Em uma das universidades mais prestigiadas da China, ter um bom desempenho na tese ou dissertação final não é suficiente para alguém conseguir se formar com honras.
Recentemente, um documento emitido pelos administradores da Universidade Tsinghua em Pequim, a número 30 na lista mundial de universidades da Times Higher Education, vazou na internet.
A declaração, datada de 4 de junho de 2017, é dirigida aos professores. O documento pede que levem em consideração a “posição política e a ideologia” ao avaliar as obras de graduação, como publicações de tese ou trabalhos criativos. Os professores também foram convidados a “dar ênfase à manutenção da ideologia enquanto ensinam”. O mesmo se aplica aos não graduados que estão em vias de obter suas licenciaturas.
Segundo Liu Yinquan, ex-professor de história da Universidade Shandong e atual executivo-chefe da Aliança da China Contra a Perseguição Política, o comunicado sinaliza que os alunos devem ser avaliados de acordo com a forma como os seus pontos de vista se alinham com os do Partido Comunista Chinês (PCC).
Liu diz que o regime está preocupado com a possibilidade de que a próxima geração de jovens já não acredite no regime comunista, e que, portanto, está fortalecendo o doutrinamento político. O objetivo é transformar intelectuais em pessoas que defendem o sistema comunista, ressaltou.
“Mas a opinião pública já está mudando”, disse Liu. “As pessoas já conhecem a verdade [sobre o PCC] graças à internet e ao manter contato com aqueles que vivem fora da China”.
História
O conceito de “avaliações políticas” remonta à Revolução Cultural, quando os chineses eram obrigados a mostrar abertamente seu fervor e lealdade ao partido e a denunciar aqueles que não o faziam. As pessoas que pertenciam ao que Mao designou como “as cinco categorias” (proprietários de terras, camponeses ricos, contrarrevolucionários, maus elementos e “direitistas” inimigos da revolução) foram perseguidas. Por outro lado, o alto comando do partido gozava de prestígio na sociedade, embora também pudesse ser submetido a “sessões de luta” caso fosse denunciado.
Depois que o massacre da Praça Tiananmen pôs fim aos protestos pedindo democracia em 1989, as universidades ajustaram as avaliações políticas aos alunos. Aqueles que fizeram parte ativa do movimento democrático foram punidos: estudantes de outras províncias que estavam estudando em Pequim foram obrigados a voltar, e aqueles que haviam sido contratados por empresas de prestígio para trabalhar após a graduação ficaram sem essas oportunidades.
Desde então, os alunos têm sido ativamente desencorajados de expressar suas opiniões livremente. Em maio de 2013, o professor Zhang Xuezhong, da Universidade Normal da China Oriental em Xangai, revelou em uma publicação na internet que as autoridades centrais haviam alertado sobre sete temas proibidos: valores universais, liberdade de imprensa, sociedade civil, direitos civis, falhas históricas do PCC, as atividades burguesas dos poderosos oficiais do partido e a independência judicial.
Em janeiro de 2015, o então Ministro da Educação, Yuan Guiren, disse em uma conferência nacional para as universidades que havia “três coisas não permitidas” dentro das salas de aula: os estudantes não têm permissão para ter opiniões contra o socialismo; não podem ter opiniões que vão contra a constituição e as leis do PCC; os professores são proibidos de expressar insatisfações ou queixas.
Em dezembro de 2016, o vice-ministro Shen Xiaoming deixou ainda mais explícitas as intenções do regime, anunciando que vigiar a postura ideológica nas universidades era um trabalho da “linha de frente”: as escolas devem falar de política “todos os dias, todas as semanas, sem parar”, e professores e alunos devem aceitar o “socialismo e a liderança do PCC”.
Colaboraram: Cheng Xiaorong, Luo Ya y Li Xin’an
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