Campanha anticorrupção caça ‘moscas’ na província de Hunan, China

20/12/2017 17:27 Atualizado: 20/12/2017 17:27

O alerta ocorreu em agosto, quando a agência de vigilância anticorrupção na província chinesa de Hunan pediu aos funcionários públicos locais que abandonassem voluntariamente seus empreendimentos ilegais. Eles tiveram até 30 de setembro para saírem limpos e cessarem seu envolvimento.

Aparentemente, muitos não leram ou deram atenção ao aviso. Em 6 de dezembro, a Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID) da China, a autoridade principal no país no combate à corrupção, anunciou que 13 funcionários públicos receberam uma advertência ou punição por violarem as diretrizes oficiais de Hunan que proíbem funcionários públicos, seus cônjuges e descendentes de envolvimento em seis setores específicos, incluindo mineração, areia e cascalho, pesca, hidrelétricas, fogos de artifício e produtos químicos perigosos.

A regra foi feita para desencorajar o nepotismo, ou favoritismo de parentes. Os funcionários aposentados e aqueles que abandonaram seus cargos públicos precisam esperar três anos antes de poderem se envolver com empresas desses setores.

Deng Jianming, o líder da equipe de inspeção do Departamento de Agricultura, Florestas e Recursos Hídricos do distrito de Kaifa, em Changsha, capital de Hunan, associou-se a membros da família e gastou 1,2 milhão de yuanes (US$ 181,4 mil) para comprar um navio de transporte. Eles operavam o navio para transportar areia e cascalho para empresas. Usando sua posição no governo, ele embolsou uma enorme quantia de dinheiro quando vendeu materiais de areia e cascalho a um preço maior do que a taxa do mercado, de acordo com o CCID. Deng recebeu uma reprimenda grave em outubro.

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Os colegas de Deng também se beneficiaram do setor de areia e cascalho. Ouyang Yinong, que trabalhou no Departamento Administrativo de Estradas no distrito de Heshan, localizado na cidade vizinha de Yiyang, e He Genghui, que trabalhou no Departamento de Estradas de Heshan, gastaram 200 mil yuanes (cerca de US$ 30 mil) para comprar ações num terreno local de escavação de cascalho. Cada um lucrou 100 mil yuanes (cerca de US$ 15 mil) até o final de 2016. Em agosto, ambos foram expulsos do Partido Comunista Chinês e enviados ao sistema judicial para serem processados.

Jiang Yimin, um funcionário que trabalha no centro de serviços de turismo cultural na vila de Taojinping, no condado de Xupu, Hunan, recebeu um desmerecimento recorde do Partido Comunista Chinês em novembro, quando foi descoberto que ele investiu um total de 1,75 milhão de yuanes (cerca de US$ 264,5 mil) numa pedreira administrada por um amigo.

No condado de Simen, Hunan, dez funcionários públicos, incluindo Tan Xijun, que trabalhou no Departamento de Água no governo do condado de Simen, e Hou Manli, membro de um órgão consultivo político em Hunan, conhecido como Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), compraram ações numa empresa hidrelétrica em Simen. Em novembro, Tan e Hou receberam avisos disciplinares do Partido.

Esses funcionários são considerados “moscas”, o jargão do Partido Comunista Chinês para seus quadros de baixo escalão, em relação aos funcionários mais poderosos do alto escalão, conhecidos como “tigres”. A corrupção generalizada em Hunan ilustra como os funcionários do Partido muitas vezes misturam negócios, trabalho e relacionamentos pessoais e usam seu poder para se beneficiarem.

Esse tipo de corrupção é especialmente prevalente em setores estatais como mineração, bancos, telecomunicações e petróleo. A atual campanha anticorrupção, que começou em 2012, quando o líder chinês Xi Jinping chegou ao poder, removeu muitos “tigres e moscas” nesses setores controlados pelo Partido Comunista Chinês.

Enquanto a queda de “tigres” frequentemente gera grandes manchetes, o número de “moscas” que foram expurgadas é assombroso. De acordo com as estatísticas divulgadas pelo CCID em outubro, mais de 1,34 milhão de funcionários do Partido Comunista Chinês com posição de nível municipal ou inferior receberam punição do Partido até junho de 2017, dos quais cerca de 640 mil ocupavam posição de nível de vila ou inferior (uma vila é de ordem administrativa inferior a um município).

Uma citação no website principal do Partido Comunista Chinês resume a corrupção endêmica nos baixos escalões do Partido. O website diz que há um provérbio comum entre algumas autoridades chinesas: “Você luta para se tornar um chefe de aldeia. Você bebe para chegar a chefe da cidade. E suborna para ser chefe do condado”, de acordo com o principal website oficial do Partido.

O website do Partido Comunista Chinês também explicou que alguns chefes de vilas eram chefes de gangues locais, que davam ordens aos cidadãos locais enquanto a família do chefe controlava tudo na aldeia. Ma Demai, o ex-secretário do Partido na cidade de Suihua, na província de Heilongjiang, foi indicado como um exemplo. Ele foi condenado à morte com indulto em 2005 pela negociação de posições governamentais por dinheiro, totalizando 6,03 milhões de yuanes (cerca de US$ 911,4 mil).