Por Annie Wu y Sunny Chao, Epoch Times
A produção chinesa de soja caiu drasticamente no início de setembro devido às geadas incomuns que atingiram as principais regiões agrícolas, destruindo mais de um milhão de hectares de campos de soja e reduzindo a colheita em cerca de 300 mil toneladas na província de Heilongjiang.
A queda na colheita ocorreu em um momento em que a China mantém as tarifas sobre a soja importada dos Estados Unidos como parte da guerra comercial China-EUA.
Em 17 de setembro, o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China informou que o noroeste de Heilongjiang havia experimentado baixas temperaturas e geadas antecipadas entre 9 e 10 de setembro, o que prejudicou a colheita de soja. De acordo com o Centro Meteorológico Nacional da Administração Meteorológica da China, nos últimos 50 anos, as geadas em Heilongjiang não costumam começar até o final de setembro, portanto isso evidencia que o fenômeno climático foi um evento incomum.
Idealmente, a soja cresce em climas temperados com temperaturas entre 20°C e 25°C. No período de produção, entre maio e setembro, uma redução de um grau Celsius na temperatura média diminui o rendimento por hectare em mais de 110kg, por essa razão as geadas são especialmente nocivas.
Dependência da importação
Em 10 de agosto, a agência de notícias Reuters mencionou um agricultor chinês que alegava que a produção de soja chinesa está tipicamente abaixo da demanda em mais de 90 milhões de toneladas, e que depende das importações para cobrir o restante. Em 2017, a China consumiu mais de 110 milhões de toneladas, das quais importou 95,53 milhões de toneladas, ou seja, 87% do consumo total.
Em abril, as autoridades locais de Heilongjiang e Jilin, uma província vizinha, emitiram ordens que obrigaram os agricultores a expandir sua produção de soja, e aumentaram significativamente os subsídios para o cultivo. O subsídio por “mu” chinês (0,0667 hectares) de soja é agora de 100 iuanes (cerca de 15 dólares) maior do que o do milho.
Os Estados Unidos são o maior fornecedor de soja da China, mas as exportações do produto diminuíram desde o início da guerra comercial entre os dois países.
O Partido Comunista Chinês (PCC) tentou usar o comércio de soja para enfrentar as tarifas norte-americanas introduzidas pela administração Trump como punição a Pequim por suas práticas comerciais desleais e ilegítimas. O PCC acabou impondo uma tarifa de 25% sobre a soja norte-americana.
Em meados de julho, Shao Zhongyi, conhecido como o “rei da soja” e proprietário da Shandong Chenxi Group Company, se declarou falido. Ele havia se tornado o homem mais rico da província de Shandong, ao leste da China, com um patrimônio de 19 bilhões de iuanes (2,77 bilhões de dólares).
O jornal diário de economia japonês Nikkei publicou uma matéria em 31 de julho analisando as razões para a falência da empresa. A baixa demanda de soja moída havia prejudicado seus negócios e, devido ao endurecimento da política monetária do PCC, suas vendas se deterioraram. Finalmente, à medida que aumentava o custo da soja importada, a empresa se tornava incapaz de manter suas operações, informou Nikkei.
No último ano, desde Shandong até a província sulista de Guangxi, ao menos 20 trituradores de soja diminuíram ou pararam a produção.
Aumento do preço
Com as atuais tarifas norte-americanas sobre a soja, a China enfrenta uma escassez de suprimentos. As importações de soja caíram em julho, o que fez com que os preços da soja e do farelo de soja na China subissem rapidamente.
O Brasil, maior exportador de soja do mundo, está preparado para aumentar sua safra e vender sua soja. Em geral, a China comprava a soja norte-americana, que começará a ser colhida no outono. Sem essa soja, a China, sendo o maior consumidor do mundo, estará em apuros.
“Agora que nos aproximamos da temporada de soja dos Estados Unidos (em setembro), notícias como a escalada da guerra comercial e a queda nas importações terão um impacto maior nos preços”, disse à Reuters Pan Tiantian, analista da Zheshang Futures. Os Estados Unidos são o segundo maior fornecedor de soja para a China.
Analistas acreditam que a China ainda precisará importar soja norte-americana — e pagar as tarifas — para compensar o déficit na oferta.
“Brasil e Argentina não podem atender todas as necessidades da China, especialmente depois de uma seca que causou uma queda anual de 40% na produção da Argentina e devido a problemas de transporte no Brasil”, segundo um relatório do Morgan Stanley publicado em agosto.
“Portanto, no médio prazo, é provável que a China continue dependendo das importações dos Estados Unidos e que o desconto no preço de Chicago em relação à América Latina seja reduzido no futuro”, diz o relatório, referindo-se aos preços no mercado de futuros.