“Como pessoas tão respeitadas na sociedade se tornam assassinas? Esta é a questão mais importante para mim”, disse o ex-cirurgião chinês Enver Tohti a funcionários do governo irlandês em julho, de acordo com o The Journal.
“Eu vi pelo menos três crianças [que] tinham cicatrizes no corpo. [Isto] indica que seus órgãos foram extraídos. E em 1995, chegou minha vez de fazer isso”, disse o Dr. Tohti, relatando sua participação em uma operação para extrair o órgão de um homem vivo na China. De acordo com pesquisadores, o regime comunista chinês está envolvido na retirada forçada de órgãos de prisioneiros de consciência com fins lucrativos, o que atualmente se tornou um negócio multimilionário.
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“Eu matei. Isso está me atormentando. Eu tenho que contar ao mundo… para libertar coisas dentro do meu coração … para obter algum alívio”.
Tohti disse que se tornou um “robô” assassino pensando que estava trabalhando para “uma grande causa”.
Ele ficou tão atormentado por isso que finalmente fugiu da China para o Reino Unido em 1999 e recebeu asilo político três anos depois.
Desde então, ele tem testemunhado sobre suas experiências nas audiências parlamentares semelhantes no Reino Unido, no Japão e nos Estados Unidos para expor a atual situação da extração de órgãos em seu país de origem, a China.
O vídeo que contém sua confissão já teve dezenas de milhões de visualizações na internet.
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Por que cirurgiões como ele, que foram encarregados da missão de “salvar pessoas”, se tornam parte da “máquina assassina” que existe na China?
Desenvolvimento de uma operação multimilionária em um ritmo ultrarrápido
Pouco depois de 1999, a China rapidamente se tornou o país com o segundo maior número de transplantes de órgãos no mundo.
“Em 1999, havia aproximadamente 150 centros de transplante. Seis, sete anos depois, havia 600 centros de transplante. Isto significa um aumento de 300% em um curto período de tempo sem que tenha havido uma campanha de doação de órgãos”, disse o Dr. Torsten Trey, diretor executivo da organização Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH), um grupo de advogados que defendem a ética médica, com sede nos Estados Unidos.
Em resposta a investigações sobre esse crescimento suspeito, a China estabeleceu um sistema voluntário de doação de órgãos em nível nacional.
No entanto, os chineses tradicionalmente dão muita importância às questões “pós-morte” e acreditam que os mortos ainda precisam ter seus corpos intactos. Como resultado, a taxa de doação de órgãos da China está entre as mais baixas do mundo: apenas 2,98 doadores em um milhão, de acordo com o Financial Times, com base em informações obtidas de um funcionário chinês em março de 2017.
A China havia anunciado anteriormente que os órgãos tinham sido extraídos de prisioneiros executados. Diante das críticas internacionais sobre a retirada de órgãos no país, a China afirmou ter usado apenas doações voluntárias de órgãos para transplantes desde 2015.
No entanto, os doadores voluntários e os condenados à morte, somados, são insuficientes para fornecer órgãos para o grande número de transplantes que são realizados na China. Estima-se que este número esteja entre 60 e 90 mil por ano desde 2000, de acordo com um relatório publicado em junho de 2016 por um grupo de três investigadores.
“Eles estão ganhando cerca de 9 ou 10 bilhões de dólares por ano com esta indústria de operações de transplante na China. É muito dinheiro. Muitos hospitais estão financiando muitas de suas atividades por meio disso”, disse David Kilgour, ex-deputado no Canadá e secretário de Estado para Ásia-Pacífico, além de co-autor do relatório.
Onde a China obtém esses órgãos?
Os investigadores dizem que a China tem um grande banco de órgãos de pessoas vivas, a maior parte são prisioneiros de consciência praticantes do Falun Gong ou Falun Dafa, uma disciplina de qigong tradicional chinesa que consiste de cinco exercícios de meditação e ensinamentos focados nos princípios da Verdade, Compaixão e Tolerância. Outros grupos de vítimas incluem uigures, tibetanos e cristãos.
“Foi uma operação em escala industrial contra a comunidade do Falun Gong, uma comunidade pacífica de 70 a 100 milhões de pessoas atacadas pelo presidente do Partido”, disse David.
Aquele a quem se refere David Kilgour é o ex-líder do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, que lançou a perseguição contra o Falun Gong em julho de 1999, depois de constatar a grande popularidade da prática entre os cidadãos chineses. Desde a ordem de Jiang, milhões de praticantes do Falun Gong foram presos, torturados, mantidos em campos de trabalho forçado e submetidos à retirada forçada de seus órgãos.
Genocídio chinês se equipara à Alemanha nazista
A perseguição contra o Falun Gong pode ser comparada ao genocídio nazista, de acordo com Edward McMillan-Scott, então vice-presidente do Parlamento Europeu, em uma reunião do Parlamento realizada em 2010.
“Assim como durante a guerra os nazistas desprezaram as características especiais dos judeus e fizeram o que fizeram a esse povo, o mesmo acontece hoje com o Falun Gong na China. É por isso que é um genocídio. É por isso que digo que é algo muito grave”, disse ele.
