Como domar o dragão vermelho na guerra comercial

Não se trata de uma escaramuça com o PCC só por causa do comércio, mas de uma guerra que quer pôr um fim à sua traição constante cometida contra a humanidade

24/08/2018 17:05 Atualizado: 24/08/2018 17:05

Por Peter Zhang

É compreensível que Washington esteja tratando de usar todos os meios disponíveis para nivelar o campo de jogo na atual guerra comercial com Pequim.

Esta guerra se trata especificamente sobre o déficit comercial dos Estados Unidos com a China, que alcançou 152,2 bilhões de dólares, de acordo com o Bureau de Censos norte-americano.

Mas na verdade trata-se de muito mais do que isso.

O Representante Comercial dos Estados Unidos descobriu que “o roubo de propriedade intelectual norte-americana praticado pela China custa atualmente entre 225 e 600 bilhões de dólares por ano”.

Nos últimos anos, as empresas chinesas usaram fundos estatais para comprar empresas norte-americanas e europeias, adquirindo assim tecnologia ocidental, incluindo informações sensíveis e confidenciais.

No entanto, as tarifas cobradas pelos Estados Unidos sobre produtos da China desencadearam outra onda de manipulação da moeda: um iuane enfraquecido pode eficazmente compensar tarifas de importação de Washington contra Pequim.

Mais importante, décadas de esforços ocidentais para democratizar o “Reino Central” comunista mediante a concessão do status de Relações Comerciais Normais Permanentes, a entrada na Organização Mundial do Comércio e a plena integração de Pequim ao mercado mundial, provaram ser totalmente inúteis.

O desequilíbrio no comércio com a China é apenas um sintoma da natureza predatória do regime chinês.

Embora os Estados Unidos pressionem a favor de um comércio livre e justo com a China, eles precisam usar outras armas para enfrentá-la.

Conhecer o inimigo

Sun Tzu (544 a.C. — 496 a.C.), talvez o estrategista militar chinês mais conhecido no mundo, nos disse em “A Arte da Guerra”: “Conhece-te a ti mesmo, conhece a teu inimigo. Mil batalhas, mil vitórias”.

É imperativo ter em mente que a China, com uma população de 1,3 bilhão de habitantes, e o Partido Comunista Chinês (PCC), com apenas cerca de 80 milhões de membros, não são a mesma coisa: o PCC importou o comunismo na década de 1920 e desde 1949 o tem imposto a toda a nação chinesa.

Os cientistas políticos geralmente concordam que todas as sociedades fechadas dependem de três condições cruciais para manter a sua sobrevivência: 1) o controle de informações, incluindo a divulgação de informações erradas; 2) o uso da violência para manter o poder; e (3) obrigar as massas a aceitar uma ideologia que favorece os governantes.

Estas três condições já provaram ser vitais à sobrevivência do PCC.

Hoje em dia, aqueles que vivem em sociedades abertas considerariam impensável não ter acesso a algumas formas de redes sociais e a uma internet aberta. Mas infelizmente 600 milhões de usuários chineses da internet vivem dentro de uma intranet artificialmente controlada, graças ao “Grande Firewall da China”.

O PCC gasta bilhões de dólares para reforçar sua tecnologia de vigilância, incluindo  conhecimentos sobre reconhecimento facial e de voz roubados dos Estados Unidos. Agora, Pequim está obrigando a Apple a construir seu centro de dados na nuvem dentro da China de modo que o regime tenha acesso às informações dos usuários.

A luta nessa guerra comercial deve incluir a exploração dos pontos fracos do PCC através da promoção da liberdade na internet e da manutenção do Estado de Direito.

Derrubar o “Grande Firewall da China”

Em 2016, um estudo feito pela Universidade de Harvard descobriu que o PCC havia contratado milhões de pessoas para formar o chamado Exército dos Cinquenta Centavos (termo depreciativo usado para descrever os trabalhadores contratados que acredita-se ganham 50 centavos por mensagem publicada na internet) para gerar cerca de 488 milhões de publicações nas redes sociais por ano. De acordo com o estudo, “a maioria das mensagens inclui promover a China, a história revolucionária do Partido Comunista Chinês e outros símbolos do regime”.

Essa desinformação pode ser anulada se a internet chinesa se tornar o meio para substituí-la por uma avaliação objetiva do regime.

De acordo com uma pesquisa de campo realizada em 2005 pelo Centro Berkman para a Internet e a Sociedade, da Universidade de Harvard, entre os artigos mais censurados na internet da China estão os “Nove Comentários Sobre o Partido Comunista Chinês“, livro escrito pelo conselho editorial do jornal The Epoch Times que detalha os crimes e as violações de direitos humanos perpetrados pelo PCC durante as últimas nove décadas.

Esse livro é tão revelador e mortal para a legitimidade do PCC que nem sequer foi denunciado pelo Departamento de Propaganda do Partido ou por seus meios de comunicação, que têm medo de que o público saiba sobre ele.

Há maneiras de difundir os “Nove Comentários” pela internet.

Em um testemunho recente para o Senado dos Estados Unidos, o ex-funcionário do Departamento de Estado Ely Ratner propôs que “o Congresso deve fornecer recursos e liderar o Departamento de Defesa no desenvolvimento dos meios necessários para contornar o ‘Grande Firewall da China’ e facilitar o acesso dos cidadãos chineses à internet mundial”.

