A corrida armamentista do regime chinês para alcançar supremacia naval

23/01/2018 22:06 Atualizado: 23/01/2018 22:06

O regime chinês tem desafiado a supremacia militar dos Estados Unidos durante anos com o crescimento de suas forças militares. A construção de múltiplos grandes cruzadores navais de alta tecnologia pode sinalizar uma alteração do equilíbrio de poder nas águas asiáticas e o presságio da crescente concorrência global entre os dois poderes navais.

A produção em massa de projetos avançados de navios de guerra, que era apenas um tema de especulação entre analistas até o ano de 2017, está sendo promovida a toda velocidade. Cerca de oito novos navios estão sendo construídos pelo regime chinês enquanto a Marinha dos EUA sequer tem um plano viável para substituir qualquer um dos seus 22 cruzadores existentes, que já têm décadas de vida.

A Marinha do Exército da Libertação Popular (MELP) da China oficialmente se refere ao seu navio de guerra avançado do tipo 055 apenas como um “contratorpedeiro”. No entanto, o Departamento de Defesa dos EUA e um relatório recente do Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS, na sigla em inglês) classificaram o navio de guerra de 13 mil toneladas como um “cruzador”, provavelmente devido ao seu grande tamanho e extenso arsenal de armas.

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O primeiro navio do tipo 055 começou a ser construído no Estaleiro Jiangnan em Xangai e foi lançado (o que significa que o navio foi colocado na água para o estágio final da construção) em 28 de junho de 2017. A partir de janeiro de 2018, pelo menos outros quatro novos navios do tipo 055 , dois no Estaleiro Jiangnan e outros dois no Estaleiro de Dalian, na província de Liaoning, estão confirmados para construção, pois são visíveis em imagens de satélite. Um deles está quase pronto para ser lançado.

A rapidez com que a China se comprometeu a produzir novos navios de guerra do tipo 055 mostrou-se como uma surpresa para observadores militares internacionais no ano de 2017, já que inicialmente se pensava que o projeto ainda era experimental e levaria mais tempo para amadurecer.

No entanto, já em fevereiro de 2017, reportagens da mídia chinesa citando fontes não identificadas previram que a China lançaria rapidamente pelo menos 8 navios do tipo 055 no primeiro lote de produção de 2017 a 2018, uma previsão que mostrou ser bastante precisa e consistente com os últimos relatos a respeito.

China, poder naval, corrida armamentista, EUA - Começando em 2017, a China está produzindo em massa vários de seus avançados cruzadores do tipo 055. O Estaleiro de Dalian, um dos dois principais estaleiros navais da China, tem se mobilizado para a construção de dois cruzadores do tipo 055 (Global Security)
Começando em 2017, a China está produzindo em massa vários de seus avançados cruzadores do tipo 055. O Estaleiro de Dalian, um dos dois principais estaleiros navais da China, tem se mobilizado para a construção de dois cruzadores do tipo 055 (Global Security)

Sendo os principais navios de guerra de superfície da frota da MELP, os tipos 055 deverão ser parte integral dos futuros grupos de batalha de porta-aviões da China, ao lado dos pequenos contratorpedeiros do tipo 052D e das fragatas 054A. Essas últimas duas classes de navios de guerra também foram produzidas em grande número nos últimos anos.

Há também relatos de que a China não apenas está planejando construir porta-aviões de propulsão nuclear após seus dois ou três primeiros porta-aviões de propulsão convencionalmente, mas também está planejando construir versões nucleares de navios de guerra como o cruzador do tipo 055. Isso proporcionaria à frota da MELP um alcance global que seria muito menos dependente de bases estrangeiras, disse Richard Fisher, membro sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia.

China 8, Estados Unidos 0

O cruzador do tipo 055 está equipado com os sensores e armas mais recentes e mais capazes que a indústria militar chinesa pode produzir. O navio de guerra de 13 mil toneladas possui um avançado sistema de radar em fase ativa que pode detectar alvos aéreos à distância e está armado com pelo menos 112 tubos de células de sistema de lançamento vertical (SLV) que contêm uma variedade de mísseis de cruzeiro antiaéreo, antinavio e antissuperfície.

