Por Frank Fang, Epoch Times
A administração de um município chinês decidiu erradicar uma forma de religião popular tradicional, em nome de melhorar a “cultura espiritual” e a “qualidade do ar” da cidade, causando a ira de muitos cidadãos chineses.
Autoridades chinesas da cidade de Gaoyou, na província costeira de Jiangsu, ordenaram recentemente a demolição de todos os santuários que adoram a divindade chinesa conhecida como o Deus da Terra, segundo a mídia chinesa. Ao todo, 5.911 santuários foram demolidos durante os meses de fevereiro e março, uma tarefa que durou 26 dias.
O Deus da Terra, conhecido como Tudi Gong em chinês, é um dos mais importantes do panteão das deidades populares chinesas. Segundo o folclore chinês, antes de se tornar o deus da terra, Tudi Gong era um homem chamado Zhang Fude, coletor de impostos durante a dinastia Zhou (510-314 aC).
Zhang tinha a reputação de ser um funcionário honesto, que ajudava os pobres a pagar seus impostos tirando do próprio bolso; ele morreu com a idade de 102 anos. Depois disso, uma pobre família chinesa começou a adorar seu retrato e ficou surpresa quando sua situação financeira melhorou inesperadamente. À medida que a história da família se espalhava, as pessoas começaram a construir templos para adorar Zhang, acreditando que ele havia se tornado uma divindade e que traria boa fortuna para o povo.
A tradição de adorar o Deus da Terra se espalhou tanto na China como em Taiwan.
5,911 shrines dedicated to Chinese folk deity Tudigong, or Lord of the Soil and the Ground, demolished in Gaoyou, E.China’s Jiangsu, in a move authorities say is to improve people’s lives, as illegal land use and excessive activities affect communities https://t.co/KmBiN326Mq pic.twitter.com/TUMlSpWXE4
— People's Daily, China (@PDChina) April 19, 2019
Devido à crença de que o Deus da Terra é também um guardião da área local onde o santuário está localizado, pequenas cidades e povoados arrecadam dinheiro para construir pequenos santuários ao lado da estrada ou no meio de terras agrícolas.
Pan Jianqi, chefe do departamento de propaganda da cidade de Gaoyou, disse que o trabalho de demolição tem como objetivo “promover uma nova cultura espiritual” e remover os santuários que foram construídos ilegalmente, de acordo com uma matéria publicada em 9 de abril pelo Jornal estatal chinês Xinhua Daily.
Zhang Meilan, vice-chefe do condado de Ganduo, localizado na cidade de Gaoyou, reclamou que as varetas de incenso que as pessoas queimavam enquanto cultuavam nesses santuários produziam muita fumaça. Com o desaparecimento dos santuários, a qualidade do ar melhorou, disse Zhang ao Xinhua Daily.
Segundo o jornal, os terrenos que ficaram vazios depois das demolições serão usados para plantar árvores ou construir espaços públicos.
O Partido Comunista Chinês é oficialmente ateu e regula fortemente qualquer forma de religião na China. Por exemplo, para colocar o cristianismo sob o controle do Partido, o regime chinês nomeia seus próprios líderes eclesiásticos e estabeleceu associações cristãs e igrejas autorizadas pelo Estado chinês. Ao mesmo tempo, as autoridades demoliram igrejas clandestinas e removeram as cruzes das igrejas. Algumas áreas locais proibiram os moradores de celebrar o Natal.
As autoridades chinesas também adotaram políticas que suprimem costumes e tradições locais, como a proibição dos serviços fúnebres tradicionais na província de Jiangxi, no sudoeste da China. Reportagens da mídia revelaram que as autoridades de lá confiscaram os caixões que haviam sido comprados para enterros futuros.
No Sina Weibo, o equivalente chinês do Twitter, internautas chineses expressaram indignação com as demolições dos santuários.
Um cidadão que se identificou como “SIMONTONG2010” da província de Hainan, no sul da China, escreveu: “Estes santuários de Deus da Terra são simplesmente um apoio espiritual para os agricultores que desejam ter uma boa colheita. Por que eles têm que ser demolidos?”
Outro cidadão de Hainan escreveu: “O ato de demolir esses santuários viola a liberdade religiosa. Também viola a constituição chinesa”, onde está escrito que a todos os cidadãos é garantido o direito à liberdade de culto.