China engaja em ‘coerção direta’ dos EUA, afirma deputado Bera

'Nossos esforços para responder à coerção econômica da RPC devem ser estratégicos, medidos e proativos', afirma deputado

10/01/2022 14:49 Atualizado: 10/01/2022 15:07

Por Andrew Thornebrooke

Os Estados Unidos devem fazer mais para entender como o regime comunista da China está alavancando a coerção econômica e política contra ele, de acordo com o deputado Ami Bera (Democrata da Califórnia).

“É extremamente importante que o governo dos Estados Unidos, seja democrata ou republicano, entenda como a China utiliza a coerção econômica”, declarou Bera durante um webinar organizado pelo Center for a New American Security (CNAS), um think tank de Washington.

“O que eles estão fazendo realmente é coerção direta.”

Desde o início da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China em 2018, represálias econômicas como tarifas, sanções e restrições a investimentos definiram cada vez mais a relação sino-americana.

Mais recentemente, relatórios documentaram uma maciça acumulação por parte do Partido Comunista Chinês (PCC), através do qual o regime continua a estocar recursos preciosos, como chips semicondutores e algodão. Isso foi feito aparentemente para se isolar dos efeitos dos controles comerciais dos EUA.

Bera destacou o problema da ambiguidade econômica e da dissuasão estratégica dos EUA, afirmando que o Congresso e o governo Biden precisam esclarecer melhor as ferramentas do país para conduzir a competição econômica e suas regras para implantá-las.

“Devemos ter alguma clareza em termos das ferramentas de dissuasão disponíveis”, declarou Bera, “e algumas dessas ferramentas são ferramentas econômicas de dissuasão”.

Esse esforço também é o assunto de uma proposta de lei bipartidária que Bera apresentou ao lado da Republicana do Missouri, Ann Wagner, chamada de Lei de Combate à Coerção Econômica da China.

Esse projeto de lei, se aprovado, exigiria que o presidente estabelecesse uma força-tarefa responsável por desenvolver e implementar uma estratégia para responder à coerção econômica do PCC e monitorar os custos e impactos associados a tal coerção.

“As políticas econômicas pesadas e predatórias da República Popular da China [RPC] prejudicam nossos parceiros e minam os interesses americanos muito além da região do Indo-Pacífico”, afirmou Wagner em comunicado.

“Nossos esforços para responder à coerção econômica da RPC devem ser estratégicos, medidos e proativos.”

Se os Estados Unidos podem influenciar o regime chinês sem inflamar as tensões, ou mesmo abrir linhas de diálogo significativas, no entanto, continua sendo uma questão em aberto para Bera.

“Seremos competitivos com a China no século 21. Isso é um fato”, declarou Bera. “A competição não é uma coisa ruim, [mas] podemos ter competição sem confronto direto?”

“Não precisamos adivinhar a direção que Xi Jinping quer levar à China.”

Para esse fim, Bera afirma que há um lado positivo no estilo de governo linha-dura e às vezes provocativo de Xi.

“Acho que a abordagem pesada que a China às vezes adota na verdade está fazendo nosso trabalho por nós”, relatou Bera.

“Eu teria dito três ou quatro anos atrás [por exemplo] que a Austrália estava adotando uma atitude um tanto ‘deixá pra lá’ em relação à China. Esse não é o caso hoje. Eles são provavelmente um dos nossos mais fortes aliados para entender como combater o que a China está fazendo em todo o mundo e certamente no Indo-Pacífico.”

Os EUA são mais lentos para agir do que a China

Os comentários de Bera também ajudaram a contextualizar um relatório divulgado pelo CNAS em dezembro, intitulado “Contendo a crise: conceitos estratégicos para a política econômica coercitiva”.

Esse relatório foi baseado em exercícios de cenário realizados pelo CNAS que descobriram que os Estados Unidos estavam geralmente menos dispostos do que a China a se envolver em coerção econômica muito agressiva e que os governos de ambas as nações ainda desejavam amplo acesso aos mercados um do outro.

“Embora tanto a China quanto os Estados Unidos possam estar dispostos a aceitar impactos econômicos negativos para perseguir objetivos geopolíticos, ambos também demonstram uma preferência por reter amplamente o acesso ao mercado do outro, o que pode restringir o uso das formas mais extremas de coerção econômica”. lê-se o relatório.

O relatório também observou que o PCC está disposto a usar uma gama muito maior de métodos para coagir economicamente os Estados Unidos e outros, enquanto os Estados Unidos geralmente se limitam a sanções direcionadas ou controles de exportação.

Notavelmente, o relatório descobriu que a estratégia econômica dos EUA visa, em geral, preservar o status quo internacional. Devido a isso, os Estados Unidos tendem a coordenar a política mais lentamente do que a China, pois buscam um equilíbrio entre a defesa de seus princípios e a redução de situações de conflito aberto.

O relatório recomendou que os Estados Unidos adotassem uma estratégia persuasiva em vez de coercitiva em relação ao seu conjunto de ferramentas econômicas e destacou a importância estratégica de melhorar as relações diplomáticas com as potências médias em toda a Ásia e no Indo-Pacífico.

Administração de Biden espera por uma nova estrutura do Indo-Pacífico

Os comentários de Bera ecoaram as observações feitas por Kurt Campbell, coordenador da Casa Branca para o Indo-Pacífico, durante um webinar organizado pelo Carnegie Endowment for International Peace, no dia 6 de janeiro.

Os comentários de Campbell, por sua vez, foram semelhantes ao prognóstico do relatório do CNAS. Campbell afirmou que o relacionamento dos Estados Unidos com nações menores em toda a Ásia e no Indo-Pacífico, particularmente no comércio, seria fundamental para quaisquer sucessos ou fracassos que possam ter na direção do futuro da região.

“Temos que deixar claro que não apenas estamos profundamente engajados diplomaticamente, militarmente, estrategicamente, [mas] que temos uma abordagem aberta, engajada e otimista para as interações comerciais [e de] investimento no Indo-Pacífico”, declarou Campbell.

“As muralhas, as áreas em que precisaremos competir no Indo-Pacífico, não são necessariamente apenas em competição militar, mas em arenas de tecnologia.”

Para esse fim, ele afirma que a nação precisaria encontrar uma estrutura comercial para substituir o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Trans-Pacífico (CPTPP), um acordo comercial de 19 nações que surgiu da Parceria Trans-Pacífico (TPP), do qual o governo Trump se retirou em 2017.

O ex-presidente Donald Trump rejeitou o TPP e se retirou do acordo proposto devido às críticas de que era ruim para o mercado de trabalho americano. Funcionários do governo Biden relataram há meses que estão engajados em um esforço para criar uma nova e mais robusta estrutura econômica para o Indo-Pacífico. No entanto, nada se materializou ainda do esforço.

Ao todo, Campbell sinalizou que uma nova estrutura seria finalizada, mas também advertiu que uma competição real e significativa seria a característica que definirá as relações sino-americanas nas próximas décadas.

“A proposta geral do governo Biden é que o paradigma dominante entre os Estados Unidos e a China será cada vez mais definido pela competição”, afirmou.

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