Por Rick Fisher
Este artigo é o quarto de uma série de quatro reportagens sobre o Airshow China, uma exposição semestral realizada na cidade de Zhuhai, na China.
O show aéreo de Zhuhai deste ano, realizado de 6 a 11 de novembro, enfatizou o progresso técnico da China em seu programa espacial controlado pelo Exército Popular de Libertação (EPL), confirmando indicações anteriores sobre as ambições estratégicas do regime de Pequim no espaço.
Entre os destaques estão as confirmações de que a China está iniciando um novo esforço para criar a próxima geração de veículos de lançamento espacial (SLV, na sigla em inglês), e uma arquitetura de nave espacial “Portal Lunar” que poderá acelerar sua chegada à Lua, competindo com os programas dos Estados Unidos para alcançá-la, e mesmo com os de empresas privadas como a SpaceX.
Em Zhuhai, a China também sinalizou que está em vias de começar a montar sua Estação Espacial de Órbita Terrestre tripulada, e que está incentivando com sucesso novas empresas espaciais “privadas”, algumas das quais poderão competir com empresas espaciais privadas dos Estados Unidos.
Acesso tripulado à Lua na década de 2020
O show deste ano confirmou as primeiras revelações chinesas que apontam para a decisão da China de acelerar sua corrida para alcançar a Lua pelo menos, o que poderá coincidir com os planos da Nasa de construir um “Portal Lunar” (Lunar Gateway), para facilitar o acesso tripulado antecipado e econômico à Lua.
O objetivo dos Estados Unidos é ter uma pequena estação espacial de quatro pessoas no espaço “Cis-Lunar” orbitando a Lua em meados de 2020, e depois construir um módulo de pouso capaz de transportar astronautas entre a estação espacial Cis-Lunar e a superfície da lua.
Esse esforço pode colocar os norte-americanos de volta à Lua até o final da década de 2020, talvez em 2028. Fontes não-oficiais chinesas sugerem que a próxima geração de espaçonaves tripuladas da China poderá colocar os chineses na Lua ao mesmo tempo, ou até 2027. Isso seria antes do atual cronograma para o “Long March 9” (LM-9/CZ-9) de 10 metros de diâmetro da Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China (CASC, na sigla em inglês), que seria capaz de impulsionar 50 toneladas até a órbita de transferência lunar (LTO, na sigla em inglês) e espera-se que possa voar até o início de 2030. Analistas chineses especulam que os recursos financeiros podem estar saindo do desenvolvimento do Long March 9 para o novo SLV.
Pouco antes da exposição de Zhuhai, as autoridades chinesas que falaram na Quinta Conferência Espacial Tripulada em Pequim, em 23 de outubro, começaram a revelar seu esforço em acelerar o caminho da China até a Lua, principalmente redirecionando seus esforços para um novo SLV menor, de 5 metros de diâmetro com apenas 25 toneladas de capacidade LTO, podendo ser concluído no início de 2020.
Na feira de Zhuhai, foi apresentado um novo modelo de SLV sem nome, que explora a tecnologia chinesa existente de motores a combustível líquido e a tecnologia de foguetes “Long March 5”, com 5 metros de diâmetro. Mas os relatórios chineses indicam que ele também incorporará alguns avanços tecnológicos conhecidos por terem sido desenvolvidos pela SpaceX, como o super-resfriamento com oxigênio líquido para aumentar a capacidade de transporte e o uso de tanques de combustível de estrutura composta e menor peso. Em Zhuhai, um funcionário da CASC observou que as principais tecnologias poderão ficar prontas até 2019, o que significa que o SLV poderá estar pronto no início ou no meio de 2020.
A China também mostrou um modelo parcial de uma nova cápsula espacial tripulada, aprovada para desenvolvimento em 2014, que deverá ser a primeira nave espacial tripulada da China a alcançar a Lua. Ela será construída em duas versões, uma de 14 toneladas para missões na órbita baixa da Terra e outra de 20 toneladas para missões de transporte lunar. Levará de quatro a seis passageiros, em comparação com os três transportados pela atual cápsula espacial de Shenzhou. Também foi revelado na conferência de 23 de outubro que a China poderá construir seu próprio “Portal” — como a pequena estação espacial Cis-Lunar — e desenvolver um veículo de pouso na Lua.
Módulo central da Estação Espacial em exibição
Pela primeira vez, na feira de Zhuhai deste ano, a China mostrou uma réplica em tamanho real do módulo central de sua futura estação espacial, chamada “Tianhe”, que poderá ser lançada em 2020 por um novo SLV “Long March 5B”. Até 2022, a Tianhe será conectada por dois módulos experimentais de 20 a 21 toneladas chamados “Wengtian” e “Mengtian”, o que resultará em um peso operacional inicial de 60 a 80 toneladas. Módulos adicionais poderão ser adicionados, o que aumentará o peso da estação para 160-180 toneladas. Com seu peso inicial, a estação espacial chinesa poderá acomodar até três passageiros. A China convidou participantes internacionais e o primeiro visitante pode ser um astronauta do Paquistão, em 2022.
Um dos módulos experimentais da estação espacial tem uma área que pode ser usada para colocar sistemas ópticos a fim de observar o espaço profundo ou a Terra, o que levanta a questão de como a estação espacial controlada pelo EPL poderá realizar missões militares de “uso duplo”. A estação espacial, de acordo com os planos atuais, será acompanhada por uma plataforma separada, em formação, que conterá telescópios de observação espacial, mas também outros instrumentos que poderão ser substituídos na estação espacial. Esta plataforma também poderá ser usada para transportar carga militar útil.
Comentários finais
A 12ª exposição de Zhuhai forneceu a confirmação de que a China pretende acelerar seus esforços para alcançar a Lua, potencialmente se esforçando para chegar lá na mesma época em que os Estados Unidos planejam retornar. O controle da Lua é um objetivo importante para a China, tanto para garantir seu acesso aos recursos lunares quanto para obter a posição estratégica necessária para negar acesso aos Estados Unidos e outras democracias com atividades espaciais.
Fontes indicam que o EPL está planejando ativamente um conflito na Lua e explorando militarmente o satélite para aumentar o controle do EPL sobre o sistema Terra-Lua. Isso poderá aumentar a capacidade da China de prevalecer em conflitos na Terra, ao mesmo tempo em que permitirá que Pequim determine quais países poderão se beneficiar de uma futura economia espacial.
Rick Fisher é membro sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia e autor de “Modernização Militar da China: Construindo para um alcance regional e global”
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