“Deixe o Partido cair’’: especialistas celebram movimento de desfiliação do PCCh como despertar cultural na China

Segundo especialistas, por meio do movimento, as tradições milenares da China estão ressurgindo em detrimento do comunismo.

Por Terri Wu
26/11/2024 07:58 Atualizado: 26/11/2024 07:58
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times. 

WASHINGTON — O movimento de desfiliação do partido na China é visto como um despertar espiritual e cultural, no qual as tradições milenares do país estão ressurgindo na sociedade chinesa, afirmaram especialistas em um fórum realizado no Capitólio em 22 de novembro (22).

Os chineses começaram a se desvincular do Partido Comunista Chinês (PCCh) após o Epoch Times publicar uma série de editoriais intitulada Nove Comentários sobre o Partido Comunista, há 20 anos.

Desde então, o número total de pessoas que denunciaram qualquer associação com o regime chinês aumentou significativamente, chegando a quase 440 milhões, de acordo com o Global Service Center for Quitting the Chinese Communist Party, uma organização voluntária que auxilia nas desfiliações e mantém o registro dessas ações.

O número inclui também aqueles que eram membros de organizações afiliadas ao PCCh, como os Jovens Pioneiros, voltado para crianças do ensino fundamental, e a Liga da Juventude Comunista, para adolescentes de ensino médio.

Embora a adesão a essas organizações não seja obrigatória formalmente, na prática ela é. Estudantes que não ingressam nesses grupos enfrentam crescente pressão e até discriminação no acesso a benefícios educacionais.

Com cada nível progressivo de envolvimento, desde os Jovens Pioneiros até membros plenos do Partido, os chineses são obrigados a prestar juramentos cada vez mais comprometidos, indo de “contribuir” para “lutar por” e, eventualmente, “estar disposto a sacrificar tudo pelo PCCh”.

Piero Tozzi, diretor da equipe da Comissão Executiva do Congresso sobre a China (CECC, na sigla em inglês), enxerga uma conexão entre a desfiliação do PCCh e a cultura tradicional chinesa.

Muitas pessoas que abandonam o partido e suas organizações afiliadas dizem que o fazem para se libertar do controle do PCCh e evitar serem consideradas cúmplices caso o partido seja responsabilizado por seus crimes na China ou fora dela.

“Há um problema moral”, disse Tozzi ao Epoch Times após o fórum. “Você responde a isso retirando seu consentimento. Você não consente com isso”.

O ato de se desvincular do PCCh, ou tuidang em chinês, é uma “escolha ativa de resistência passiva”, afirmou Tozzi aos participantes do fórum.

O taoismo, uma crença milenar da China, ensina o conceito de wu wei, que sugere deixar as coisas seguirem seu curso natural, sem muita intenção ou intervenção.

“Alguns de nós que estudamos artes marciais estamos familiarizados com o princípio de wu wei“, ele disse. “Quando você enfrenta uma força superior, em vez de enfrentá-la diretamente e ser esmagado, você cede”.

Como um ato de resistência passiva, o movimento tuidang é “muito difícil de controlar e combater” e tem um “impacto tremendo”, afirmou Tozzi após o evento.

John Lenczowski, ex-assessor principal de assuntos soviéticos do presidente Ronald Reagan, disse ao Epoch Times após o fórum: “Mesmo que as pessoas não sejam ideologicamente conscientes, elas têm um senso cultural mais profundo de que há algo errado com a tirania comunista”.

Lenczowski, fundador do Institute of World Politics, uma escola de pós-graduação com sede em Washington, acrescentou que, mesmo durante o domínio imperial, as dinastias chinesas não exerciam o poder estatal ilimitado que o PCCh detém atualmente.

No fórum, ele afirmou que o “centro de gravidade” do PCCh, sem o qual o partido talvez nem sobreviva, é seu sistema interno de segurança, cujo núcleo é a “combinação de monopólio de informações e comunicação com a linha ideológica do partido”.

