Congressistas dos EUA pedem que Facebook seja investigado por entregar dados de usuários para empresas chinesas

13/06/2018 13:58 Atualizado: 13/06/2018 13:58

Por Annie Wu, Epoch Times

Depois que o Facebook admitiu, em 5 de junho, ter compartilhado dados de usuários com quatro empresas de tecnologia chinesa, parlamentares norte-americanos estão pressionando para que o gigante das redes sociais explique melhor essas parcerias.

As quatro empresas — e em especial a Huawei, considerada uma ameaça por agências de vigilância e segurança dos Estados Unidos — foram submetidas a escrutínio. As outras três são a fabricante de computadores Lenovo e as fabricantes de celulares Oppo e TCL.

As empresas chinesas estão entre as 60 empresas ao redor do mundo que tiveram acesso aos dados de usuários depois de ter assinado contratos com o Facebook para recriar experiências para usuários.

Mark Warner, senador democrata pela Virgínia e presidente da Comissão de Inteligência do Senado, exigiu que o Facebook publicasse mais informações sobre tal colaboração. “A notícia de que o Facebook concedeu acesso privilegiado à API [interface pública da aplicação, um conjunto de protocolos para desenvolver software] do Facebook para empresas chinesas como Huawei e TCL causa legítima preocupação”, disse Warner em uma declaração.

Enquanto isso, a Comissão de Comércio, Ciência e Transporte do Senado pressionou o Facebook para que forneça mais informações em uma carta publicada em 5 de junho.

Os líderes da Comissão de Comércio e Energia da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos demonstraram a preocupação de que o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, não tenha sido totalmente sincero quando testemunhou frente ao Congresso em abril, uma vez que ele não falou sobre o relacionamento com as empresas chinesas.

“Certamente, os acordos com empresas chinesas de tecnologia e outras deveriam ter sido revelados ao Congresso e ao povo norte-americano”, disseram em uma declaração conjunta Greg Walden, republicano pelo Oregon e presidente da Comissão, e Frank Pallone, democrata por Nova Jersey.

Página web da versão chinesa do Facebook em uma tela de computador em Hong Kong, em 2 de fevereiro de 2012 (Aaron Tam/AFP/Getty Images)
Página web da versão chinesa do Facebook em uma tela de computador em Hong Kong, em 2 de fevereiro de 2012 (Aaron Tam/AFP/Getty Images)

Facebook respondeu que esses contratos são prática comum da indústria para que as pessoas possam ter acesso aos serviços do Facebook quando compram dispositivos eletrônicos.

A companhia também disse que tem controle sobre como os dados são compartilhados e que outras empresas de tecnologia possuem arranjos similares com companhias dos Estados Unidos e da China.

Francisco Varela, vice-presidente do Facebook, garantiu aos clientes em 5 de junho que as informações ficaram armazenadas nos dispositivos, e não nos servidores da empresa Huawei. Facebook está atualmente proibido na China, mas fez propostas recentes para entrar no mercado chinês.

Huawei afirmou que “como todos os fabricantes de smartphones, a Huawei trabalhou com o Facebook para tornar o serviço Facebook mais conveniente para seus usuários. Huawei nunca coletou ou guardou dados de usuários do Facebook”.

Perigos da Hawei e da Lenovo

A Huawei já constava da lista das autoridades norte-americanas. Em fevereiro, agências de inteligência dos Estados Unidos advertiram para que não se utilizassem telefones da Huawei. Depois, em abril, surgiram notícias de que promotores norte-americanos estavam investigando a empresa chinesa por causa de uma possível violação das sanções dos Estados Unidos contra o Irã. Em maio, bases militares confiscaram telefones Huawei das lojas para evitar expor oficiais militares norte-americanos. O Pentágono manifestou a preocupação de que os telefones pudessem ser usados para espionar os soldados americanos.

O Senador Marco Rubio também aprovou uma legislação que proíbe o governo dos Estados Unidos ou empresas contratadas de comprar equipamentos ou adquirir serviços da Huawei e ZTE, outra importante empresa chinesa de telecomunicações recentemente criticada por infringir termos de um acordo americano que a penalizava por uma violação anterior de sanções dos Estados Unidos.

O CEO da Huawei, Ren Zhengfei, possui laços estreitos com o exército chinês. Os detalhes foram delineados em um relatório de 2012 compilado pela Comissão Seleta Permanente de Inteligência do Congresso.

Lenovo também representa uma ameaça à segurança nacional, segundo avaliação da Tecnologia, Informação e Sistemas de Comunicações do governo federal, publicada em abril pela Comissão Revisora Econômica de Segurança, uma comissão bicameral entre China e Estados Unidos.

Clientes chineses testam computadores em uma loja da Lenovo em Hangzhou, província de Zhejiang, em 2 de fevereiro de 2014 (Str/AFP/Getty Images)
Clientes chineses testam computadores em uma loja da Lenovo em Hangzhou, província de Zhejiang, em 2 de fevereiro de 2014 (Str/AFP/Getty Images)

Lenovo, Huawei e ZTE foram mencionadas no relatório como entidades que receberam apoio financeiro do regime chinês ou que praticaram espionagem corporativa a pedido da China.

O regime chinês é acionista majoritário da Lenovo através da Legend Holdings, uma empresa de investimentos que conta, como acionista controlador, com a Academia Chinesa de Ciências, um instituto de pesquisa estatal.

De acordo com o relatório, produtos da Lenovo foram banidos por agências de inteligência nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido, conhecidos como os “cinco olhos” desde meados de 2000, depois que agências de inteligência britânicas descobriram a existência de um backdoor em produtos Lenovo.

Em 2006, quando o governo dos Estados Unidos comprou 16 mil computadores Lenovo, o Departamento de Estado determinou que os computadores só poderiam ser usados em sistemas não-confidenciais. Em seguida, em 2015, depois que a Lenovo adquiriu o ramo de servidores x86 da IBM, a Marinha norte-americana anunciou que iria substituir os servidores de seus mísseis de cruzador e destroyers “devido à preocupação de que o equipamento pudesse ser interferido durante a manutenção ou remotamente acessado pelo regime chinês”, diz o relatório.

Colaborou: Agência Reuters