Por Frank Dong
O regime chinês planeja promover seu recém-desenvolvido yuan digital nas próximas Olimpíadas de Inverno em Pequim. Especialistas alertam que a moeda digital pode ameaçar a hegemonia do dólar americano no futuro.
As Olimpíadas de Inverno são daqui a algumas semanas. A agência de notícias oficial do regime chinês, Xinhua, afirmou no início deste mês que o yuan digital está pronto para funcionar durante os jogos: as pessoas podem usá-lo “por meio de aplicativos de carteira instalados em seus telefones celulares ou de carteiras físicas na forma de cartões e acessórios como como relógios inteligentes e luvas ou crachás de esqui”.
Mas os políticos americanos alertaram os atletas de seu país para manterem-se longe do sistema.
O congressista Lance Gooden (Republicano do Texas), junto com os representantes Markwayne Mullin (Republicano de Oklahoma), Lisa McClain (Republicada do Michigan) e Jake Ellzey (Republicano do Texas) enviaram uma carta no dia 16 de dezembro ao Comitê Olímpico e Paraolímpico dos Estados Unidos, exortando-os a proibir os atletas americanos de adquirir ou usar a nova forma de moeda durante os jogos. Ele pode ser usado para monitorar cidadãos chineses e aqueles que visitam a China em uma escala sem precedentes, na esperança de que eles mantenham carteiras digitais em yuans em seus smartphones e continuem a usá-las após seu retorno”, afirmou a carta.
O yuan digital, ou e-CNY, é uma moeda digital do banco central (CBDC) emitida e regulamentada pela autoridade monetária de um país.
Ao contrário das criptomoedas, outro tipo de moeda digital exemplificada pelo bitcoin, que é descentralizado e pode escapar da supervisão, o CBDC é altamente centralizado e supervisionado de perto pelos governos.
O CBDC da China é supervisionado pelo Banco Popular da China (PBOC), seu banco central. Ao contrário das instituições financeiras americanas que promovem a proteção da privacidade, todas as contrapartes chinesas devem “cooperar” com a parte para entregar as informações pessoais dos clientes incondicionalmente, se as autoridades considerarem necessário.
Um relatório de 2020 do Conselho Atlântico afirmou que, devido às impressões digitais eletrônicas da moeda digital e ao monitoramento do PBOC das atividades da carteira digital, o regime chinês pode rastrear todos os movimentos do yuan digital, bem como a identidade de todas as partes da transação.
Tendo iniciado o desenvolvimento de negócios em 2017, a China é agora a líder no avanço do CBDC. Embora a data oficial de lançamento do novo yuan não tenha sido anunciada, Pequim está ansiosa para promovê-la nos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro de 2022, como um prelúdio para seu lançamento.
Funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) têm enfatizado repetidamente que o yuan digital será usado principalmente para pagamentos domésticos em comerciantes, mas alguns especialistas acreditam que o regime possui um plano para internacionalizar seu novo dinheiro fiduciário na esperança de que possa tirar a hegemonia do dólar.
Abishur Prakash, um especialista canadense em geopolítica e tecnologia, afirmou à VOA que desde a ascensão das cinco economias emergentes, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) em 2009, há especulações de que o yuan substituiria o dólar. Mas não foi assim. Agora, com o yuan digital no horizonte, o atual sistema monetário mundial, dominado pelos Estados Unidos, pode ser remodelado no futuro, declarou ele.
Devido à sua grande facilidade de uso e ao gerenciamento em tempo real das transações e trocas, o CBDC tornou-se um tema importante nos últimos anos. Dezenas de países, incluindo os Estados Unidos, estão estudando a viabilidade de introduzir seus próprios CBDCs. E a China está liderando o caminho.
Alguns especialistas afirmam que a China pode aproveitar a iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” para expandir seu sistema de pagamentos eletrônicos em moeda digital. Com o yuan digital como moeda comum, os custos comerciais entre os quase 70 países e organizações participantes cairiam consideravelmente, um negócio que pode ser lucrativo demais para resistir.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o dólar americano tem sido a maior moeda de reserva do mundo. Em 2020, 60% das reservas cambiais eram denominadas em dólares, enquanto apenas 2,25% eram em yuans.
