A configuração do Partido Comunista Chinês após o 19º Congresso

16/08/2017 23:32 Atualizado: 17/08/2017 00:09

A elite do Partido Comunista Chinês tem um antigo hábito de decidir diretrizes políticas e escolher membros para postos-chaves durante um recesso em Beidaihe, uma cidade litorânea perto do Mar de Bohai, ao largo da costa leste da China.

No entanto, o líder chinês Xi Jinping talvez quebre a tradição este ano. O Epoch Times ouviu de várias fontes que o lazer será o assunto principal em Beidaihe, e as reuniões (geralmente do tipo embate político) serão postas em segundo plano. Além disso, desta vez, os anciãos do partido não serão bem-vindos — no passado, membros influentes e aposentados eram poderosos negociadores nos bastidores.

As novas regras em Beidaihe surgem após várias jogadas políticas e militares, executadas por Xi nas últimas semanas. Xi Jinping parece dar andamento à sua campanha para eliminar uma facção política rival e consolidar o seu poder sobre o regime comunista chinês.

Caso Xi ganhe ou mantenha o seu momentum, levando a um grande rearranjo político no 19º Congresso Nacional do Partido, próximo ao fim do ano, ele provavelmente conseguirá escolher os membros do Comitê Permanente do Politburo — o órgão de liderança mais poderoso da China — como autoridades de sua escolha.

Resistência política

Muitos especialistas em China e agências de notícia acreditam que Xi Jinping é o líder chinês mais poderoso em décadas, por conta do acúmulo de uma pequena pilha de credenciais — líder central do Partido Comunista, comandante-chefe militar, chefe de vários órgãos pequenos, mas poderosos, responsáveis por definir diretrizes políticas, entre outras.

Contudo, num sistema em que alianças pessoais mafiosas e extensas redes clientelistas permitem que líderes supremos permaneçam influentes após a aposentadoria, credenciais são um indicador frágil de autoridade.

O ex-líder do partido Jiang Zemin (1989-2002) rebaixou o ex-líder chinês Hu Jintao (2003-2012) a um mero coadjuvante ao deixar para ele um Comitê Permanente inchado (nove membros em vez de sete, como era anteriormente) e composto quase que completamente por pessoas leais a Jiang Zemin. A mídia chinesa no estrangeiro costumava dizer que as ordens de Hu Jintao raramente iam além dos portões de Zhongnanhai, o complexo de edifícios onde está localizado o escritório central do Partido Comunista Chinês e a sede oficial do governo.

Jiang poderia ter dado semelhante destino ao governo de Xi Jinping não fosse a controvérsia envolvendo o seu apadrinhado político em 2012, logo antes de Xi assumir o cargo. Wang Lijun, braço-direito de Bo Xilai — ambicioso ex-membro do Politburo — revelou às autoridades diplomáticas norte-americanas a existência de uma “grande luta pelo poder” na alta cúpula chinesa, quando tentou desertar em um consulado dos Estados Unidos, de acordo com Bill Gertz, do Washington Free Beacon. Em discursos, Xi Jinping fez então alusão a um golpe de Estado em andamento, denunciando Bo e um punhado de outros aliados purgados de Jiang Zemin por tentarem “dividir e destruir” o partido.

Apesar do escândalo envolvendo Bo Xilai, Jiang Zemin ainda foi capaz de pôr seus comparsas em posições-chave e em órgãos de direção durante o governo Xi.

Por exemplo, três dos sete membros do atual Comitê Permanente do Politburo são conhecidos camaradas de Jiang. Até o início deste ano, a maioria das principais autoridades de cúpula das províncias eram ligadas à facção de Jiang. E, além disso, o grupo de Jiang Zemin ainda controla a Segurança Nacional, o Poder Judiciário, o Departamento de Propaganda e o Ministério das Relações Exteriores.

Analistas afirmam que a resistência posta pela facção de Jiang Zemin impediu que o líder Xi Jinping implementasse adequadamente, nos últimos cinco anos, diretrizes para reformar a política, o Poder Judiciário e a economia.

Xi Jinping, no entanto, está sendo bem-sucedido em sua campanha anticorrupção. Muitos dos 200 políticos de cúpula e generais que foram expulsos eram membros e apoiadores do grupo de Jiang Zemin.

Xi em ascensão

O enfraquecimento da facção de Jiang e o aumento da importância de Xi podem ser confirmados pelas manobras políticas e militares realizadas por Xi Jinping.

Na última semana de julho, Xi eliminou Sun Zhengcai, o ex-membro do Politburo que parecia ser o escolhido da facção de Jiang para ser o futuro líder da China. Dias depois, Xi convocou uma reunião de emergência, que durou dois dias, com a alta cúpula política e militar do regime chinês, em um hotel de segurança máxima em Pequim. Embora a proibição de fazer anotações e gravações durante o encontro, o webiste taiwanês de notícias Up Media noticiou que Xi prometeu “a todo custo” acabar com os fatores internos e externos de “oposição ao partido” e “instáveis”.

Zang Shan, jornalista veterano de Hong Kong, acredita que as circunstâncias da realização da reunião de emergência em Pequim antes do recesso em Beidaihe significam problemas para os anciãos do grupo de Jiang Zemin. “É possível que Xi Jinping adotará algumas medidas contra Zeng Qinghong ou Jiang Zemin”, compartilhou Zang com o Epoch Times. “Talvez algo aconteça nas próximas duas ou três semanas.” Zeng Qinghong era o vice-líder sob o governo de Jiang e atuou como o seu braço-direito informal.

Outro sinal de que Jiang Zemin é persona non grata durante a era Xi Jinping pode ser observado na estranha ausência de todos os anciãos do partido durante um grande desfile militar no dia 30 de julho, na base de treinamento Zhurihe, na Mongólia Interior. Apenas autoridades militares do alto escalão acompanharam Xi Jinping, e as tropas em desfile saudaram Xi com “Olá, presidente”, em vez do habitual “Olá, comandante”. Na China, ‘presidente’ é um título superior ao de comandante.

Três cenários

Considerando a conjuntura dos atuais acontecimentos no regime chinês, o próximo Comitê Permanente do Politburo, a ser anunciado no próximo congresso partidário, pode vir a ter um dentre três formatos.

No primeiro cenário, todos os membros do Comitê Permanente serão escolhidos por Xi ou por algum aliado seu. Wang Qishan, o chefe da campanha anticorrupção e aliado mais próximo de Xi Jinping, permanecerá no cargo para além da idade de aposentadoria para integrantes da elite política, que é de 68 anos (Wang tem 69). Essa mudança indicará que Xi Jinping está em uma posição dominante e que a facção de Jiang Zemin se tornou ineficaz nos níveis mais altos do Poder.

No segundo cenário, os aliados de Jiang abocanham duas ou três cadeiras do Comitê Permanente. Esse cenário ocorrerá caso o grupo de Jiang Zemin seja capaz de criar suficientes problemas externos e internos para a liderança de Xi Jinping antes do 19º Congresso. Xi então entraria em um acordo com a facção de Jiang, oferecendo a eles uma presença simbólica em seu governo.

No terceiro cenário, Xi Jinping reduzirá o número de membros do Comitê, de sete para cinco, com todos os integrantes sendo de seu grupo ou aliados seu. Esse cenário indicará que o grupo de Jiang está à beira do colapso, e que Xi Jinping pretende afastar o regime chinês de um modelo coletivo de liderança para um centrado em sua autoridade pessoal.

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