China exerce influência nos EUA através do TikTok e do WeChat, afirma especialista

'É essencial lembrar que todas as empresas de tecnologia chinesas estão sujeitas ao controle do Partido Comunista Chinês'

23/11/2021 20:14 Atualizado: 23/11/2021 20:14

Por Frank Fang

O regime comunista em Pequim está usando os aplicativos populares WeChat e TikTok para exercer influência sobre os americanos e à diáspora chinesa, afirmou um especialista na China aos legisladores dos EUA, em 17 de novembro.

“É essencial lembrar que todas as empresas de tecnologia chinesas estão sujeitas ao controle do Partido Comunista Chinês [PCC]”, afirmou Wang Yaqiu, pesquisadora sênior da Human Rights Watch com base em Nova Iorque, durante uma audiência promovida pela Comissão Executiva do Congresso sobre a China (CECC).

Wang declarou que o TikTok, que anunciou em setembro possuir 1 bilhão de usuários ativos em todo o mundo, não é um aplicativo de mídia social normal e coloca seus usuários em risco.

“Não há como pessoas de fora saberem quais informações estão sendo suprimidas ou promovidas no TikTok devido à influência do governo chinês”, afirmou.

“O que você vê no TikTok não é especificamente decidido por quem você segue, mas pelo algoritmo da empresa.”

“Se você pesquisar a hashtag Xinjiang, encontrará muitos vídeos com uigures sorridentes e dançantes, mas não tantos vídeos que [são] sobre os campos e a vigilância e as violações aos direitos humanos”, acrescentou Wang. “Por que é este o caso? Nós não sabemos”.

Mais de 1 milhão de minorias muçulmanas étnicas, incluindo os uigures, do Cazaquistão, e as pessoas do Quirguistão, estão detidos em cerca de 1.200 campos de internamento na região noroeste da China, em Xinjiang, de acordo com o relatório de 2019 do Departamento de Estado dos EUA sobre o tráfico de pessoas. Pequim afirma que esses campos são “centros de treinamento vocacional”.

Dentro desses campos, os detidos são conhecidos por estarem sujeitos a violações dos direitos humanos, incluindo esterilização forçada, aborto forçado, estupro, tortura, trabalho forçado e remoção de crianças de suas famílias.

Em janeiro, os Estados Unidos designaram a campanha de supressão em Xinjiang como “genocídio” e “crimes contra a humanidade”.

Vista geral do edifício do TikTok, em Culver City, Califórnia, em 17 de novembro de 2020 (Valerie Macon / AFP via Getty Images)
Vista geral do edifício do TikTok, em Culver City, Califórnia, em 17 de novembro de 2020 (Valerie Macon / AFP via Getty Images)

O centro de estudos baseado em Canberra, Australian Strategic Policy Institute (ASPI), apontou para a estranheza na classificação dos vídeos do TikTok em março, em seu último relatório sobre como Pequim usa a mídia social dos EUA para espalhar propaganda de Xinjiang.

O relatório descobriu que um vídeo com a legenda “Uigur gratuito” e 2.831 curtidas ficou em 129º lugar na página hashtag de Xinjiang em março. Enquanto isso, três vídeos mostrando as belas paisagens de Xinjiang foram classificados entre os 10 primeiros e cada um teve menos de 600 curtidas.

“Há muito que não sabemos sobre o que as empresas de tecnologia chinesas estão fazendo nos EUA, o que está sendo censurado, promovido e suprimido e como os dados estão sendo acessados, usados ​​e compartilhados”, afirma Wang. “E até que ponto o governo chinês está … dizendo a elas para fazerem essas coisas”.

Em outubro, o vice-presidente do TikTok, Michael Beckerman, testemunhou perante o Congresso em um momento em que a política de privacidade da empresa estava sob escrutínio. O senador Ted Cruz (Repulicano do Texas) fez várias perguntas a Beckerman sobre se a linguagem vaga na política daria à empresa-mãe do TikTok, a ByteDance, com sede na China, e suas afiliadas, acesso aos dados do usuário coletados pelo TikTok.

