A China publicou nesta segunda-feira um relatório no qual acusa os Estados Unidos de usarem múltiplos métodos para manter a sua “supremacia mundial”, que considera um risco global, justamente quando as relações entre os dois países vivem momentos de tensão.
O Ministério das Relações Exteriores do gigante asiático compartilhou hoje um documento intitulado “Hegemonia americana e seus perigos”, no qual defende que Washington “tem agido com mais audácia” desde o fim das guerras mundiais para “interferir nos assuntos internos” de outros países.
A publicação consiste em cinco pontos nos quais se analisa a hegemonia política, militar, econômica, tecnológica e cultural dos EUA ao longo da história – do ponto de vista de Pequim -, pouco depois que a “crise dos balões” e acusações de interferência na guerra da Ucrânia prejudicaram as relações bilaterais.
O Ministério das Relações Exteriores da China culpa os EUA por organizar “revoluções” ou lançar guerras para “promover a democracia”, enquanto mantém uma “política de blocos” que “alimenta conflitos e confrontos”.
A China dá como exemplo as “interferências por conta da ‘Nova Doutrina Monroe'” na América Latina, utilizada para defender o princípio da “América para os americanos”, mas que segundo as autoridades chinesas representa “América para os Estados Unidos”.
O relatório cita um livro do ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, no qual o político revelou que o país tinha planejado “intervir na Venezuela” para, entre outras coisas, “obrigar (o presidente, Nicolás) Maduro a chegar a um acordo com a oposição” ou “privar o país de sua capacidade de vender petróleo ou ouro por moeda estrangeira”.
No âmbito da “hegemonia militar”, o relatório elenca os conflitos dos quais os EUA participaram desde sua independência em 1776.
A pasta de Exteriores chinesa destaca que os EUA têm um orçamento militar anual de US$ 700 bilhões, que cobre “40% do total do planeta” e “mais do que a combinação dos 15 países que aparecem logo abaixo”.
Os próximos na lista, nesta ordem, são China, Índia, Reino Unido e Rússia, de acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI).
O relatório chinês ressalta ainda que a “hegemonia dos EUA em nível econômico” foi alcançada após a criação de diferentes organizações para “formar o sistema monetário internacional em torno do dólar”, que é “a principal fonte de instabilidade e incerteza na economia mundial”.
Da mesma forma, argumenta que durante a pandemia os EUA “injetaram trilhões de dólares no mercado global”, o que causou a desvalorização de outras moedas e “um grande número de países em desenvolvimento foi afetado pela alta inflação”.
No campo tecnológico, a China enfatiza que os EUA “procuram desencorajar o desenvolvimento científico” de outros países “exercendo monopólio e restrições em campos de alta tecnologia”.
Por fim, considera que a “expansão global” da cultura americana é parte essencial de sua “estratégia externa”, e insta os EUA a “examinar de forma crítica” suas ações, além de abandonar “a arrogância e o preconceito” e “suas práticas hegemônicas e de intimidação”.
Este relatório é mais um capítulo das divergências entre as duas principais potências, protagonistas de recentes impasses econômicos e diplomáticos em diversas áreas, como a situação em Taiwan ou as sanções comerciais e tecnológicas impostas por ambas.
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