O governo brasileiro confirmou seu apoio à política de “Uma só China”, declarando que a ilha de Taiwan “é uma parte inseparável do território chinês”. A afirmação consta de um documento assinado na quarta-feira (20), durante a visita do líder comunista chinês Xi Jinping a Brasília, e gerou novo embaraço diplomático para o Itamaraty.
No texto de 20 parágrafos, o Brasil diz que reconhece “os esforços da China por uma reunificação nacional pacífica” com Taiwan. O comunicado faz parte dos acordos e compromissos firmados durante o encontro bilateral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o líder comunista chinês Xi Jinping.
O Partido Comunista Chinês (PCCh) contesta a independência do arquipélago de Taiwan e busca anexá-lo ao seu território.
Em um dos trechos, a declaração assinada por Brasil e China afirma: “A parte brasileira reiterou que adere firmemente ao princípio de Uma Só China, reconheceu que só existe uma China no mundo e que Taiwan é uma parte inseparável do território chinês, enquanto o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China”.
“A parte brasileira apoia os esforços da China para realizar a reunificação nacional pacífica. A parte chinesa manifestou grande apreço a esse respeito”, acrescenta.
Reação de Taiwan
O representante oficial de Taiwan no Brasil reagiu de forma negativa. Em uma mensagem ao jornal Estadão, nesta quinta-feira (21), o chefe do Escritório Econômico e Cultural de Taipei, embaixador Benito Liao, classificou como um “equívoco jurídico e histórico” a declaração assinada pelo governo petista.
“Afirmar que Taiwan é parte inalienável da China não reflete a realidade histórica e jurídica”, disse Liao. “A República da China (Taiwan) foi estabelecida em 1911, muito antes da fundação da República Popular da China em 1949. Desde então, o governo da República Popular da China nunca exerceu um dia sequer de soberania sobre Taiwan. Essa é uma verdade incontestável. Taiwan é um país de fato, com todos os atributos de soberania.”
Ainda na nota ao Estadão, Liao ressaltou que, embora Brasil e Pequim mantenham uma relação diplomática respeitosa, seria necessário que o governo brasileiro adotasse uma postura mais pragmática e flexível nas interações com o Taiwan.
“Taiwan está comprometido em manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, mas não podemos aceitar que nossa existência seja negada ou distorcida por narrativas políticas alheias à realidade”, disse o embaixador.
A relação entre Brasil e o arquipélago já estava abalada desde janeiro, quando o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sinalizou apoio ao plano de “Uma só China” ao se encontrar com o chanceler chinês, Wang Yi, no Itamaraty.
A reunião entre os dois diplomatas ocorreu dias antes das eleições presidenciais em Taiwan. O eleito democraticamente, Ching-te Lai, tomou posse em maio.
A presença militar chinesa na região tem crescido nos últimos anos, intensificando a tensão sobre um possível conflito bélico. Recentemente, a marinha chinesa realizou exercícios próximos à ilha.
A reunificação de Taiwan se tornou uma das prioridades para o ditador Xi Jinping. O arquipélago é considerado pelo Partido Comunista da China um território rebelde.
Saiba mais sobre Taiwan
Ao contrário da China, Taiwan é uma democracia multipartidária, com eleições regulares, nas quais o presidente é eleito por voto direto.
Embora a China pressione o mundo a não reconhecer Taiwan como um estado independente, o governo taiwanês opera com sua própria economia, forças armadas e política externa.
Com uma economia altamente desenvolvida, a ilha é um dos maiores produtores globais de semicondutores e componentes eletrônicos, funcionando como um hub crucial para a tecnologia mundial.