A recusa de Beckerman em dar uma resposta de sim ou não às perguntas levou Cruz a afirmar que o executivo do TikTok estava “escondendo algo”. O senador acrescentou que Beckerman evitou perguntas “mais do que qualquer testemunha” que já vira no Senado.

WeChat

Wang afirma que os chineses que vivem nos Estados Unidos ainda dependem fortemente do WeChat, o aplicativo de mídia social mais popular da China. O WeChat é propriedade da empresa de tecnologia chinesa Tencent.

“É impossível não usar o WeChat para viver sua vida”, relatou Wang. “Essa conveniência fornecida pelo WeChat nos leva a todos para o sistema”.

Ela afirma que o aplicativo está sendo usado para tudo, desde informação e comunicação à organização política.

“Essa forte dependência desse único aplicativo para tudo entrega a Pequim grande latitude para moldar as visões da diáspora [chinesa] de maneiras mais favoráveis ​​ao PCC”, declarou Wang.

“Isso permite que Pequim saiba muito sobre as pessoas que deixaram a China, até coisas como quem vai se encontrar com quem, a que horas e onde. Ele também permite que Pequim mobilize potencialmente um importante grupo demográfico nos EUA.”

Em maio de 2020, o cão de guarda digital do Canadá, o Citizen Lab, revelou em seu relatório que o WeChat monitorava as comunicações entre seus usuários fora da China para melhorar seu algoritmo de censura de contas baseadas na China.

Existem cerca de 1,2 bilhão de usuários ativos mensais do WeChat em todo o mundo. De acordo com o testemunho escrito de Wang (pdf), há cerca de 19 milhões de usuários ativos diários do WeChat nos Estados Unidos.

Imagem ilustrativa mostrando o logotipo do aplicativo chinês de mensagens instantâneas, WeChat, na tela de um tablet, em 24 de julho de 2019 (Martin Bureau / AFP / Getty Images)
Imagem ilustrativa mostrando o logotipo do aplicativo chinês de mensagens instantâneas, WeChat, na tela de um tablet, em 24 de julho de 2019 (Martin Bureau / AFP / Getty Images)

Wang fez alusão a um relatório recente da empresa de segurança norte-americana, Mandiant Threat Intelligence, alertando sobre como o WeChat poderia ser explorado de maneira semelhante. Esse relatório descobriu que os operadores pró-Pequim usaram dezenas de plataformas de mídia social, incluindo Facebook, Twitter e YouTube, em tentativas malsucedidas de mobilizar asiático-americanos para protestar contra a “injustiça racial” nos Estados Unidos.

“Não sabemos se esquemas semelhantes visando a diáspora chinesa estão acontecendo no WeChat porque é difícil fazer pesquisas”, afirmou Wang.

Além disso, o WeChat potencialmente abre a porta para o regime chinês entrar em contato com os movimentos sociais dos EUA, advertiu Wang, considerando que a diáspora chinesa tem usado o WeChat para organizar atividades de apoio à ação anti-afirmativa.

“A ideia de que um movimento muito importante pelos direitos civis nos Estados Unidos, e que a organização desse movimento é em uma plataforma que é controlada pelo governo chinês, que pode ser manipulada pelo regime chinês, é definitivamente uma fonte de preocupação”, declarou.

Da mesma forma, Wang expressou preocupação com os protestos contra o racismo asiático na cidade de Nova Iorque, porque algumas dessas atividades eram organizadas no WeChat. Ela ofereceu algumas recomendações aos legisladores, incluindo a aprovação de leis para exigir que as empresas de tecnologia que operam nos Estados Unidos sejam mais transparentes.

“Exorto o governo dos Estados Unidos a investir em jornalismo e mídia em língua chinesa. Disponibilizar informações baseadas em fatos em nosso idioma nativo é uma das maneiras mais eficazes de conter a influência maligna de Pequim.”

Funcionários do TikTok e da Tencent não responderam imediatamente aos pedidos do Epoch Times para comentários.

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