Crime violento aleatório na China expõe falhas institucionais do PCCh, afirma especialistas

O ativista dos direitos humanos Li Yingzhi referiu-se a um ditado do sábio chinês Lao Tzu: “Se as pessoas não temem a morte, de que adianta ameaçá-las de morte?”.

Por Cindy Li
20/12/2024 15:48 Atualizado: 20/12/2024 15:48
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Análise de notícias

Em um período de nove dias em novembro, pelo menos três episódios de violência em massa—dois deles fatais—ocorreram na China. Segundo a mídia estatal, 43 pessoas morreram nos ataques.

Esses incidentes seguiram pelo menos 18 outros ataques violentos reportados este ano, incluindo três direcionados a cidadãos americanos e japoneses.

Após os ataques, as autoridades locais foram instruídas a monitorar de perto indivíduos que não possuem família ou bens.

De acordo com especialistas em China, os ataques expuseram falhas institucionais do regime comunista, e pressionar pessoas que não têm nada a perder provavelmente levará a novos episódios de violência.

No dia 11 de novembro, um homem identificado pelo sobrenome Fan atropelou dezenas de pessoas com um SUV enquanto elas se exercitavam em um centro esportivo na cidade costeira de Zhuhai, na província de Guangdong. Segundo as autoridades, 35 pessoas morreram e outras 43 ficaram hospitalizadas.

O incidente ocorreu um dia antes da Exposição Internacional de Aviação e Aeroespacial da China, um dos maiores eventos civis e militares do país. Antes de eventos importantes como esse, as autoridades chinesas geralmente aumentam a presença policial e intensificam as medidas de segurança.

A investigação preliminar da polícia determinou que o motivo de Fan provavelmente estava relacionado à sua insatisfação com a divisão de bens financeiros em seu recente divórcio.

No entanto, o público permaneceu cético, já que a polícia de Zhuhai posteriormente apagou referências ao processo de divórcio em seu relatório. Além disso, o incidente ocorreu perto do Tribunal Intermediário de Zhuhai, em uma área composta majoritariamente por residências de funcionários públicos e suas famílias, reforçando a crença popular de que Fan buscava vingança por injustiças no sistema judicial.

Algumas testemunhas do incidente também duvidaram do número oficial de vítimas, mas comentários online foram rapidamente censurados, e poucos detalhes adicionais foram divulgados pela polícia ou pela mídia.

Em 16 de novembro, um homem atacou pessoas aleatoriamente com uma faca em uma escola na cidade de Yixing, na província de Jiangsu, resultando em oito mortes e 17 feridos.

Em 19 de novembro, um motorista lançou seu veículo contra uma multidão em frente a uma escola primária na cidade de Changde, na província de Hunan, ferindo um número não especificado de pessoas.

Li Yingzhi, um ativista de direitos humanos exilado e acadêmico, atribuiu a motivação por trás de ataques indiscriminados ao desespero das pessoas.

“Logicamente, se alguém tem uma queixa, deveria direcioná-la à pessoa responsável. Mas talvez ele nem consiga encontrar essa pessoa”, disse Li ao Epoch Times. “Por que recorrer ao assassinato de pessoas inocentes? Porque ele chegou a um completo desespero e não quer mais viver”.

Li acredita que a causa raiz está nas falhas sistêmicas da sociedade chinesa sob a governança centralizada do Partido Comunista Chinês (PCCh).

“Primeiro, há a repressão à liberdade de expressão e a falta de liberdade de imprensa. Segundo, o sistema de petições é ineficaz. Terceiro, o judiciário não funciona adequadamente. Esses são problemas sistêmicos”, afirmou. “Se houvesse canais eficazes para resolver problemas, isso não teria chegado a esse ponto”.

Autoridades aumentam a supressão em resposta

Vale destacar que as autoridades do PCCh afirmaram que tais ataques são incidentes “isolados”. Discussões domésticas foram suprimidas, e informações e debates em tempo real foram rapidamente apagados das redes sociais de língua chinesa.

Um profissional da mídia na China confirmou ao China Digital Times que uma proibição de reportagens foi imposta apenas duas horas após o incidente de atropelamento em Zhuhai.

