Poe Annie Wu, Epoch Times
A mídia estatal chinesa deixou de fora alguns detalhes conspícuos em sua cobertura do encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping, na cúpula do G-20 em Buenos Aires, Argentina.
As negociações do G-20 resultaram em um cessar-fogo. Após a conclusão da reunião em 1 de dezembro, o secretário de imprensa da Casa Branca enviou uma declaração com detalhes sobre o resultado, incluindo a decisão principal de Trump de suspender o aumento da tarifa sobre as importações chinesas no valor de US$ 200 bilhões de 10 para 25 por cento em 1 de janeiro.
Enquanto isso, a China concordou em comprar mais bens dos Estados Unidos para reduzir o superávit comercial que tem atualmente com o país – incluindo produtos agrícolas.
Os dois líderes concordaram com uma trégua, desde que nos próximos 90 dias, a China e os Estados Unidos negociem “sobre mudanças estruturais no que diz respeito à transferência forçada de tecnologia, proteção à propriedade intelectual, barreiras não-tarifárias, intrusões cibernéticas e furto cibernético, serviços e agricultura”. Mas se no final do período de 90 dias, as duas partes não conseguirem chegar a um acordo, o aumento tarifário programado entrará em vigor.
A mídia estatal chinesa pintou um quadro diferente das negociações. A mídia estatal Xinhua publicou seu artigo sobre a reunião Xi-Trump após 1 hora da tarde. em 2 de dezembro, horário de Pequim, com descrições de como os dois líderes se reuniram em uma “atmosfera honesta e amigável”.
O relatório menciona que os Estados Unidos concordaram em “parar de adicionar novas tarifas”, mas não explicam o prazo de 90 dias, nem o acordo para negociar questões de roubo de propriedade intelectual e barreiras comerciais. “As equipes econômicas dos dois países vão intensificar as consultas, avançando no sentido de eliminar todas as tarifas adicionais, para um acordo concreto de benefício mútuo”, diz o relatório.
A Xinhua também não fez menção às promessas da China de comprar mais produtos dos Estados Unidos e a um detalhe na declaração da Casa Branca sobre a tentativa fracassada da Qualcomm de comprar a NXP Semiconductors depois dos reguladores chineses não aprovarem o acordo.
“O presidente Xi também declarou que está aberto a aprovar o acordo não aprovado da Qualcomm-NXP, caso seja novamente apresentado a ele”, dizia o comunicado da Casa Branca. A Qualcomm anunciou que cancelaria sua oferta para comprar a empresa com sede na Holanda em julho, depois que o regulador desconfiado da China não tomou nenhuma decisão sobre a aprovação do prazo.
A Qualcomm precisava da aprovação da China porque o país respondia por quase dois terços da receita da empresa no ano passado, segundo a Reuters.
Os únicos detalhes que combinaram tanto na declaração da Casa Branca quanto no relatório da Xinhua foram a decisão de Xi de controlar mais rigorosamente o fentanil na China e o compromisso dos dois líderes com a desnuclearização na Coréia do Norte.
É importante salientar que o artigo da Xinhua em chinês não detalhou as medidas de controle sobre o fentanil que a China irá implementar, enquanto a declaração da Casa Branca disse que Xi decidiu designar o fentanil como uma “substância controlada, significando que as pessoas que vendem fentanil para os Estados Unidos estarão sujeitas à penalidade máxima da China sob a lei”.
Essas óbvias omissões pintam a China com uma posição mais positiva nas negociações comerciais, parecendo que os Estados Unidos haviam cedido com o fim da progressão das tarifas.
Fentanil
A China é o país de origem da maior parte do fentanil ilícito encontrado nos Estados Unidos. A droga, cerca de 100 vezes mais potente que a morfina, está no centro da atual crise de opióides, com quase 30.000 mortes por overdose envolvendo fentanil e similares – apresentando um total de mais de 72.000 mortes por overdose por drogas em 2017, segundo o U.S. National Institute on Drug Abuse.
A administração dos Estados Unidos descobriu que os fabricantes na China conseguiram explorar brechas no sistema de embarque dos Estados Unidos para contrabandear fentanil para o país e há muito tempo buscam cooperação das autoridades chinesas para reprimir o fentanil e outros fabricantes de drogas sintéticas na China.
No entanto, as empresas farmacêuticas chinesas – até empresas de capital aberto – operam sem repercussões há muito tempo.
As autoridades chinesas também já negaram que a China fosse o principal produtor de fentanil.
Por exemplo, durante uma coletiva de imprensa diária com o Ministério das Relações Exteriores da China em 27 de novembro, o porta-voz respondeu à pergunta de um repórter sobre os esforços da China para conter o fentanil: “O lado americano denunciou a China por ser a principal fonte de fentanil nos Estados Unidos mas nunca forneceu à China dados precisos e evidências efetivas [sobre isso]”.
Em um artigo de agosto de 2018 do jornal estatal Global Times, Yu Haibin, chefe da Comissão Nacional de Controle de Narcóticos da China, reiterou essa posição e foi citado dizendo: “Eu não sei onde se originou a base para essa afirmação. A China não pode absolutamente aceitar isso”.
Após as notícias das negociações do G-20, a mídia chinesa continuou a negar a responsabilidade.
Um artigo de 2 de dezembro publicado pelo China Securities Journal tentou explicar o que é o fentanil, descrevendo-o como “um bom remédio” para reduzir a dor após a cirurgia ou usado como anestésico.
Da mesma forma, um artigo de 2 de dezembro do jornal financeiro chinês National Business Daily citou o artigo do Global Times de agosto para refutar as críticas dos Estados Unidos à produção desenfreada de fentanil na China.
As empresas farmacêuticas chinesas também se manifestaram em defesa própria para alegar à mídia chinesa que não exportam fentanil para os Estados Unidos. A Humanwell Hi-tech, uma empresa farmacêutica sediada na cidade de Wuhan, fez essa observação ao jornal chinês Economic Observer, enquanto a Nhwa Pharmaceutical Co., localizada na província costeira de Jiangsu, fez uma declaração similar ao National Business Daily em 2 de dezembro.
Frank Fang contribuiu para este relatório.
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