Como um enorme esquema em pirâmide fraudou milhões na China

24/01/2018 18:01 Atualizado: 03/02/2018 20:55

Um esquema em pirâmide na China que foi revelado recentemente teria enredado milhões de investidores que perderam conjuntamente 30 bilhões de yuanes (cerca de US$ 4,7 bilhões) em capital de investimento.

Em dezembro de 2017, Zhang Xiaolei, fundador da plataforma de investimento online Qianbao.com, entregou-se à polícia, admitindo que ele estava administrando um esquema Ponzi desde a fundação da empresa em 2012.

A publicação comercial chinesa Caixin informou que o caso envolveu fundos totais de aproximadamente 70 bilhões de yuanes (cerca de US$ 10,9 bilhões).

Uma reportagem publicada em 20 de janeiro pela Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do regime chinês, revelou como a empresa defraudou seus clientes.

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O suposto modelo de negócios da empresa era uma plataforma online que recompensaria seus usuários por suas atividades, eventualmente atraindo usuários suficientes para começar a vender publicidade no website.

Os usuários teriam que se cadastrar e conectar online e completar certas tarefas, como assistir a anúncios ou preencher pesquisas. E teriam que pagar uma taxa para fazer isso, mas a empresa também lhes daria uma recompensa monetária quando a tarefa foi completada. A empresa prometia lucros de 40-60%.

Zhang Xiaolei admitiu que na realidade a Qianbao não trabalhava com qualquer marca externa para publicidade. Os anúncios eram colhidos aleatoriamente da internet ou eram vídeos internos da empresa. Num verdadeiro esquema em pirâmide, o dinheiro que os novos usuários colocavam era usado para pagar usuários antigos.

Para atrair mais investidores, a Qianbao dava a impressão de que era um grande império comercial. Em seus materiais de promoção, ela afirmava possuir 70 empresas diferentes, cobrindo imóveis, um time de futebol, uma empresa de compartilhamento de bicicletas e muito mais.

China, esquema Ponzi, esquema em pirâmide, fraude - Zhang Xiaolei, o fundador da plataforma de investimento online Qianbao.com (Arquivo do Epoch Times)
Zhang Xiaolei, o fundador da plataforma de investimento online Qianbao.com (Arquivo do Epoch Times)

Mas a investigação das autoridades policiais revelou que na realidade eram cerca de 20 empresas, e seus lucros estavam longe de serem suficientes para pagar todos os investidores.

Entre os investimentos anunciados da Qianbao estava um projeto imobiliário, que o esquema se orgulhava de ter um valor de mercado de 20 bilhões de yuanes (cerca de US$ 3,1 bilhões). Mas as autoridades descobriram que a empresa gastou apenas 1,2 bilhão de yuanes (cerca de US$ 187 milhões) no projeto. Quando um repórter da Xinhua visitou o local proposto do projeto, o lote estava na maior parte vazio; exceto por duas estruturas de construção que não haviam sido totalmente concluídas.

Outro projeto proposto era um resort. As autoridades descobriram que a terreno foi designado para o setor de aviação e não podia ser usado para o desenvolvimento de negócios.

Outro investimento, um clube de futebol na cidade de Chengdu, no Sudoeste da China, estava de fato perdendo dinheiro. O clube devia aos jogadores de futebol milhões em pagamentos salariais atrasados.

Nos últimos anos, esquemas desonestos em pirâmide brotaram em toda a China. Em alguns casos, gangues contratadas pelas empresas fraudulentas pressionariam os investidores a entregarem dinheiro. No ano passado, vários recém-graduados universitários morreram em circunstâncias misteriosas depois de se envolverem em esquemas em pirâmide.

China, esquema Ponzi, esquema em pirâmide, fraude - Pessoas envolvidas num esquema de pirâmide esperam para serem questionadas pela polícia da cidade de Wuhan, na província de Hebei, no centro da China, em 23 de agosto de 2017 (STR/AFP/Getty Images)
Pessoas envolvidas num esquema de pirâmide esperam para serem questionadas pela polícia da cidade de Wuhan, na província de Hebei, no centro da China, em 23 de agosto de 2017 (STR/AFP/Getty Images)

No início do ano passado, a Ezubao, uma plataforma de empréstimos online, foi revelada como um esquema Ponzi que defraudou 900 mil investidores em cerca de US$ 6 a 8 bilhões durante seus 18 meses de operação.

Essas empresas frequentemente se aproveitavam de vítimas vulneráveis que são atraídas pela possibilidade de ganhar muito dinheiro do dia para a noite.

Em 22 de janeiro, cerca de dois mil investidores da Qianbao foram às ruas da cidade de Nanjing, na província costeira de Jiangsu, onde a empresa foi fundada, para exortarem as autoridades que assumissem a responsabilidade por suas perdas, de acordo com a Radio Free Asia (RFA).

Um investidor disse à RFA que ele foi convencido e começou a investir na Qianbao depois de ver as manifestações de apoio de altos funcionários de regime chinês e as propagandas das mídias estatais. “Usamos todas as economias da nossa família para investir na Qianbao, porque acreditamos no governo e na [emissora estatal] CCTV”, disse ele. “Agora que colocamos nosso dinheiro, vocês dizem que é ilegal. É por isso que estamos exigindo uma explicação.”

Jason Ma, um analista sobre a China, observou anteriormente numa entrevista ao Epoch Times que grande parte da indignação pública também foi direcionada às forças de segurança que, após tantas tragédias, falharam em reprimir os esquemas em pirâmide completamente.