No dia seguinte ao ataque em Zhuhai, o líder do PCCh, Xi Jinping, emitiu uma rara diretiva, pedindo “o fortalecimento da prevenção de riscos na origem, a resolução oportuna de disputas e a prevenção rigorosa de incidentes extremos”.

Em resposta a esses episódios, o Ministério da Segurança Pública e a Suprema Procuradoria Popular realizaram reuniões, prometendo “reforçar a prevenção de riscos na origem e reprimir rigorosamente crimes graves de acordo com as leis”, segundo a mídia estatal.

Xi Jinping inspects People's Liberation Army soldiers at a barracks in Hong Kong on June 30, 2017. (Dale de la Rey/AFP via Getty Images)
Xi Jinping inspeciona soldados do Exército de Libertação Popular em um quartel em Hong Kong, em 30 de junho de 2017 (Dale de la Rey/AFP via Getty Images)

Li descartou essas medidas como inúteis.

“Esses perpetradores já não desejam viver. Usar leis severas e draconianas para dissuadi-los—isso não parece absurdo?” questionou ele, referindo-se a um ditado do antigo sábio chinês Lao Tzu: “Se as pessoas não temem a morte, que utilidade há em ameaçá-las com a morte?”

Wu Zuolai, um estudioso e comentarista radicado nos Estados Unidos, acredita que as autoridades não têm uma solução real para esses incidentes e descartou como palavras vazias o apelo de Xi para resolver o problema “na origem”, ou seja, abordar os conflitos nas comunidades locais.

“Muitos desses conflitos são causados pelos próprios governos locais, então como os criadores do problema também podem ser os solucionadores do problema?” disse ele ao Epoch Times.

Wu afirmou que o sistema judicial e a mídia deveriam ajudar a tratar as queixas da população. No entanto, advogados de direitos humanos estão proibidos de defender seus clientes, e o jornalismo investigativo continua sendo uma profissão de alto risco na China.

“Alguns jornalistas foram para a linha de frente para relatar os fatos e foram espancados quase até a morte. É realmente de partir o coração ver isso”, disse ele. “O governo não permite mais forças intermediárias, não permite a existência da sociedade civil, nem autoriza organizações sociais independentes a resolverem problemas”.

Os recentes ataques aleatórios ocorrem em meio a uma crise econômica na China, com altas taxas de desemprego juvenil.

Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, em outubro, a taxa de desemprego urbano na faixa etária de 16 a 24 anos, excluindo estudantes, era de 17,1%.

Em julho, a edição chinesa do Epoch Times entrevistou um ex-funcionário público recentemente emigrado da China, que afirmou que os governos locais estavam inflando as estatísticas de emprego juvenil para atender às demandas de seus superiores.

Em comparação, a taxa de desemprego juvenil nos Estados Unidos foi de 9,8% em julho, enquanto na União Europeia a taxa ficou em 15,3% em setembro, segundo estatísticas divulgadas pelo Departamento de Trabalho dos EUA e pela Comissão Europeia.

Hu Liren, um dos pioneiros da indústria de internet na China, acredita que a crise econômica no país levou a uma crise social, na qual indivíduos sem esperança recorrem a ataques aleatórios como forma de vingança contra a sociedade.

“A economia chinesa entrou em colapso completo”, disse ele ao Epoch Times. “A corrupção em todo o sistema ao longo dos anos e a exploração do povo pela burocracia levaram a um sofrimento generalizado. Todos sentem que não há saída”.

Hu, que é de Xangai e possui muitos amigos empreendedores e financistas, afirmou que até mesmo muitas empresas do nível dele não conseguem mais sobreviver.

“Não só as empresas entraram em colapso, mas algumas também estão profundamente endividadas. Alguns dos meus amigos já fugiram para o exterior”, disse ele.

“Agora que o país chegou a esse ponto, todos estão experimentando um pânico tremendo, então estamos em um ciclo vicioso.

“A palavra ‘colapso’ é muito adequada para descrever o estado atual da sociedade. É por isso que esses incidentes maliciosos começaram a explodir”.

Lily Zhou e Yi Ru contribuíram para este artigo.