China e Coreia do Sul decidem retomar relações bilaterais face Thaad

03/11/2017 13:13 Atualizado: 06/11/2017 14:37

Seul e Pequim concordaram na terça-feira (31) em encerrar a disputa, que durou um ano, pela implantação de um sistema antimíssil dos Estados Unidos na Coreia do Sul. Uma situação que foi especialmente devastadora para empresas sul-coreanas que dependem dos consumidores chineses.

O inesperado afrouxamento das tensões entre os dois países ocorre poucos dias antes que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dê início à sua viagem à Ásia, onde a crise nuclear da Coreia do Norte ocupará o centro das atenções, crise que, todavia, também ajudou a impulsionar as ações sul-coreanas em um nível recorde.

A instalação do sistema de Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude dos EUA (THAAD) desagradou a China, e as indústrias de turismo, cosméticos e entretenimento da Coreia do Sul foram as mais afetadas pela reação negativa do regime chinês, embora Pequim nunca tenha ligado essa situação especificamente com a implantação da THAAD.

Pequim teme que o poderoso sistema de radar THAAD possa penetrar em seu próprio território.

“Ambos os lados compartilharam a visão de que o fortalecimento do intercâmbio e da cooperação entre a Coreia e a China atende seus interesses comuns e concordaram em restaurar rapidamente o intercâmbio e a cooperação em todas as áreas em um caminho de desenvolvimento normal”, afirmou em um comunicado o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul.

Sistema de defesa antimísseis dos EUA chamado Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD) instalado em um campo de golfe em Seongju, na Coreia do Sul (Reuters)
Sistema de defesa antimíssil dos EUA chamado Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude (THAAD) instalado em um campo de golfe em Seongju, na Coreia do Sul (Reuters)

Apesar da histórica aliança entre Pequim e Coreia do Norte e os estreitos laços de Seul com Washington, que inclui o alojamento de 28.500 soldados norte-americanos, antes da disputa sobre a THAAD as relações bilaterais floresciam. A China é hoje o maior parceiro comercial da Coreia do Sul.

“Neste momento crítico, todas as partes interessadas devem trabalhar juntas para enfrentar o desafio nuclear da Coreia do Norte em vez de criar problemas para os outros”, disse Wang Dong, professor associado de estudos internacionais na Universidade China em Pequim.

“Isso mostra um sinal muito positivo de que Pequim e Seul estão determinados a melhorar suas relações”.

Como parte do acordo, o presidente sul-coreano Moon Jae-in se reunirá com o presidente chinês Xi Jinping na cúpula dos países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) no Vietnã, nos dias 10 e 11 de novembro.

Presidente sul-coreano Moon Jae-in preside o Conselho de Segurança Nacional na Casa Presidencial Azul em Seul, em setembro de 2017 (Reuters)
Presidente sul-coreano Moon Jae-in preside o Conselho de Segurança Nacional na Casa Presidencial Azul em Seul, em setembro de 2017 (Reuters)

A Coreia do Sul reconheceu a preocupação da China com a THAAD e deixou claro que a implantação não se destina a terceiros e que isso não prejudica os interesses estratégicos de segurança da China, disse o Ministério das Relações Exteriores da China.

Pequim reiterou sua oposição à implantação da THAAD, mas levou em consideração a posição da Coreia do Sul e espera que Seul consiga lidar adequadamente com o assunto, acrescentou o ministério.

Alívio para as vendas no varejo

O degelo das relações entre os dois países causou um grande alívio para o turismo e as empresas de varejo sul-coreanas, bem como para as estrelas do K-Pop e criadores de filmes e novelas, que extraoficialmente foram mal recebidos na China no ano passado.

