Como o regime chinês controla os chineses no estrangeiro

07/12/2017 19:19 Atualizado: 07/12/2017 19:19

É bem sabido que o Partido Comunista Chinês (PCC) governa com punho de ferro e que suas organizações penetram todos os níveis da sociedade. Recentemente, o empenho para expandir o estabelecimento de órgãos do Partido se estendeu a empresas estrangeiras e universidades na China que são financiadas do estrangeiro.

No entanto, não é tão evidente como o Partido exerce controle sobre seus cidadãos no exterior. Um artigo recente do Global Times, uma publicação nacionalista estatal chinesa, mostrou como os chineses no exterior continuam a viver sob a sombra do Partido. Um incidente recente na Universidade da Califórnia-Davis, onde chineses do continente estabeleceram um ramo do Partido mas o dissolveram pouco depois temendo estarem violando a lei federal dos EUA, foi apenas uma amostra da influência do PCC sobre os cidadãos chineses que vivem no estrangeiro.

De acordo com a reportagem do Global Times publicada em 28 de novembro, a Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa, uma das principais academias militares da China, estabeleceu oito filiais no exterior para seus estudantes de intercâmbio e acadêmicos em 2012. Citando o Diário do ELP, uma publicação oficial do Exército da Libertação Popular (ELP), a reportagem afirmou que as filiais do Partido ajudam os estudantes chineses no exterior a “resistirem à influência corrosiva das ideologias nocivas” no Ocidente.

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A Universidade de Estudos Internacionais de Xangai (SISU) possui uma filial estudantil para estudantes de intercâmbio no México, no Chile e em países europeus, incluindo Espanha, Portugal, Grécia, Itália e Holanda. Wang Xinyu, chefe da filial espanhola que atualmente estuda na Universidade Autônoma de Madri, disse que estudantes chineses no ramo escreveram relatórios sobre seus pensamentos. Um relatório padrão geralmente consiste nas opiniões e pensamentos de uma pessoa sobre o Partido Comunista Chinês e é uma forma de determinar se a pessoa é leal ao Partido.

“Numa base regular, estudamos a teoria do Partido de acordo com os requisitos da nossa matriz maior do Partido na China”, disse Wang ao Global Times.

Além das faculdades e universidades estrangeiras, as empresas chinesas que fazem negócios em países estrangeiros por meio da iniciativa Um Cinturão Uma Rota, um projeto de infraestrutura e rede comercial promovido pelo líder chinês Xi Jinping com base na antiga Rota da Seda que ligava a China com os países euroasiáticos, também estabeleceram os seus próprios ramos locais do Partido.

Citando uma matéria da mídia estatal Diário de Guangming, o Global Times informou que Zheng Xuexuan, o vice-presidente da Corporação Estatal de Construção Civil da China (CSCEC), decidiu que uma filial do Partido para seus funcionários era necessária para monitorar seus pensamentos e garantir que eles seguissem a linha do Partido.

“É fácil que seus pensamentos vacilem, impondo desafios ao trabalho ideológico e político”, disse Zheng ao Diário de Guangming.

Enquanto isso, o regime chinês pressionou as empresas estrangeiras que fazem negócios na China a estabelecerem organizações do Partido dentro de suas instalações. De acordo com o PCC, essas organizações devem participar da tomada de decisão da empresa para garantir que suas atividades comerciais estejam de acordo com as políticas do regime chinês.

As empresas alemãs que operam na China expressaram recentemente sua preocupação por meio das Delegações da Indústria e do Comércio Alemão (AHK). Uma declaração publicada no website da organização em 24 de novembro diz: “Observamos que as decisões de negócios sem interferências externas são uma base sólida para a inovação e o crescimento.”

“Se essas tentativas de influenciar as empresas de investimento estrangeiro continuarem, não se pode descartar que as empresas alemãs possam se retirar do mercado chinês ou reconsiderar suas estratégias de investimento”, acrescentou o comunicado.

Diferentemente do ambiente de negócios menos favorável na China, as empresas alemãs continuam confiantes em seus investimentos em Taiwan, de acordo com a última pesquisa anual de confiança nos negócios publicada pelo Escritório de Comércio Alemão em Taipei em 30 de novembro.

A pesquisa descobriu que 39% das empresas planejam investir numa nova localização em Taiwan nos próximos dois anos, enquanto 67% opinaram que as autoridades taiwanesas eram amigáveis ​​ou muito amigáveis com relação aos negócios.

Enquanto a China continental continua a viver sob um regime estrito de partido-único, os taiwaneses gozam de um governo democrático desde a década de 1990 e o ambiente de negócios também é mais livre.

“[Em Taiwan], com um sistema baseado na democracia e na liberdade, a cooperação entre a indústria e o governo é a base para o desenvolvimento futuro”, disse Axel Limberg, diretor-executivo do Escritório de Comércio Alemão em Taipei, em entrevista à New Tang Dynasty Television Asia Pacific (NTDTV-AP), acrescentando que ele nunca viu as autoridades de Taiwan interferirem nas empresas estrangeiras.