Ele explicou que a estratégia psicológica do PCCh submete as pessoas à “aceitação fatalista” de que qualquer resistência seria fútil e sem esperança. Portanto, decisões individuais, que as pessoas podem tomar ao romper com a mentalidade comunista, são eficazes para desmantelar o controle.

Lenczowski fez uma analogia com recifes de coral, que deixam de existir quando os organismos que os sustentam saem ou morrem.

O tuidang, um “ato de dissociação individual do Estado-partido”, ajuda a “desmantelar esse recife”, disse ele.

Em sua opinião, as alegações do PCCh de adicionar “características chinesas” ao marxismo e leninismo são “um grande absurdo”; o comunismo é uma “importação ocidental” completamente incompatível com a cultura chinesa. Existe na China uma “guerra de ideias” entre o comunismo e “elementos da cultura tradicional chinesa e suas fundações religiosas”, acrescentou.

Robert Destro, professor de direito da Catholic University of America e ex-secretário assistente de Estado para democracia, direitos humanos e trabalho, disse à audiência do fórum que o tuidang é a forma de confrontar o PCCh, que trata o povo chinês como “mercadorias”.

“Precisamos ser realistas e entender que estamos lidando com uma forma de guerra espiritual”, afirmou. “A menos que a entendamos dessa forma, não saberemos como nos preparar”.


John Lenczowski, fundador e presidente do The Institute of World Politics, fala em um evento “Celebrando 440 milhões de pessoas que renunciaram ao Partido Comunista Chinês” no Capitólio, em Washington, em 22 de novembro de 2024. Samira Bouaou/Epoch Times

“Deixe o Partido cair”

Foi com o espírito das artes marciais chinesas que Tozzi afirmou que o mundo ocidental deveria deixar o movimento tuidang seguir seu curso e “não subsidiar a tirania” enquanto isso.

“Deixe o Partido cair”, disse ele.

Tozzi criticou o governo do presidente George H.W. Bush por enviar o conselheiro de segurança nacional Brent Scowcroft a Pequim e ajudar o PCCh a estabilizar seu poder após reprimir brutalmente as manifestações pró-democracia dos estudantes chineses, matando-os na Praça da Paz Celestial em junho de 1989.

“Nunca mais deveríamos apoiar o partido comunista contra o povo chinês. Nunca mais”, afirmou Tozzi.

“E se permitirmos que o partido caia, permitiremos que o povo chinês se reergua”, acrescentou.

“Então, e somente então, sem o Partido Comunista Chinês, veremos um verdadeiro rejuvenescimento do povo chinês”.

Nury Turkel, pesquisador sênior do Hudson Institute, um think tank com sede em Washington, e ex-presidente da Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional, classificou o movimento tuidang como “algo muito significativo, verdadeiramente notável, que mais de 400 milhões de pessoas tenham deixado ou decidido se desvincular do PCCh”.

“Isso não é apenas um número”, disse ele, lembrando à audiência dos riscos que as pessoas enfrentam ao tomar a “decisão significativa” de denunciar o Partido.

Muitos americanos não entendem o quanto o PCCh controla o povo chinês, afirmou Turkel.

“O PCCh decide tudo” na China, disse ele, frequentemente submetendo as pessoas a “maus-tratos, punições ou punições coletivas”.


Nury Turkel, pesquisador sênior do Instituto Hudson, fala em um evento “Celebrando 440 milhões de pessoas que renunciaram ao Partido Comunista Chinês” no Capitólio, em Washington, em 22 de novembro de 2024. Samira Bouaou/Epoch Times

O jornalista Kim Se Hoon foi mais longe.

Ele disse que o mundo está “sob o controle do PCCh de alguma forma”, seja através da Iniciativa do Cinturão e Rota, a plataforma de influência geopolítica do Partido posicionada como investimentos globais em infraestrutura, ou salas de aula nas quais o ensino da língua chinesa está incorporado nas doutrinas do PCCh.

Kim disse que quando as pessoas perceberem a verdadeira situação, não separarão mais as questões de direitos humanos da defesa e do comércio.