Em comparação, os cruzadores da classe Ticonderoga da Marinha dos Estados Unidos e os contratorpedeiros da classe Arleigh Burke (comumente designados como navios de guerra Aegis da Marinha dos EUA) suportam cada um cerca de 10,1 mil toneladas e 9,3 mil toneladas e carregam 122 e 96 tubos de células SLV, respectivamente.

Enquanto a China está construindo simultaneamente pelo menos 5 e possivelmente até 8 cruzadores do tipo 055, a Marinha dos EUA não tem nenhum plano para substituir qualquer um dos seus antigos 22 cruzadores da classe Ticonderoga. Eles foram construídos há mais de duas décadas desde os anos 80 até os anos 90 e ainda são os principais navios de guerra de superfície que protegem os porta-aviões da Marinha dos Estados Unidos hoje.

China, poder naval, corrida armamentista, EUA - O cruzador USS Shiloh da classe Ticonderoga na Baía de Sagami, no Japão, em 14 de outubro de 2012 (Kazuhiro Nogik/AFP/GettyImages)
O cruzador USS Shiloh da classe Ticonderoga na Baía de Sagami, no Japão, em 14 de outubro de 2012 (Kazuhiro Nogik/AFP/GettyImages)

O substituto da classe Ticonderoga, o programa Cruzador de Nova Geração ou CG(X), foi cancelado em 2010 pela gestão Obama, que culpou os cortes orçamentários além de outros motivos. A falta de novos cruzadores significa que a Marinha dos Estados Unidos pode em breve ser forçada a depender dos menores e menos armados contratorpedeiros da classe Arleigh Burke para proteger seus porta-aviões críticos e frotas quando os cruzadores da classe Ticonderoga forem aposentados.

Embora a Marinha dos EUA tenha reiniciado a produção de um novo lote de contratorpedeiros da classe Arleigh Burke, um novo relatório do CRS diz que a construção naval dos EUA já está ficando para trás da China, e essa defasagem vem crescendo rapidamente nos últimos anos.

As restrições e instabilidade dos orçamentos do governo federal dos EUA não só impediram a construção de novos navios de guerra, mas também criaram problemas no treinamento e manutenção da frota. Esses déficits já foram culpados por causarem dois incidentes mortais separados em 2017, quando contratorpedeiros Aegis da Marinha dos EUA colidiram com embarcações comerciais.

China, poder naval, corrida armamentista, EUA - A Marinha dos Estados Unidos ainda não possui um plano viável para substituir seus antigos 22 cruzadores da classe Ticonderoga (CG-47, mostrado em verde), que deverão ser retirados do serviço gradualmente nos próximos anos (Plano de Construção Naval do Ano Fiscal de 2017, publicado pelo Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA)
A Marinha dos Estados Unidos ainda não possui um plano viável para substituir seus antigos 22 cruzadores da classe Ticonderoga (CG-47, mostrado em verde), que deverão ser retirados do serviço gradualmente nos próximos anos (Plano de Construção Naval do Ano Fiscal de 2017, publicado pelo Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA)

Por outro lado, a crescente frota de superfície da MELP está prevista para alterar o equilíbrio naval na Ásia marítima, disse um relatório de 2017 de coautoria de James R. Holmes, do Colégio Naval de Guerra dos EUA, e de Toshi Yoshihara, um membro sênior do Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias. O relatório disse que a rápida produção chinesa de avançados navios de guerra nos últimos anos, como os cruzadores do tipo 055, não é uma coincidência e quase certamente foi “projetado, desenvolvido e orquestrado” com muitos anos de antecedência.

O atraso no avanço dos EUA em resposta à China, segundo o relatório, poderia abrir uma zona de perigo na qual Pequim se sentiria tentada a atacar antes que sua nova vantagem desvanecesse. Isso ocorre porque o regime chinês pode fazer um cálculo do tipo “agora ou nunca” em antecipação a um eventual rearmamento dos EUA, semelhante à decisão que o Japão imperial tomou contra o rival imperador russo em 1904 ou contra os Estados Unidos em 1941 no ataque a Pearl Harbor.

“A China estabeleceu as bases para uma competição que será medida em décadas”, escreveram Holmes e Yoshihara. “Os Estados Unidos e seus aliados devem aceitar a realidade: enfrentar uma rivalidade em longo prazo contra um competidor forte, determinado e imaginativo.”

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