Na China, a tecnologia digital, especialmente de vigilância e segurança, tem se tornado cada vez mais invasiva na vida das pessoas.
Tecnologia de reconhecimento facial já é usada para pagar bens em lojas e restaurantes, e o sistema de vigilância do país, atualmente com 20 milhões de câmeras de segurança e planos para outras milhões visando cobrir toda a nação, tem capacidade de coletar informações pessoais em tempo real.
O pagamento por celular tem tido amplo uso e é acessível em muitas das principais cidades chinesas, permitindo que os cidadãos paguem tarifas de táxi, uma refeição ou produtos num estande ou camelô nas ruas, ou um artista itinerante de rua com um simples escaneamento de smartphones.
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A China adotou os últimos avanços tecnológicos com uma espécie de fervor que tem preocupado observadores que um pesadelo orwelliano se torne realidade.
No entanto, a China tem maiores ambições.
Na conferência anual da internet no país, realizada de 3 a 5 de dezembro na cidade de Wuzhen, província de Zhejiang, o regime chinês anunciou sua determinação em se tornar o líder mundial em tecnologia de inteligência artificial (IA), por meio de uma apresentação sobre o assunto, de acordo para a DW News, um website de notícias pró-Pequim.
Citando uma reportagem sobre um instituto de pesquisa estabelecido pela empresa chinesa Tencent, a matéria louvava a China por situar-se como a segunda no mundo em termos do número de empresas de IA, atrás apenas dos Estados Unidos.
“No que diz respeito à implementação chinesa da tecnologia de IA, não se pode negar que a China já está indo muito melhor do que os Estados Unidos”, diz o artigo, citando inovações chinesas em carros sem motorista, casas inteligentes e uso de IA em tratamentos médicos. O sistema de vigilância mencionado acima, chamado “Skynet“, também emprega IA para prever características fisionômicas das pessoas capturadas em câmera de segurança.
“Os planos e a determinação da China para se tornar o líder mundial em IA não podem ser interrompidos”, afirmou.
Em julho, o regime chinês lançou um relatório modelo, intitulado “A Nova Era do Plano de Desenvolvimento de IA”, que prevê aumentar o valor de sua indústria de Tecnologia da Internet (TI) para US$ 520 bilhões, o que será de 2% do seu PIB até o ano de 2030.
Recentemente, a China também revelou que está interessada em se tornar uma inovadora no desenvolvimento da tecnologia de rede móvel 5G. O Diário da Manhã do Sul da China informou que a China quer aumentar sua participação nos direitos de propriedade intelectual da tecnologia 5G para mais de 10%. Com o 4G, as empresas de tecnologia chinesas não conseguiram estar entre os principais proprietários mundiais de direitos de propriedade intelectual, perdendo para empresas como Qualcomm, Samsung Electronics e Intel.
Enquanto isso, o comparecimento de destaque de dois altos funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) na conferência sinalizou que o regime colocou a inovação tecnológica em alta prioridade.
Wang Huning e Huang Kunming, chefes da ideologia e da propaganda do PCC, respectivamente, estiveram presentes na conferência, a primeira vez que os dois compareceram num grande evento desde que foram promovidos para os cargos durante o 19º Congresso Nacional em outubro deste ano.
Na conferência, Wang também defendeu o domínio da China, afirmando que o país deveria ter uma maior voz em como a internet opera no mundo, de acordo com uma matéria do Diário da Manhã do Sul da China.
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Os internautas chineses notaram a ironia de um Estado com forte censura hospedando um evento de destaque sobre a internet, e fizeram comentários sarcásticos no Weibo, o equivalente chinês do Twitter.
“Pessoas atrás da muralha convidam pessoas de fora da muralha para falar sobre compartilhar a internet. Qual é o significado disso?”, comentou um internauta, uma referência ao “Grande Firewall da China” que impede os cidadãos chineses de acessarem inúmeros websites da internet, incluindo o Google, Facebook, YouTube e Twitter.
Outro escreveu que a conferência deveria ser renomeada para “A Famosa Conferência ‘Erro 404’”, uma referência à mensagem de erro que aparece quando uma página da internet não é encontrada porque foi excluída pelos censores da internet na China.
Contribuíram: Wen Pu e Zhang Dun