defenders, uma organização de direitos sem fins lucrativos com sede na Espanha.

Uma vez que são forçados a cooperar com o PCCh, os líderes comunitários podem se envolver em comportamentos criminosos e ser passíveis de acusações criminais, disse a Sra. Harth ao programa American Thought Leaders da EpochTV.

O PCCh opera mais de 100 postos secretos no exterior em 53 países, de acordo com a Safeguard Defenders. Os postos são “uma configuração entre as autoridades de segurança pública na China, em cooperação com grupos no exterior ligados à Frente Unida”, explicou a Sra. Harth. O Departamento de Trabalho da Frente Unida é uma agência responsável por coordenar as operações de influência do PCCh no exterior.

As delegacias muitas vezes atuam sob pretexto de oferecer serviços consulares e administrativos, como a renovação de passaportes e carteiras de motorista, o que viola a Convenção de Viena sobre Relações Consulares, explicou ela. As delegacias podem ser estabelecidas em residências particulares ou edifícios de escritórios.

Ao oferecer esses serviços por meio de tais redes, “você está dando a eles um enorme controle sobre as comunidades onde estão residindo, onde estão realizando os serviços, você dá a eles acesso a muitos dados sobre quem está lá”, disse a Sra. Harth.

“Você está executando esses tipos de serviços não pelos canais tradicionais, mas por meio de grupos vinculados às agências de influência do PCCh que estão relacionadas à Frente Unida”, disse ela.

As delegacias funcionam como um “nexo” com as autoridades de segurança pública na China. Os pedidos, como a carteira de motorista, passam pela autoridade de segurança pública, o que “faz sentido”, pois são coisas que podem “ser transformadas em armas” pelo sistema comunista chinês “para garantir que você cumpra”, segundo a Sra. .

As delegacias também estão envolvidas em operações ilegais de repatriação, como o silenciamento da dissidência no exterior, coagindo pessoas chinesas a retornar à China, de acordo com a Sra. Harth.

“Há evidências suficientes para dizer que não se tratam apenas de serviços administrativos consulares inocentes”, acrescentou.

Silenciando a dissidência no exterior

O Partido Comunista Chinês (PCCh) é um sistema que nem sequer consegue conceber a ideia de uma sociedade civil livre ou de um espaço cívico livre”, disse a Sra. Harth.

Qualquer forma de sociedade civil fora do controle do PCCh “será silenciada, assediada, detida, definitivamente incapacitada de exercer essas liberdades”.

Agora, eles estão tentando “aniquilar qualquer semelhança de espaço cívico livre, sociedade civil, ou pelo menos tentar cooptá-lo, controlá-lo, controlar esses grupos no exterior”, acrescentou.

A Frente Unida “não se trata apenas de tentar influenciar as pessoas” ou “definir a narrativa”, acrescentou a Sra. Harth. “Também se trata de reprimir, de dividir, de silenciar, de suavizar os críticos dessa mesma narrativa”.

Com base em evidências de fontes abertas, a Safeguard Defenders ligou algumas das delegacias a “operações de persuasão para retorno”, disse a Sra. Harth.

Essas operações muitas vezes tentam silenciar a dissidência de chineses no exterior, especialmente no caso de minorias religiosas, como os uigures.

Esses eventos “são obviamente de grande preocupação para os direitos humanos e liberdades das pessoas que estão envolvidas como alvos”, bem como uma “flagrante violação da soberania territorial”, disse a Sra. Harth.

Eles começam “geralmente com ameaças e assédio, ou até mesmo pior, punição de familiares na China, empurrando esses membros da família e convencerem seus parentes no exterior a ficarem em silêncio, talvez parar com seu ativismo ou os persuadir a voltar”, explicou ela.

Muitos dos chineses visados não haviam conseguido falar com seus parentes por anos. Ainda assim, depois de falar, eles são contatados por parentes ou agentes de segurança pública usando o telefone de seu familiar, pedindo-lhes que voltem para a China, acrescentou.

Em abril, o FBI prendeu duas pessoas acusadas de operar uma delegacia de polícia secreta no exterior na cidade de Nova Iorque em nome do Partido Comunista Chinês (PCCh). Foram acusados de conspirar para trabalhar como agentes e receber ordens de Pequim para rastrear e silenciar dissidentes chineses que vivem nos Estados Unidos.

“Uma vez que o sistema está em vigor”, tais operações servem como uma ferramenta para silenciar futuras dissidências também, já que cria uma “prisão psicológica” para outros chineses que prefeririam ficar em silêncio para evitar represálias, disse a Sra. Harth.

Em Madrid, Espanha, um indivíduo acusado de poluição ambiental foi levado a uma delegacia de polícia no exterior, onde participou de uma reunião online com autoridades de segurança pública da China, que estavam com um membro da família do alvo. Toda a operação está em vídeo, disse a Sra. Harth, e foi bem-sucedida, pois conseguiu fazer com que a pessoa voltasse para a China.

A Sra. Harth também mencionou que o PCCh tem usado outros métodos para trazer pessoas de volta para a China, como extradição, repatriação, atração e armadilhas, e sequestro. Esses métodos estão detalhados em uma Interpretação Legal da Comissão de Inspeção de Disciplina do PCCh.

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