Trata-se de uma proposta estratégica que tem múltiplas implicações construtivas em longo prazo: ao disponibilizar ferramentas de evasão, alguns dos 600 milhões de internautas chineses poderão burlar o “Grande Firewall da China” e comunicar-se com o mundo exterior, criando assim cidadãos informados e eliminando o impacto da máquina de propaganda do PCC.

Com o tempo, as massas informadas se tornarão agentes poderosos para a mudança social. Além disso, esta é uma maneira relativamente barata de promover mudanças positivas na China, em comparação com os bilhões de dólares gastos em uma corrida armamentista. Isto é o que o PCC mais teme, porque a liberdade de informação marcará o fim de sua sociedade fechada.

Depois de ouvir o depoimento de Ratner sobre o desmantelamento do sistema de firewall da China, Bao Peng, colaborador próximo do ex-primeiro-ministro reformista Zhao Zhiyang e atualmente dissidente político em Pequim, escreveu no Twitter: “Eu estou completamente de acordo. Compreender seu próprio país é o que o povo chinês mais precisa, e isso está relacionado ao desmantelamento do ‘Grande Firewall’ e ao acesso livre e gratuito à internet. Este é um assunto muito importante e urgente!”.

Existem várias ferramentas criadas pelos norte-americanos de evasão para os usuários na China e em todo mundo. O mais notável é que os internautas chineses confiam na tecnologia oferecida por duas companhias norte-americanas: Free Gate e Ultra Surf. Ambas oferecem ferramentas digitais gratuitas que receberam boas críticas do New York Times, Washington Post, Forbes, The Wall Street Journal e estudiosos de Harvard.

Embora as capacidades das duas empresas estejam severamente limitadas devido à falta de fundos — os desenvolvedores são competentes engenheiros chineses que escaparam e foram para os Estados Unidos após terem sobrevivido ao massacre da Praça Tiananmen ou à perseguição contra o Falun Dafa por parte do Regime — têm uma paixão, talvez mais do que qualquer um, para trabalhar na derrubada do sistema de firewall da China.

Para expandir e ajudar a satisfazer as necessidades dos internautas chineses, essas pessoas brilhantes, que contam com a melhor tecnologia de evasão do mundo, precisam desesperadamente de fundos federais e privados. Existem outras ferramentas de evasão disponíveis, tais como os serviços VPN em pequena escala fora da China, mas eles não são gratuitos e podem ser facilmente bloqueados pela censura chinesa.

A Lei Global Magnitsky dos Estados Unidos

A Lei Global Magnitsky criada nos Estados Unidos em 2016, que permite sancionar pessoas de outros países por violações aos direitos humanos, também dá a Washington uma vantagem.

Já não é segredo para ninguém o fato de que muitos membros do PCC transferiram seus bens e familiares para o exterior, especialmente para os Estados Unidos. É igualmente de conhecimento público que muitos desses oficiais do Partido estão direta ou indiretamente envolvidos em violações dos direitos humanos contra cristãos clandestinos, praticantes do Falun Dafa, tibetanos, advogados de direitos humanos e intelectuais.

Negar a essas pessoas vistos de entrada e congelar seus bens nos Estados Unidos por seus crimes não só seria sensato, mas também seria uma ação justa sob a jurisdição da Lei Magnitsky.

Fazer com que os membros do PCC prestem contas de seus crimes cometidos contra os direitos humanos não só protegerá os interesses dos Estados Unidos, como igualmente deixará uma mensagem contundente a todos os regimes totalitários de que os Estados Unidos, como líder do mundo livre, se mantém firme e defende a Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU.

Washington também deveria considerar a possibilidade de revelar todos os bens de propriedade dos oficiais do PCC nos Estados Unidos, o que permitiria que a população chinesa ficasse sabendo para onde o dinheiro dos impostos vai de verdade. Apesar de tudo, os recursos e os bens dos oficiais chineses são um verdadeiro segredo de Estado na China.

Por anos, a Assembleia Popular Nacional da China não deixou passar um projeto de lei que exige que os membros do Partido divulguem seus patrimônios, apesar do clamor público.

Além disso, se a administração Trump publicasse uma lista de oficiais do PCC e seus familiares que possuem o green card ou um passaporte norte-americano, isso prejudicaria bastante as campanhas antiamericanas e nacionalistas do PCC.

Divulgar informação sobre bens e status de imigração igualmente causaria problemas sérios ao PCC. Não é difícil imaginar o nível da indignação pública se tais informações se tornassem disponíveis dentro da China, onde a desigualdade é imensa e o Índice de Gini (Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo) está bem acima de 4.0, sinal de alerta para agitação social. A transparência ou o direito de saber parece algo simples, mas pode ser essencial para o bem-estar de qualquer sociedade.

Para domar esse dragão vermelho em meio à guerra comercial, podemos voltar à sabedoria de Sun Tzu, que disse: “a suprema arte da guerra consiste em subjugar o inimigo sem lutar”.

Talvez uma estratégia mais impactante seja mostrar os pontos fracos do PCC: o medo de que os cidadãos estejam informados através de uma internet sem censura, e o medo da justiça devido a suas violações aos direitos humanos, justiça representada pela Lei Global Magnitsky dos Estados Unidos.

No fim das contas, não se trata de uma escaramuça com o PCC só por causa do comércio, mas de uma guerra que quer pôr um fim à sua traição constante cometida contra a humanidade.

Peter Zhang centraliza suas pesquisas na economia política da China e da Ásia Oriental. É formado em Estudos Internacionais de Pequim, na Escola Fletcher de Direito e Diplomacia e na Escola Kennedy da Universidade de Harvard

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