CEO da Cathay renuncia diante da pressão do regime chinês sobre protestos em Hong Kong

19/08/2019 17:23 Atualizado: 20/08/2019 10:14

Por Reuters

HONG KONG – O chefe da transportadora de Hong Kong, Cathay Pacific Airways, se demitiu em 16 de agosto, após Pequim atacar a companhia aérea devido ao  envolvimento de funcionários nos protestos.

A Cathay, cujos fortes laços britânicos fazem dela um símbolo do passado colonial de Hong Kong, emergiu como o alvo corporativo de mais alto perfil, já que Pequim quer acabar com os protestos no território que duram 10 semanas consecutivas.

A turbulência corporativa antecede um fim de semana em que mais protestos estão sendo planejados, incluindo o que poderia ser um grande encontro no domingo que deve testar se um movimento que gozou de amplo apoio continuará, mesmo com o aumento da violência.

Os manifestantes dizem que estão lutando contra a erosão do arranjo “um país, dois sistemas”, que consagrou certa autonomia a Hong Kong desde que a China a retomou da Grã-Bretanha em 1997.

Cerca de mil manifestantes se reuniram pacificamente em um parque no centro da cidade, na sexta-feira, para a manifestação “Esteja com Hong Kong, Poder ao Povo”, que recebeu permissão da polícia. Outros protestos planejados para o fim de semana não têm permissão da polícia.

O grupo está apelando contra a decisão policial.

A proibição de uma passeata no bairro Hung Hom, em Kowloon, no sábado, foi derrubada na sexta-feira.

Dez semanas de confrontos entre a polícia e os manifestantes, mergulharam Hong Kong em um tumulto e apresentam um dos maiores desafios populares para o líder chinês, Xi Jinping, desde que ele chegou ao poder em 2012.

As táticas policiais contra os manifestantes têm endurecido.

“Qualquer pessoa que coloque em perigo a operação segura do aeródromo ou a segurança das pessoas no aeródromo por ato de violência é passível de prisão perpétua”, disse o chefe do superintendente interino, Man-pun Yeung, a repórteres na sexta-feira.

Quase 750 pessoas foram presas desde o início dos protestos, em junho, e o gás lacrimogêneo tem sido frequentemente usado pela polícia em tentativas de dispersar protestos em toda a cidade.

A China comparou os protestos cada vez mais violentos ao terrorismo e advertiu que poderia usar a força para reprimi-los, enquanto o presidente Donald Trump pediu que Xi encontrasse manifestantes para neutralizar a tensão.

Tropas paramilitares chinesas têm treinado, esta semana, em Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, em uma clara advertência aos manifestantes. A polícia de Hong Kong reiterou na sexta-feira que é capaz de manter a lei e a ordem por conta própria.

Manifestantes protestam pelo bairro de Sham Shui Po em Hong Kong, China, em 11 de agosto de 2019 (Issei Kato / Reuters)

Símbolo da cidade

A Cathay Pacific, um emblema da cidade, foi pega de surpresa na semana passada quando o regulador da aviação da China exigiu a suspensão de funcionários que apoiam o movimento que surgiu como uma oposição a uma mudança legal em Hong Kong e se transformou em protestos mais amplos pela democracia.

A saída abrupta do executivo-chefe, Rupert Hogg, uma atitude que a empresa disse “assumir a responsabilidade … diante dos recentes acontecimentos”, mostra quanta pressão Pequim está colocando em gigantes corporativos e na cidade, na tentativa de acabar com os protestos.

O diretor executivo da Cathay Pacific Group, Rupert Hogg, participa de uma coletiva de imprensa sobre os resultados anuais da transportadora em Hong Kong, China, em 14 de março de 2018 (Bobby Yip / Reuters)

A Cathay se envolveu no confronto depois que um de seus pilotos foi preso em uma manifestação em julho.

O regulador da aviação da China exigiu que qualquer funcionário envolvido ou que apoiasse os protestos fosse retirado do serviço em voos para ou sobre o espaço aéreo continental. As ações da Cathay registraram a maior queda em 10 anos.

A empresa, cujo presidente havia dito inicialmente, antes da demanda, que “nem sonharia” em dizer ao pessoal o que pensar, mais tarde acatou o pedido, demitindo dois pilotos e dizendo que funcionários “excessivamente radicais” seriam suspensos das obrigações na China Continental.

Hogg disse que estas foram “semanas desafiadoras” para a companhia aérea e que era certo que ele e o diretor de clientes da empresa, que também saiu abruptamente, assumissem a responsabilidade.

“A Cathay Pacific está totalmente comprometida com Hong Kong sob o princípio de ‘um país, dois sistemas'”, disse a companhia em um comunicado.

A renúncia de Hogg foi anunciada pela primeira vez pela televisão estatal chinesa, a CCTV. Não ficou claro, no entanto, se isso ajudaria a reavivar a reputação da empresa no continente.

“As raízes estão podres. Não faz diferença, não importa quem está liderando a empresa”, disse um usuário de mídia social chinesa na plataforma Weibo, semelhante ao Twitter, em um post curtido mais de 2.000 vezes.

Por Donny Kwok e Twinnie Siu