Por Reuters
HONG KONG – O chefe da transportadora de Hong Kong, Cathay Pacific Airways, se demitiu em 16 de agosto, após Pequim atacar a companhia aérea devido ao envolvimento de funcionários nos protestos.
A Cathay, cujos fortes laços britânicos fazem dela um símbolo do passado colonial de Hong Kong, emergiu como o alvo corporativo de mais alto perfil, já que Pequim quer acabar com os protestos no território que duram 10 semanas consecutivas.
A turbulência corporativa antecede um fim de semana em que mais protestos estão sendo planejados, incluindo o que poderia ser um grande encontro no domingo que deve testar se um movimento que gozou de amplo apoio continuará, mesmo com o aumento da violência.
Os manifestantes dizem que estão lutando contra a erosão do arranjo “um país, dois sistemas”, que consagrou certa autonomia a Hong Kong desde que a China a retomou da Grã-Bretanha em 1997.
Cerca de mil manifestantes se reuniram pacificamente em um parque no centro da cidade, na sexta-feira, para a manifestação “Esteja com Hong Kong, Poder ao Povo”, que recebeu permissão da polícia. Outros protestos planejados para o fim de semana não têm permissão da polícia.
O grupo está apelando contra a decisão policial.
A proibição de uma passeata no bairro Hung Hom, em Kowloon, no sábado, foi derrubada na sexta-feira.
Dez semanas de confrontos entre a polícia e os manifestantes, mergulharam Hong Kong em um tumulto e apresentam um dos maiores desafios populares para o líder chinês, Xi Jinping, desde que ele chegou ao poder em 2012.
As táticas policiais contra os manifestantes têm endurecido.
“Qualquer pessoa que coloque em perigo a operação segura do aeródromo ou a segurança das pessoas no aeródromo por ato de violência é passível de prisão perpétua”, disse o chefe do superintendente interino, Man-pun Yeung, a repórteres na sexta-feira.
Quase 750 pessoas foram presas desde o início dos protestos, em junho, e o gás lacrimogêneo tem sido frequentemente usado pela polícia em tentativas de dispersar protestos em toda a cidade.
A China comparou os protestos cada vez mais violentos ao terrorismo e advertiu que poderia usar a força para reprimi-los, enquanto o presidente Donald Trump pediu que Xi encontrasse manifestantes para neutralizar a tensão.
Tropas paramilitares chinesas têm treinado, esta semana, em Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, em uma clara advertência aos manifestantes. A polícia de Hong Kong reiterou na sexta-feira que é capaz de manter a lei e a ordem por conta própria.
Símbolo da cidade
A Cathay Pacific, um emblema da cidade, foi pega de surpresa na semana passada quando o regulador da aviação da China exigiu a suspensão de funcionários que apoiam o movimento que surgiu como uma oposição a uma mudança legal em Hong Kong e se transformou em protestos mais amplos pela democracia.
A saída abrupta do executivo-chefe, Rupert Hogg, uma atitude que a empresa disse “assumir a responsabilidade … diante dos recentes acontecimentos”, mostra quanta pressão Pequim está colocando em gigantes corporativos e na cidade, na tentativa de acabar com os protestos.
A Cathay se envolveu no confronto depois que um de seus pilotos foi preso em uma manifestação em julho.
O regulador da aviação da China exigiu que qualquer funcionário envolvido ou que apoiasse os protestos fosse retirado do serviço em voos para ou sobre o espaço aéreo continental. As ações da Cathay registraram a maior queda em 10 anos.
A empresa, cujo presidente havia dito inicialmente, antes da demanda, que “nem sonharia” em dizer ao pessoal o que pensar, mais tarde acatou o pedido, demitindo dois pilotos e dizendo que funcionários “excessivamente radicais” seriam suspensos das obrigações na China Continental.
Hogg disse que estas foram “semanas desafiadoras” para a companhia aérea e que era certo que ele e o diretor de clientes da empresa, que também saiu abruptamente, assumissem a responsabilidade.
“A Cathay Pacific está totalmente comprometida com Hong Kong sob o princípio de ‘um país, dois sistemas'”, disse a companhia em um comunicado.
A renúncia de Hogg foi anunciada pela primeira vez pela televisão estatal chinesa, a CCTV. Não ficou claro, no entanto, se isso ajudaria a reavivar a reputação da empresa no continente.
“As raízes estão podres. Não faz diferença, não importa quem está liderando a empresa”, disse um usuário de mídia social chinesa na plataforma Weibo, semelhante ao Twitter, em um post curtido mais de 2.000 vezes.
Por Donny Kwok e Twinnie Siu