Por Erik Olson
Classificada como infraestrutura crítica pelo Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a fabricação de trens de carga é parte essencial — mas muitas vezes negligenciada — do aparato de segurança no transporte de uma nação. Tanto empresas quanto governo dependem igualmente dos trens que carregam mais de 5 milhões de toneladas de mercadorias e materiais por todo o país todos os dias, desde produtos agrícolas até equipamentos militares, e até mesmo resíduos nucleares e produtos químicos perigosos.
Essa indústria tem sido atacada nos últimos anos pelo regime chinês, algo que tem importantes implicações para a segurança nacional dos Estados Unidos. A empresa China Railway Rolling Stock Corporation (CRRC), um conglomerado ferroviário estatal chinês, está usando ativamente financiamentos e investimentos respaldados pelo regime para oferecer um preço até 50% menor do que os concorrentes mundiais.
A CRRC é de longe o maior fabricante de trens do mundo e controla mais de 83% do mercado ferroviário mundial. É quatro vezes maior do que todo o setor de construção ferroviária dos Estados Unidos e utiliza vantagens financeiras desleais para reduzir seus custos e importar os seus produtos ferroviários acabados e de aço.
A China deixou claro que pretende dominar muitas indústrias norte-americanas, ambicionando ostensivamente não só a fabricação de trens mas também a fabricação avançada, a robótica e a inteligência artificial através de sua iniciativa chamada Feito na China 2025 (Made in China 2025). Nos próximos três anos, a CRRC pretende garantir 15 bilhões de dólares em pedidos estrangeiros e estabelecer 11 escritórios regionais em todo o mundo. Essas ambições representam sérios riscos não só para a segurança nacional dos Estados Unidos, mas também ameaçam sua segurança econômica. Mais de 6,5 bilhões de dólares do PIB e 65 mil empregos criados pela indústria ferroviária dos Estados Unidos estão em perigo.
Embora a segurança econômica seja vital para o sucesso norte-americano, sua maior preocupação é a ameaça representada pelo conglomerado chinês para sua segurança nacional, que depende de uma base industrial saudável e da produção nacional de trens e peças, dando assim apoio a infraestruturas críticas. Uma crescente dependência dos Estados Unidos de trens — parciais e terminados de governos estrangeiros potencialmente hostis ou não cooperativos — coloca em risco essa segurança.
Se a capacidade norte-americana de fabricar trens for afetada, seremos obrigados a depender de países como a China para atender às nossas necessidades básicas e militares de infraestrutura ferroviária. Em tempos de crescente incerteza global, esse é um risco que os Estados Unidos não podem correr.
A tecnologia de trens opera através de uma ampla gama de redes de supervisão com sistemas independentes de monitoramento de carga e passageiros. Dentro dos próximos 15 anos, a tecnologia da Internet das Coisas (IoT) será cada vez mais importante para as necessidades industriais e de transporte da nação. A Internet das Coisas é uma rede de objetos físicos, veículos, prédios e outros que possuem tecnologia embarcada, sensores e conexão e uma rede capaz de coletar e transmitir dados. Ao implementar a tecnologia IoT em vagões de carga e de passageiros, as empresas poderão monitorar centenas de sensores dos quais se depende para saber a temperatura do vagão e o peso da carga, juntamente com a abertura remota de portas e o rastreamento de outras métricas nos vagões de carga.
Permitir que uma organização de propriedade chinesa tenha pleno acesso à tecnologia presente nos trens norte-americanos representa uma séria ameaça à segurança nacional, já que esses veículos viajam através de cada base militar e cada grande cidade dos Estados Unidos. A pergunta que precisamos fazer é se podemos confiar tecnologia vital e compilações de dados nas mãos de um potencial inimigo.
Temos visto o governo dos Estados Unidos proibir determinadas empresas chinesas de tecnologia. Por exemplo, o Departamento de Defesa proibiu o uso em bases militares de câmeras fabricadas na China e restringiu o acesso do fabricante chinês de computadores Lenovo. Por que então ainda não protegemos as ferrovias e a infraestrutura ferroviária da nação?
A tecnologia de trens evolui rapidamente e pode potencialmente permitir que entidades estrangeiras acessem nossos dispositivos e dados, mas sua presença física representa um tipo diferente de ameaça, o que é ainda mais grave. Materiais sensíveis, como resíduos perigosos e maquinaria militar, são transportados diariamente através de toda a nação. Esses materiais são transportados apenas por trens de carga. Assegurar que esse setor não seja afetado por novas ameaças estrangeiras e em mutação é essencial para manter a segurança do nosso país, agora e no futuro. Sem a nossa capacidade nacional de produzir trens de carga, estaríamos vulneráveis e dependeríamos da China como peça chave da infraestrutura de segurança de nossa nação.
O Congresso dos Estados Unidos reconhece a gravidade das ameaças representadas pela China, especialmente em relação à natureza crítica da indústria de fabricação de trens norte-americana. Recentemente, como parte da Lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA), a Câmara e o Senado aprovaram uma legislação que moderniza o Comitê de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (CFIUS), o qual irá aumentar a supervisão de entidades estrangeiras que tentam adquirir infraestrutura crítica.
Embora esta seja uma grande vitória, o Congresso e a administração Trump devem continuar intensificando seus esforços para proteger a infraestrutura crítica do país. Isso pode ser conseguido através da realização de revisões sólidas de investimentos em empresas estatais, criando padrões universais de integridade dos dados e internet quando os contratos são realizados com entidades apoiadas por Estados estrangeiros, e fortalecendo ainda mais as leis de supervisão do “Buy America”. Ao abordar essas medidas, os Estados Unidos permanecerão um passo à frente da China.
Uma indústria nacional forte e dinâmica de trens de carga tem sido essencial para o crescimento, desenvolvimento e segurança da nação. Com esse legado agora ameaçado, é hora de nossos líderes e legisladores se reunirem em torno de soluções inteligentes e de senso comum para proteger o mercado. O futuro do nosso país depende disso.
Erik Olson é vice-presidente da Rail Security Alliance, uma parceria entre empresas fabricantes de trens de carga, sindicatos e grupos de interesse norte-americanos de toda a indústria ferroviária dos Estados Unidos que busca garantir a segurança do sistema ferroviário no país