Grupo pop sul-coreano Girls Generation participa do 20º Concerto Drema em Seul, na Coreia do Sul, em 7 de junho de 2014 (Chung Sung-Jun/Getty Images)
Grupo pop sul-coreano Girls Generation participa do 20º Concerto Drema em Seul, na Coreia do Sul, em 7 de junho de 2014 (Chung Sung-Jun/Getty Images)

Na Coreia do Sul, a redução da metade dos turistas chineses que entraram nos primeiros nove meses do ano, em comparação com o ano passado, custou à economia 6,5 bilhões de dólares em perda de receita, cálculo feito com base no gasto médio dos visitantes chineses em 2016, de acordo com os dados da Organização de Turismo da Coreia.

A disputa reduziu em 0,4 pontos percentuais o crescimento econômico esperado para 2017, de acordo com o Banco da Coreia, que prevê uma expansão de 3% para este ano.

O renomado Grupo Lotte forneceu o terreno onde o sistema THAAD foi instalado e é um importante operador de hotéis e lojas duty-free. E por isso foi o mais afetado comercialmente pela disputa. O grupo está passando por uma reorganização dispendiosa e espera vender suas lojas chinesas de hipermercados por uma fração do que investiu.

Um porta-voz da holding Lotte Corp.. expressou sua esperança de que a atividade das empresas sul-coreanas na China melhore após o anúncio.

Um funcionário da Casa Presidencial Azul, que não quis ser identificado devido à sensibilidade do assunto, disse que as melhoras na situação das empresas sul-coreanas virão lentamente.

No entanto, as ações das empresas de turismo e varejo sul-coreanas já se recuperaram, com a Asiana Airlines subindo 3,6% na terça-feira, 31 de outubro, e a Lotte Shopping subindo 7,14%. O índice de referência Kospi apresentou recorde pelo terceiro dia consecutivo, subindo 0,9%.

A China ficou cada vez mais irritada com a contínua busca pelo desenvolvimento de armas nucleares e mísseis balísticos por parte da Coreia do Norte, desafiando as sanções das Nações Unidas, mesmo estando igualmente irritada com a pressão dos Estados Unidos para controlar seu aliado isolado.

Tensão na Coreia do Norte

A recente deterioração dos laços entre China e Coreia do Norte pode ter contribuído para o acordo na terça-feira, disse o funcionário da Casa Presidencial Azul.

Pyongyang empreendeu um programa de testes de mísseis sem precedentes nos últimos meses, bem como seu maior teste nuclear até o início de setembro, em sua tentativa de desenvolver uma poderosa arma nuclear capaz de chegar aos Estados Unidos.

O chefe da OTAN pediu na terça-feira a todos os membros das Nações Unidas para que apliquem de forma plena e transparente as sanções contra a Coreia do Norte.

“Os testes balísticos e nucleares da Coreia do Norte são uma afronta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, em Tóquio, onde se encontrou com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.

Míssil Hwasong-12. Foto sem data publicada pela Korean Central News Agency (KCNA) em 16 de setembro de 2017
Míssil Hwasong-12. Foto sem data publicada pela Korean Central News Agency (KCNA) em 16 de setembro de 2017

Por outro lado, um legislador sul-coreano disse que a Coreia do Norte provavelmente roubou os planos de construção de um navio de guerra sul-coreano depois de hackear o banco de dados de um estaleiro local em abril passado.

As expectativas de melhora na delicada situação das relações bilaterais cresceram após o conclave deste mês do Partido Comunista Chinês, durante o qual Xi Jinping consolidou seu status como o líder mais poderoso da China depois de Mao Zedong.

No início deste mês, a Coreia do Sul e a China concordaram em renovar um acordo de intercâmbio de divisas no valor de 56 bilhões de dólares, enquanto as companhias aéreas chinesas planejam restabelecer as rotas de voo para a Coreia do Sul que foram suspensas durante a disputa.

O acordo de terça-feira ocorreu após conversações de alto nível lideradas por Nam Gwan-pyo, vice-diretor de Segurança Nacional da Casa Presidencial Azul, e Kong Xuanyou, vice-ministro das Relações Exteriores da China e enviado especial para questões relacionadas à Coreia do Norte.

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