China vai usar scanners cerebrais para monitorar concentração de alunos em sala de aula

Neurocientistas e psicólogos questionaram a eficácia dessa tecnologia

28/01/2019 16:00 Atualizado: 28/01/2019 16:00

Por Elisabeth Li, Epoch Times

A China adquiriu recentemente tecnologia que pode monitorar os níveis de atenção dos estudantes em grande escala.

Os dispositivos tecnológicos Focus 1, desenvolvidos pela empresa norte-americana BrainCo, visam monitorar a concentração através da leitura e da tradução dos sinais cerebrais.

A BrainCo assinou contrato com um distribuidor chinês para fornecer 20 mil dispositivos.

O plano é distribui-los entre os estudantes a fim de “capturar dados de 1,2 milhão de pessoas”, disse o fundador e CEO da BrainCo, Bicheng Han, ao jornal The Independent.

De acordo com a página de Han no LinkedIn, ele se formou na Universidade de Harvard e foi membro da Associação de Acadêmicos e Estudantes da Universidade da China, um grupo para estudantes chineses no exterior.

A empresa realizou um estudo recente em escolas chinesas em que 10 mil estudantes entre 10 e 17 anos usaram o dispositivo, de acordo com a revista científica New Scientist.

Esses dispositivos tecnológicos são comercializados como um produto inovador que pode ajudar os professores a identificar alunos que precisam de ajuda adicional em sala de aula, usando sensores de eletroencefalografia (EEG) para detectar a atividade cerebral.

As luzes incorporadas aos dispositivos piscam com cores diferentes, dependendo dos diferentes níveis de concentração do usuário. O sistema de código de cores, por sua vez, alerta o professor para a atenção do aluno em sala de aula.

Neurocientistas e psicólogos questionaram a eficácia dessa tecnologia.

Em um artigo publicado em outubro de 2017 sobre a tecnologia da BrainCo, Sandra Loo, professora de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse ao EdSurge, um site de notícias sobre educação, que fatores como a variação natural na atividade neurológica entre humanos podem levar a conclusões equivocadas sobre como um indivíduo está funcionando e do que ele precisa.

Em 2016, no Consumer Electronics Show realizado em Las Vegas, quando a BrainCo fez sua primeira demonstração pública dos dispositivos Focus 1, os aparelhos não atenderam às expectativas. Eles gravaram ondas cerebrais apesar de não terem sido usados na época, questionando seu funcionamento geral.

“Eu não vi nenhuma informação que indique que você pode dissociar [em um exame de EEG] se alguém está prestando atenção ao professor ou ao seu telefone ou apenas a seus próprios pensamentos internos ou devaneios”, disse Theodore Zanto, professor de neurologia da Universidade da Califórnia em San Francisco, para o EdSurge. Alunos que usam fones de ouvido “podem ser incrivelmente focados, mas focados no alvo errado, e você pode obter as mesmas medidas de EEG”.

Mas mesmo que a tecnologia forneça leituras precisas, ela desperta preocupações sobre as questões legais de proteção de dados e privacidade.

Além disso, o uso dessa tecnologia desafia os limites éticos sobre até que ponto as escolas podem e devem “treinar” as crianças.

Os resultados dos testes feitos na China ainda não foram publicados nas revistas especializadas.

O monitoramento dos estudantes se generalizou com o apoio do regime chinês e a promoção do desenvolvimento de equipamentos de vigilância de alta tecnologia. Em dezembro de 2018, internautas chineses expressaram preocupação com a notícia de que mais de 10 escolas na província de Guizhou teriam que adotar “uniformes inteligentes” com chips eletrônicos que rastreiam movimentos.

Os chips podem rastrear a localização exata de cada aluno e podem acionar um alarme quando o sensor detectar que um aluno caiu no sono durante a aula.

A notícia causou preocupação quanto à violação da privacidade dos alunos.

Em maio de 2018, uma escola secundária na cidade de Hangzhou usou câmeras com tecnologia de reconhecimento facial para rastrear a atenção dos alunos nas aulas. Essas câmeras escaneiam os rostos dos alunos a cada 30 segundos para analisar suas expressões faciais e detectar seu ânimo. Cada aluno recebeu uma pontuação baseada em quão bem eles pareciam estar prestando atenção durante a aula.