Corrupção, fraude e mineração de ouro andam de mãos dadas na China

27/11/2017 21:49 Atualizado: 27/11/2017 21:49

Na província de Liaoning, uma mina de ouro com uma reserva de cerca de 0,2 tonelada foi vendida para uma companhia estatal por um preço equivalente a sete toneladas.

Em 21 de novembro, o jornal estatal chinês Procuratorial Daily anunciou o resultado parcial de uma investigação de corrupção em curso em quatro entidades: a empresa de mineração estatal, a Companhia Grupo Nacional de Ouro da China e sua filial na província de Liaoning; a agência de ouro do governo provincial de Liaoning; uma equipe de geologia sob a supervisão das autoridades de Liaoning; e a Mina de Ouro Jintai-Hongqi e seus antigos proprietários.

A corrupção veio à tona depois que a Mina de Ouro Jintai-Hongqi foi esgotada em maio de 2013 e apenas 0,2 tonelada de ouro foi extraída. A equipe de geologia de Liaoning avaliou que a mina, localizada no condado de Jianchang, no sudoeste da província, continha uma reserva de sete toneladas.

Uma investigação do Ministério Público de Liaoning descobriu que os proprietários privados da Mina de Ouro Jintai-Hongqi tinham subornado funcionários da agência de ouro da província, funcionários encarregados da equipe de geologia e altos executivos da Companhia Grupo Nacional de Ouro da China (CGNOC) para vender a mina a um preço inflacionado baseado num estudo de reserva de ouro superestimado. Li Wei e Guo Yuru, proprietários da mina de ouro, venderam para a empresa estatal CGNOC por 360 milhões de yuanes (cerca de US$ 54,5 milhões) em janeiro de 2012.

Para tornar a transação possível, Li Wei primeiro pagou 20 mil yuanes (cerca de US$ 3.031) em suborno a Zhang Fuhe, o diretor de seção da equipe de geologia que liderou o estudo de avaliação da mina de ouro em 2009. Zhang Fuhe, em troca, ordenou que os próprios engenheiros não entrassem na mina, mas que apenas lhes fossem entregues amostras de minério da mina a cada dois ou três dias.

O que os engenheiros de Zhang Fuhe receberam foram amostras de minério que havia sido polvilhado com pó de ouro por Li Wei, um truque que permitiu que o minério apresentasse maior rendimento de ouro quando testado em laboratório.

Um artesão exibe uma barra de ouro gravada com a imagem de um rato, numa oficina na cidade de Chongqing, China, em 2 de fevereiro de 2008 (China Photos/Getty Images)
Um artesão exibe uma barra de ouro gravada com a imagem de um rato, numa oficina na cidade de Chongqing, China, em 2 de fevereiro de 2008 (China Photos/Getty Images)

Para silenciar qualquer um que pudesse desconfiar dos resultados do estudo do minério adulterado, Li Wei também pagou 20 mil yuanes a outras três pessoas: o técnico que escreveu o estudo de avaliação; Qi Hong, o diretor da 11ª equipe de geologia; e Ding Yan, o vice-engenheiro-chefe.

Outras investigações revelaram que a empresa de Liaoning não teve a última palavra na aquisição da mina de ouro. Na verdade, a decisão final veio da empresa-mãe, a Companhia Grupo Nacional de Ouro da China, e de Sun Zhaoxue, o ex-CEO da empresa, que aceitou um suborno de 11,5 milhões de yuanes (cerca de US$ 1,7 milhão) de Li Wei.

Sun Zhaoxue, depois de saber que o Ministério Público havia iniciado uma investigação anticorrupção, pediu a Li Wei que preparasse 10 milhões de yuanes (cerca de US$ 1,5 milhão) em suborno; dinheiro que Sun Zhaoxue usaria para subornar outros funcionários para bloquear a investigação.

A venda também exigiu a aprovação da agência de ouro de Liaoning. A investigação descobriu que o Sr. Wang e o Sr. Liu, ex-diretor e vice-diretor da agência, aceitaram um suborno de 9 milhões de yuanes (cerca de US$ 1,36 milhão) de Li Wei.

Após ser submetido a uma investigação em setembro de 2014 pelo Comitê Central de Inspeção Disciplinar, o principal órgão de vigilância anticorrupção do Partido Comunista Chinês, Sun Zhaoxue foi condenado a 16 anos de prisão por acusações de suborno em dezembro de 2016. Seus bens, no valor de 3,5 milhões de yuanes (cerca de US$ 530.206), também foram confiscados.

Em fevereiro deste ano, Li Wei foi condenado a dois anos de prisão e a uma multa de 15 milhões de yuanes (cerca de US$ 2,27 milhões); 34 outros suspeitos estão sendo investigados.

No Weibo, um serviço popular de microblogue na China, alguns reagiram com indignação, enquanto outros consideraram a notícia como algo esperado.

Um internauta da província de Anhui comentou sobre Sun Zhaoxue, escrevendo: “Ele recebeu 11,5 milhões de yuanes em subornos, dos quais 3,5 milhões foram confiscados… Eu não entendo. Então, isso significa que os 8 milhões de yuanes restantes são para seu fundo de aposentadoria?”

Um internauta identificado como “SoLetitrain” da província de Shandong escreveu: “Todos vocês, não entrem em pânico. Esta é a China.”

Um internauta da província de Shanxi escreveu: “Hahaha, notícias como essa realmente acontecem em muitos lugares diferentes todos os dias. Eles simplesmente tiveram má sorte desta vez e foram pegos. Aqueles que não foram pegos ficaram ricos.”