Edward explicou que “a indústria de transplantes de órgãos está nas mãos dos militares. O Exército de Libertação do Povo é responsável pelos hospitais, pelo transporte de partes do corpo e de sua comercialização. É, portanto, uma atividade governamental e representa um genocídio, segundo os termos do artigo 2º da Convenção sobre o Genocídio”.
O jornalista investigativo e escritor Ethan Gutmann também apontou a participação do exército e da polícia chineses nesta atrocidade. Ele disse na reunião: “E onde começa a extração de órgãos? Começa em hospitais militares. E em seguida a polícia armada se envolve e, de fato, torna-se quase uma competição entre os hospitais da polícia armada e os hospitais militares. É impossível que o Partido Comunista Chinês não esteja vendo e abençoando essa atividade”.
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Como isso aconteceu?
Especialistas dizem que a China lançou uma série de campanhas de propaganda para justificar a perseguição contra o Falun Gong e esconder a retirada de órgãos.
“Como eu disse, devido a que entre 70 e 100 milhões de pessoas em 1999 praticavam Falun Gong, isso foi visto por Jiang Zemin, na época líder do Partido Comunista, como uma ameaça à sua própria posição. Não foi, é claro, mas ele viu assim a oportunidade de criar um inimigo”, disse Edward.
Referindo-se à propaganda de ódio do regime comunista chinês para difamar Falun Gong, Edward disse: “Eu me reuni, como já disse, com centenas de membros do Falun Gong. Não é uma seita, não é um culto, não há dinheiro envolvido, não há lavagem cerebral; todas as características próprias de um culto simplesmente não existem no Falun Gong. Estas [são] pessoas que praticam exercícios espirituais por conta própria “.
O advogado canadense de direitos humanos, David Matas, apontou alguns dos fatores que tornam possível a colheita de órgãos diante da indiferença social chinesa. Falando em uma mesa redonda organizada pela Coalizão Internacional para Acabar com a Extração de Órgãos na China, no início deste ano, Matas disse: “Penso que se você perguntar sobre como isso acontece em termos de motivação, acho que há uma série de fatores em jogo. Um deles é a compartimentação. Pessoas em diferentes lugares não sabem o que o resto está fazendo. E isso ajuda a cegueira deliberada a funcionar “.
Ele continuou: “As pessoas dirão:” Bom, eu não sei. Eu vejo um corpo na mesa de operação. Não sei de quem é o corpo”, ou” vejo o cadáver que estou cremando. Eu não sei de quem é o cadáver que eu estou cremando’, e assim por diante.”
O segundo fator, disse ele, é a censura. “Nada disso é relatado. Você não vê na mídia o que está acontecendo. Você não tem fontes confiáveis de informação.”
O terceiro fator “é o incitamento ao ódio… O Partido Comunista está sempre elegendo inimigos, mas não diz apenas que tal pessoa ou grupo é seu inimigo, mas também promove campanhas de propaganda”, disse David.
“E foi certamente o que aconteceu com o Falun Gong. O Partido Comunista chinês despersonaliza, desumaniza, marginaliza essas pessoas até o ponto em que poucas pessoas realmente veem e sabem o que está acontecendo. Eles dirão: “Bem, Falun Gong é o inimigo”, “Falun Gong não são pessoas. Nós podemos fazer o que quisermos com eles.'”
E, é claro, há o fator da ganância. “Todo o dinheiro que é investido na propaganda e a pressão do Partido ao ameaçar acabar com o dinheiro; então, essa combinação, essa confluência de eventos, leva a esse resultado horrível”, concluiu David.
É assim que médicos como Tohti, ex-cirurgião chinês, se tornaram robôs assassinos. Ele esclareceu: “Eles impedem você de pensar por si mesmo. Todo o meu corpo se transformou em um robô programado para fazer o que queriam que eu fizesse. Eles fazem você acreditar que o que você está fazendo é por uma boa causa. É um pouco tarde, percebo, eu encurtei a vida de um homem. Isso é o mesmo que [ser] um assassino “.
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Detendo o genocídio
A China está enfrentando uma crescente pressão internacional para deter os transplantes ilegais de órgãos e os abusos contra os direitos humanos dos praticantes do Falun Gong.
“Eu acredito firmemente que a campanha de 17 anos para erradicar o Falun Gong será vista como uma das grandes vergonhas da história recente da China”, disse Chris Smith, congressista norte-americano que foi presidente do Comitê Executivo do Congresso na China (CECC).
“Isso é um crime contra a humanidade. É abominável e deve parar!”, disse Gabriel Danovitch, professor de medicina da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
O jornalista investigativo Ethan Gutmann pediu esforços conjuntos de pessoas de todo o mundo para impedir o atual genocídio na China. Ele concluiu: “Esta é uma nova forma de genocídio que está usando os membros mais respeitados da sociedade para implementá-lo. Este é um dos testes centrais do nosso tempo. Não podemos mais ignorar isso.”
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