A corrida chinesa para dominar a inteligência artificial

A IA oferece às autoridades a tentação do controle totalitário sobre o seu povo como nunca antes

07/02/2019 21:03 Atualizado: 07/02/2019 21:03

Por James Gorrie

Qual é a motivação por trás do forte investimento chinês em inteligência artificial (IA)?

Pode soar como uma pergunta complicada, mas considerar como a liderança chinesa faz uso da tecnologia, incluindo a IA, para reprimir seu próprio povo até um grau extremo, é uma questão legítima. Será que o maior medo da China é realmente receber um alerta de “falso negativo”, a falha em detectar um ataque “caído do céu” enviado pelos Estados Unidos?

Considerando as formidáveis capacidades dos mísseis balísticos intercontinentais nucleares da China, bem como outros aspectos de seu poderio militar, esse medo simplesmente não faz sentido.

Em vista dessas realidades, em que consiste a insistência chinesa em usar a IA?

Ruptura da China com o passado

Quer se trate de políticas econômicas, desenvolvimento de infraestrutura ou treinamento militar, a liderança chinesa sempre esteve envolvida no planejamento de longo prazo. Na esfera econômica, o país está fazendo um grande esforço para romper com seu papel de fornecedor de mão de obra de baixo custo para o mundo, tornando-se líder mundial em tecnologia. Isso é algo muito importante.

Mas executar esses planos não é fácil, e as coisas nem sempre acontecem como o esperado. Por exemplo, os custos de produção e mão-de-obra não são tão baixos quanto antes. Isso faz com que os custos de fabricação da China sejam mais altos do que os de concorrentes como a Coreia do Sul. Além disso, a eficiência de valor agregado chinês continua bem abaixo dos padrões globais, assim como sua alta taxa de consumo de recursos. A China também desperdiça enormes quantidades de matérias-primas em seus processos de produção que ainda não conseguiu melhorar.

Dito isto, os líderes chineses sabem que não importa quão grande seja sua economia, eles não podem ser uma superpotência sem possuir sua própria base tecnológica. Essa é a ideia por trás do plano de 10 anos “Made in China 2025” do gigante comunista, que foi lançado em 2015.

Os números variam quanto aos custos projetados, mas algumas estimativas indicam que a China acabará gastando cerca de 300 bilhões de dólares. Os objetivos são claros: a liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) quer transformar a base manufatureira da China, passando da construção de produtos de alta tecnologia de outros países para a construção de seu próprio setor de tecnologia. Eles planejam eliminar qualquer dependência de tecnologia estrangeira. Considerando tudo isso, pode-se dizer que eles estão a caminho.

Devemos nos preocupar? Sim, devemos.

O objetivo dos chineses não é apenas serem competitivos em todo o mundo, tendo em vista que já alcançaram esse objetivo. Também não se trata de produzir artefatos geniais. O PCC aspira à dominação mundial, buscando nada menos que a hegemonia global, o que inclui deixar de fora países como a Alemanha, o Japão e até mesmo os Estados Unidos. Essas áreas tecnológicas incluem robótica, veículos autônomos e elétricos, biotecnologia, aviação e IA.

Todas essas tecnologias serão importantes, é claro, mas a IA terá um papel especial no domínio global planejado pela China em um futuro não muito distante. É claro que, no recente Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, a liderança do PCC enfatizou que quer expandir a economia chinesa de uma maneira “complementar” à ordem mundial existente. Algo difícil de acreditar.

Sejamos claros: a corrida para dominar a IA é, na verdade, uma corrida armamentista. A negação chinesa seria risível se não fosse tão ameaçadora. Como o líder russo Vladimir Putin apontou em 2017, “o futuro pertence à inteligência artificial” e quem dominá-la primeiro, governará o mundo.

Aplicações ilimitadas

Na verdade, este é precisamente o caso. As aplicações da IA no setor militar e de defesa são praticamente ilimitadas, desde máquinas de guerra autônomas do tipo “Exterminador” até computadores autodeterminados que podem decidir lançar um ataque nuclear sem supervisão humana. Mas essas aplicações militares desagradáveis são apenas o começo.

As aplicações da IA em outras e em todas as áreas da vida são praticamente infinitas. Para ter uma ideia de como a IA impactará nosso mundo, pense em como a internet das coisas mudou a forma como cada dispositivo eletrônico é conectado digitalmente e pode ser controlado remotamente pela internet. Não há literalmente nenhum limite para a IA.

A desvantagem? Este novo nível de sofisticação oferece níveis de vigilância sem precedentes sobre populações inteiras. Em suma, a IA oferece às autoridades a tentação do controle totalitário sobre o seu povo como nunca antes. Como qualquer nova tecnologia, o que importa é saber como usá-la.

Naturalmente, a China conhece as possíveis aplicações totalitárias da IA tão bem como qualquer outra pessoa. O regime chinês utiliza aspectos da IA e outras tecnologias no seu sistema de “Crédito Social”. Sua aplicação da IA e outras tecnologias “inteligentes” permite que as autoridades chinesas controlem as informações pessoais dos cidadãos, seu histórico de comportamento, suas preferências pessoais e seus hábitos, desde características pessoais como consumo de álcool e condições físicas, até o número de multas de trânsito não pagas que possam ter e, é claro, as opiniões contrarrevolucionárias que possam ter expressado.

Todos esses dados são usados para recompensar ou punir pessoas sem aviso prévio. É possível que, de repente, alguém descubra que sua conta bancária foi bloqueada, que sua passagem de avião para o exterior foi cancelada ou, o que é muito pior, ser repentinamente preso e levado para um centro de detenção em algum lugar, tudo devido ao seu crédito social insuficiente. Esse crédito social é determinado por algoritmos encomendados e controlados pelo regime comunista do PCC.

Esses abusos são apenas alguns dos muitos que os líderes chineses impõem hoje ao seu próprio povo. Imagine como os estrangeiros seriam tratados pelos seus mestres chineses!

Aviso para o mundo

Expressar preocupação com as potenciais capacidades e intenções da China não é alarmismo, nem mesmo ser anti-chinês. É simplesmente um reconhecimento dos fatos e um reconhecimento da história, do temperamento e dos objetivos declarados do atual regime brutal dos líderes chineses. George Soros concorda com isso.

Como potência econômica e militar mundial de primeira ordem, se a China dominar a IA em suas aplicações militares e alcançar uma posição de superioridade sobre o Ocidente — e em particular sobre os Estados Unidos — ameaçará todo o sistema mundial de comércio, finanças e liberdade. A era clássica do comércio liberal no mundo provavelmente deixará de existir.

James Gorrie é escritor radicado no Texas. Ele é autor de “A Crise da China”

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