Parece que o regime chinês tem um longo caminho a percorrer para desafiar o dólar, mas o regime comunista parece estar marchando firmemente em direção a seu objetivo.
De acordo com um relatório do Financial Times de outubro, a China pressionava o McDonald’s a utilizar carteiras digitais em yuans antes das Olimpíadas. Cerca de 270 restaurantes McDonald’s em Xangai instalaram um sistema que permitia aos consumidores pagar com moeda eletrônica, e Pequim estava pedindo à rede de fast-food que expandisse sua cobertura para toda a China.
A Visa, principal patrocinadora das Olimpíadas, e a Nike, patrocinadora da seleção americana, enfrentaram situação semelhante, acrescentou o relatório.
O diretor do banco central da China, Yi Gang, reiterou recentemente que o yuan digital se destina atualmente a aplicação doméstica, “enquanto as transações internacionais de e-CNY exigirão mais discussão”. Mas o Global Times, um dos porta-vozes mais influentes do PCC, relatou no mês passado que a província de Hainan, no sul da China, promoverá o teste e o uso do yuan digital no comércio internacional e serviços financeiros como parte de seu plano de desenvolvimento para o Livre Comércio do Porto de Hainan.
Este é o mais recente esforço do regime para globalizar sua moeda digital. Em janeiro, o sistema global de pagamentos transfronteiriços, SWIFT, criou uma empresa conjunta com o instituto de pesquisa do PBOC sobre moeda digital e câmara de compensação, o Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços da China (CIPS) e a Associação de Pagamento e Compensação da China.
O escopo de negócios da empresa sediada em Pequim inclui integração de sistemas de informação e processamento de dados. De acordo com alguns analistas, era um sinal claro de que a China estava pressionando agressivamente pela internacionalização do yuan digital e tentando estabelecer um sistema alternativo para erodir o domínio do dólar.
Embora a sede da SWIFT seja na Bélgica, ela opera no sistema de liquidação global em dólares americanos. Washington costuma usar o sistema como uma ferramenta para impor sanções econômicas aos Estados, incluindo a China e seus aliados.
A empresa conjunta pegou muitos especialistas de surpresa. Prakash afirmou à VOA que isso ocorreu em meio a tensões crescentes entre os Estados Unidos e a China, quando havia especulações de que os Estados Unidos expulsariam a China ou Hong Kong da SWIFT. O contra-ataque da China “tem como alvo o dólar, obviamente”, afirmou ele.
Analistas relatam que Pequim atraiu a SWIFT com seu enorme mercado para ajudá-la a aumentar o uso do sistema CIPS da China. Dessa forma, a China poderia não apenas se livrar do próprio sistema do dólar, mas também ajudar seus aliados, como o Irã, a reduzir sua exposição ao risco do sistema americano e, assim, ganhar sua influência geopolítica.
Após trabalhar com a SWIFT, o próximo movimento do regime seria buscar cooperação para conectar o yuan digital ao setor de comércio. Uma das estratégias prováveis, de acordo com alguns observadores, poderia ser fazer uso das plataformas de pagamento transfronteiriças WeChat Pay e Alipay que chegaram ao mercado dos EUA anos atrás. O novo esforço precisa de parcerias com empresas americanas, muitas das quais provavelmente não diriam “não” aos enormes benefícios.
O ex-presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva no dia 5 de janeiro para proibir as empresas americanas de negociar com WeChat Pay, Alipay e 6 outros aplicativos desenvolvidos pela China, mas o esforço foi revertido pelo governo Biden.
Alguns críticos afirmaram que Washington deveria prestar atenção às implicações da ambiciosa moeda digital da China. “O governo, o Congresso e as comunidades de think thanks precisam investigar essa questão e seu amplo impacto hoje, não anos após um problema maior surgir”, declarou Eric Sayers, do American Enterprise Institute, ao Financial Times.
O Grupo das Sete Principais Economias tentou estabelecer diretrizes para os CBDCs em uma reunião no Reino Unido, em outubro. Qualquer moeda digital emitida por um banco central, afirmaram os líderes financeiros do G7 em um comunicado, deve atender a rigorosos padrões de privacidade, transparência e responsabilidade para a proteção dos dados do usuário. “Deve basear-se em compromissos públicos de longa data com a transparência, o estado de direito e a boa governança econômica”, acrescentaram.
Com informações de Ao Tang.
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