Será que a economia chinesa experimentará uma aterrissagem forçada? Absolutamente não, segundo Xu Shaoshi, o diretor da agência de planejamento econômico estatal da China. Uma aterrissagem forçada não é uma possibilidade para a economia da China e nem é possível que a desaceleração da China arraste consigo a economia global, afirmou Xu Shaoshi recentemente numa coletiva de imprensa.
Apesar de tudo que já foi escrito sobre a desaceleração econômica da China, as declarações de Xu Shaoshi exigem uma resposta.
O impacto da China em outras economias mundiais
Primeiramente, vamos olhar alguns anos antes. Nos últimos 30 anos, a China aceitou o investimento estrangeiro para financiar o desenvolvimento por meio de sua política de “abertura”. Em seguida, a China ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC) para exportar produtos baratos para o mundo. Em meados da década de 1990, quando a China havia acumulado lucros e poder suficientes, ela começou a fazer investimentos estratégicos para adquirir recursos e empresas ao redor do mundo. Embora tenha havido mais fracassos do que sucessos, as grandes saídas de capital da China têm sido uma força significativa.
Visto de outra perspectiva, a China teve um impacto tanto positivo quanto negativo na economia mundial. Na virada do século, produtos baratos fabricados na China de fato beneficiaram os consumidores em todo o mundo por cerca de sete a oito anos.
No lado negativo, no entanto, produtos de baixa qualidade e tóxicos têm levado a boicotes e perda de credibilidade começando por volta de 2005. Por exemplo, brinquedos com altos níveis de chumbo, seguido de leite em pó contaminado com melamina, alimentos venosos para animais, resíduos de pesticidas, arsênico e cádmio em produtos agrícolas, substâncias tóxicas em produtos têxteis e couro, gesso e materiais de construção de péssima qualidade e etc. Em suma, a China tem sido alvo constante de reclamações por meio da OMC, e esta foi uma das razões que levaram os Estados Unidos a proporem a Parceria Trans-Pacífico, na esperança de contornar a China e estabelecer outra organização internacional de comércio.
Desde 2009, quando a China deixou em grande parte de ser a fábrica do mundo, ela se tornou a maior impressora mundial de dinheiro. Em 2012, quando esta estratégia não era mais sustentável, a China tinha um inventário de 9,83 bilhões de metros quadrados de imóveis desabitados ou sem uso e dezenas de indústrias abarrotadas de produtos e com excesso de capacidade.
A China planejava expandir o comércio com mais de 30 países ao redor do mundo. Mas estes países estão agora em crise, em guerra ou em recessão econômica. Como resultado, a China já não está em posição de ser uma grande importadora de commodities e isso sufoca a economia mundial. Pelas razões explicadas até aqui, não se pode dizer que a China está arrastando a economia mundial para baixo. Mas o sonho de que a China se tornaria o motor econômico do mundo foi frustrado.
Saídas de capitais e o mercado imobiliário
O mercado imobiliário da China também afeta indiretamente o mundo. Os preços dos imóveis em Pequim, Shanghai e Shenzhen dispararam recentemente. Por exemplo, o valor total de mercado dos imóveis numa comunidade de Shenzhen subiu para 2,1 bilhões de dólares, quase igualando a valor do aeroporto de Shenzhen, que vale cerca de 2,2 bilhões de dólares. Como o preço dos imóveis pode subir tanto? É porque os chineses estão mantendo os preços elevados enquanto pegam empréstimos em dinheiro contra seus ativos imobiliários inflados e então movem o dinheiro para fora do país. O capital sendo desviado do mercado imobiliário da China vai afetar o mundo.
Desde o final de junho de 2014, quando as reservas de câmbio da China eram de 3,99 trilhões de dólares, houve a saída de cerca de 790 bilhões de dólares. Esse enorme fluxo de capital pelo mundo terá um grande impacto. Para onde foi esse dinheiro? Parte dele foi usado para investimentos, principalmente no setor imobiliário, o que tem criado ou ampliado bolhas imobiliárias pelo mundo.
Os investimentos no estrangeiro de empresas imobiliárias chinesas totalizavam cerca de 22 bilhões de dólares em 2013, segundo o Relatório de Globalização de Empreendimentos Chineses de 2015. Em 2014, esse valor alcançou 40 bilhões de dólares, com 28,6 bilhões de dólares indo para o mercado dos EUA. Lideradas por gigantes como Vanke, Wanda e Greenland Holding, as empresas imobiliárias chinesas investiram na primeira metade de 2015 o mesmo valor que investiram em todo o ano de 2014.
De acordo com um artigo de 7 de setembro de 2015 na revista econômica Caijing, chineses ricos estão comprando imóveis em mais de uma dúzia de países ou regiões no estrangeiro, incluindo o Reino Unido, Austrália e Dubai. Na ilha de Jeju na Coreia do Sul, chineses eram proprietários de 20 mil metros quadrados até 2009. No final de abril de 2015, a área aumentou para 11,73 milhões de metros quadrados, um aumento de quase 600 vezes em seis anos.
O dinheiro criado pela impressora do Estado chinês está se espalhando pelo mundo. Os preços dos imóveis na China se desviaram há muito tempo do seu valor real. Um apartamento pequeno de 150 metros quadrados em Pequim, Tianjin, Shanghai ou Shenzhen está avaliado em cerca de 920 mil dólares. Pelo mesmo valor, é possível comprar uma casa de três vezes esse tamanho na costa leste ou oeste dos Estados Unidos (exceto em Manhattan ou São Francisco) com um grande jardim e piscina. Diante desta realidade, investimentos imobiliários chineses são obrigados a inundar o mundo.
O fato de que a China não está comprando grandes quantidades de commodities globais pode não estar realmente arrastando para baixo a economia mundial. No entanto, quando chineses ricos investem grandes quantidades de dinheiro nos mercados imobiliários de outros países, eles estão criando bolhas. Eventualmente, moradores locais não serão capazes de comprar uma casa e o país empobrecerá. Não poderia se dizer que isso está de fato arruinando a economia global?
Esta é uma tradução resumida de um artigo chinês de He Qinglian postado em seu blog pessoal em 13 de março de 2016. He Qinglian é uma proeminente autora e economista chinesa. Ela vive atualmente nos Estados Unidos e é autora do livro “The Fog of Censorship: Media Control in China” entre outros. Ela escreve regularmente sobre questões sociais e econômicas da China contemporânea.