O Massacre da Praça da Paz Celestial completa 35 anos nesta terça-feira com as habituais restrições de acesso à emblemática praça em Pequim, enquanto em Hong Kong foi intensificada a vigilância para impedir a realização de qualquer vigília alusiva ao evento.
Dessa forma, Taiwan é o único território de língua chinesa que vai lembrar o aniversário com um evento no centro, onde o seu presidente, William Lai (Lai Ching-te), garantiu hoje que a memória do massacre “não desaparecerá na torrente de história”.
Mais de três décadas depois dos acontecimentos ocorridos na noite de 3 para 4 de junho de 1989, quando soldados e tanques do Exército de Libertação Popular do regime comunista chinês se dirigiram a essa praça central de Pequim, o assunto continua a ser um tabu na China, que nunca publicou um número oficial de mortos pela repressão militar, que varia entre centenas e milhares, dependendo da fonte.
Há 35 anos, centenas de milhares de estudantes e trabalhadores manifestaram-se na praça pelo fim da corrupção e por uma maior abertura política.
Nesta terça-feira, a Avenida Chang’an, que margeia a praça, está fechada a pedestres e ciclistas enquanto grupos de voluntários com braçadeiras vermelhas circulam com o objetivo de “manter a estabilidade”.
Nas redes sociais também está proibida qualquer menção ao assunto, enquanto a organização Human Rights Watch (HRW) afirmou ontem, a partir da sua sede em Nova Iorque, que as autoridades chinesas “mais uma vez se adiantaram às comemorações” para “tentar apagar a memória do massacre”.
Zhan Xianling, uma das fundadoras das Mães da Praça da Paz Celestial, o grupo que reúne os familiares das vítimas, está “sob vigilância com policiais do lado de fora de sua casa”, assim como outros ativistas relacionados com esses protestos, como Pu Zhiqiang, um advogado de direitos humanos que foi representante estudantil em 1989, advertiu a HRW em comunicado.
Da mesma forma, os Defensores Chineses dos Direitos Humanos (CHRD) também pediram a libertação de outros ativistas detidos nos últimos anos, para que os fatos sejam esclarecidos e para que seja feita justiça.
Veto em Hong Kong
Durante mais de três décadas, milhares de pessoas reuniram-se no icônico Victoria Park de Hong Kong para homenagear, pacificamente e à luz de velas, as vítimas da repressão, uma tradição que foi celebrada pela última vez em 2019 e que agora foi substituída por um “carnaval” organizado por grupos pró-Pequim.
O grupo organizador dessas vigílias anuais, a Aliança de Hong Kong em Apoio aos Movimentos Patrióticos Democráticos da China, dissolveu-se em setembro de 2021 após a prisão dos seus principais líderes – acusados de incitação à subversão -, e as autoridades já não permitem tal celebração, alegando a necessidade de “salvaguardar a segurança nacional” na ex-colônia britânica.
Nos últimos dias, nas vésperas do aniversário, a polícia deteve oito pessoas – a última nesta segunda-feira -, entre elas um ex-organizador da vigília que está atualmente preso, por supostamente publicar sobre o evento “com conteúdos sediciosos que incitam o ódio”.
Foram as primeiras detenções conhecidas sob o abrigo de uma nova lei de segurança nacional aprovada em março pelo governo de Hong Kong para complementar outra imposta em 2020 por Pequim para neutralizar os massivos protestos pró-democracia de 2019.
“Ainda há forças que tentam minar a estabilidade e a segurança de Hong Kong”, disse à imprensa nesta terça-feira o chefe do Executivo da cidade, John Lee Ka-chiu, embora tenha evitado mencionar especificamente o aniversário.
Taiwan, o último reduto
Enquanto isso, em Taiwan, os eventos voltarão a centrar-se na praça situada em frente ao mausoléu de Chiang Kai-shek, no centro de Taipei.
Como todos os anos, os manifestantes acenderão velas e carregarão faixas em uma vigília que, após a entrada em vigor da lei de segurança nacional e a perseguição aos manifestantes de Hong Kong, será a única a ser realizada em territórios de língua chinesa.
O evento será acompanhado por uma exposição de arte no próprio mausoléu. Sob o título ‘LifeDeathPreserveForgotten’, a mostra reúne obras de 18 artistas de todo o mundo, inclusive de Taiwan, China e Hong Kong, em torno dos desejos de democracia e liberdade.