Argentina pode derrotar estratégia da China de conquista marítima

27/04/2016 23:59 Atualizado: 08/05/2016 22:48

 A guarda costeira da Argentina encontrou uma traineira chinesa pescando ilegalmente em suas águas territoriais, em meados de Março. Os pescadores chineses ignoraram as chamadas de rádio e os repetidos tiros de advertência, e tentaram abalroar o navio argentino.

Finalmente, a guarda costeira argentina fez o que poucas nações se atreveriam. De acordo com o New York Post, foram disparados tiros contra o invólucro da embarcação. Eles resgataram quatro dos membros da tripulação da traineira que naufragava após os tiros, enquanto o resto da tripulação de 28 membros foi resgatada por um outro barco de pesca chinês nas proximidades.

O regime chinês expressou indignação com o incidente, mas a Argentina não recuou, e portanto, criou um precedente que outros países poderão recorrer quando enfrentarem a beligerância chinesa em disputas marítimas.
A Indonésia logo seguiu com uma abordagem de linha dura à agressão chinesa. Autoridades indonésias prenderam um pescador chinês, em 19 de março, no Mar Natuna, perto das Ilhas Natuna da Indonésia, e o barco de pesca chinês foi rebocado. Um navio da guarda costeira chinesa, em seguida, bateu no barco de pesca durante o reboque, libertando-o do navio da Indonésia, de acordo com The Jakarta Post.

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Não é incomum as autoridades indonésias prenderem pescadores estrangeiros devido à pesca ilegal em suas águas, mas a atitude da guarda costeira chinesa ao interferir em uma prisão ultrapassou os limites.

As autoridades indonésias rebateram as acusações chinesas sobre o incidente, e em 21 de março, a Ministra de Assuntos Marítimos e de Pesca, Susi Pudjiastuti, anunciou que seu escritório iria convocar o embaixador chinês e exigir uma explicação.

O regime chinês pode inadvertidamente ter trazido a Indonésia para o conflito do Mar do Sul da China, que era de pouco interesse antes do incidente; e a resposta foi rápida.

Em 31 de março, o ministro da Defesa da Indonésia disse que irá posicionar aviões de combate F-16, feitos nos EUA, sobre as Ilhas Natuna, perto de onde a incursão com a guarda costeira chinesa ocorreu, segundo o site Bloomberg, para afastar o que chamou de “ladrões”.

Poucos dias depois, a Indonésia anunciou que iria implantar sistemas de defesa aérea nas ilhas Natuna, juntamente com quatro unidades especiais para operar o sistema alemão de defesa aérea Oerlikon Skyshield, de acordo com IHS Jane’s.

Em seguida, no dia 5 de abril, em uma demonstração de força simbólica, a Indonésia destruiu 23 navios estrangeiros que foram pegos pescando, algo que também não é incomum para o país, mas o momento chamou a atenção. A Ministra das Pescas da Indonésia, Susi Pudjiastuti, disse, de acordo com o The Diplomat: ” estou impressionada e admirada com o aparato de chinês de cumprimento da lei. Espero que eles também respeitem as leis da Indonésia”.
 

Uma “rara” resposta do Vietnã

Após o incidente inicial entre China e Indonésia, o Vietnã também reagiu.

Em 31 de março, a guarda costeira do Vietnã apreendeu um navio de reabastecimento chinês por ter entrado ilegalmente nas suas águas territoriais.

Conforme informado pelo Nikkei em 3 de abril, o incidente foi “um movimento raro das autoridades vietnamitas contra um veículo chinês.” O comandante do navio chinês admitiu supostamente a sua intrusão, e disse que seu navio estava transportando combustível para barcos de pesca chineses que operam em território vietnamita.

Embora não se possa dizer com certeza que um incidente inspirou os outros, os tempos foram alinhados, e o incidente com o Vietnã, em particular, mostrou um novo nível de ousadia na oposição às incursões da China.

A mídia Zero Hedge publicou que a apreensão do navio chinês pelo Vietnã foi a “maior escalada territorial entre os dois países desde 2014, quando a China rebocou uma plataforma de petróleo para águas disputadas no Mar do Sul da China, provocando batidas de barcos perigosas e motins anti-China no Vietnã”.

Se uma nova abordagem de tolerância zero realmente se desenvolveu entre países que agora revidarão as ofensivas da China, isto pode trazer um fim eficaz para a estratégia chinesa atual de se apoderar do território no Mar do Sul da China.

Um furo na estratégia da China

O Partido Comunista Chinês (PCC) tem duas estratégias para assumir o Mar do Sul da China. Uma concebida em torno de propaganda, e a outra em torno de manobras militares.

Com relação à propaganda, o PCC está usando o que chama de “Três Campanhas de Guerra”. Estas são a guerra jurídica, a guerra psicológica e a guerra da mídia. Basicamente, significa que o regime acusa os outros de agressão e continua a repetir o discurso de que tem direitos legais para conquistar a região.

Dean Cheng, pesquisador da Fundação Heritage, explicou a tática em um relatório publicado em 21 de maio de 2012. Quanto ao elemento de guerra legal, escreve ele, “guerra Legal, em sua forma mais básica, envolve argumentar que o próprio lado está obedecendo a lei, criticar o outro lado por violar a lei, argumentar em defesa do próprio lado nos casos em que há também violações da lei”.

No lado militar, o PCC está usando o que generais chineses têm chamado de “estratégia repolho”, na qual eles envolvem a área camada por camada. É semelhante, na prática, à “estratégia de cortar salame” da antiga União Soviética.

Como parte da estratégia, primeiro o PCC envia barcos de pesca, em seguida, boias de marcação de território de pesca, em seguida, envia navios da guarda costeira para proteger os barcos de pesca, logo depois, a infraestrutura para apoiar as operações e, em seguida, o PCC forma um perímetro defensivo para impedir a entrada de navios estrangeiros.

A estratégia é projetada para ocorrer de forma gradual e parecer tão benigna quanto possível. É semelhante à analogia ao sapo na água fervente, na qual a água aquece muito gradualmente para que o sapo perceba, até que seja tarde demais.

Essas estratégias de propaganda do PCC funcionam bem contra países que aderem estritamente às leis internacionais e evitam ações drásticas, mas ambos têm falhas-chave inerentes.

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A tática de propaganda do PCC protege e tenta validar sua estratégia marítima. Se os sistemas de propaganda falharem, então o lado marítimo perde a sua máscara de legitimidade e apenas se parece com um país invadindo território alheio.

Sistemas de propaganda da China geralmente podem manter-se por tempo indeterminado, mas eles só funcionam de forma eficaz quando há apenas alguns poucos incidentes a responder, e quando seus adversários não reagem de forma demasiado agressiva ou não atacam de volta com muita força contra a sua propaganda.

A verdadeira ironia sobre a tentativa de aquisição do Mar do Sul da China pelo PCC é que este, inadvertidamente, levou outras nações na região, até mesmo as que historicamente não se relacionavam bem, a formarem uma aliança contra a China.

Os incidentes recentes elevaram a tensão para um nível em que as estratégias da China podem não ser capazes de se manterem. Seus adversários já não estão sendo sutis, e se a China quiser continuar pressionando as reações, em breve, poderão se tornar cada vez mais graves.