A China recentemente afirmou que agora possui aproximadamente 300.000 doadores de órgãos registrados e em 2020 ultrapassará os Estados Unidos em transplante de órgãos — um crescimento explosivo de causar alerta, segundo o dr. Torsten Trey, o diretor executivo de Médicos Contra a Extração Forçada de Órgãos (DAFOH, na sigla em inglês).
Trey conversou com o Epoch Times sobre as preocupações em relação à transparência do sistema de transplante de órgãos da China e apontou para a possibilidade de abusos contínuos, apesar da alegação de reforma feita pelo país.
Epoch Times: Em uma importante conferência de transplante de órgãos em Kunming entre 3 e 5 de agosto, a China declarou ter quase 300.000 doadores de órgãos registrados e que isso reformou com sucesso seu sistema de doação de órgãos. Essas declarações lhe parecem confiáveis?
Dr. Torsten Trey: Nos Estados Unidos, levou-se aproximadamente 20 anos para se criar um sistema de doação. Na China, o ambiente é ainda mais conservador em termos de doação.
Tradicionalmente, os chineses são contra a doação de órgãos, e no caso particular da China, há até um regulamento de que se apenas um membro da família rejeita a doação do órgão de um parente falecido, o órgão não pode ser obtido. Assim, mesmo que as pessoas se registrem como doadores de órgãos, ainda há obstáculos à frente que não existem nos Estados Unidos. Além disso, uma vez que uma pessoa é registrada, geralmente não falece entre 2 e 3 anos depois do registro.
Desenvolver um sistema gratuito de doação voluntária de órgãos requer tempo. Um desenvolvimento rápido é bem um sinal de que o sistema não está crescendo voluntariamente. E, então, há novamente a questão: ‘de onde vêm os órgãos’?
ET: Quais são os padrões para determinar se um sistema de transplante de órgãos é transparente e de confiança? Como o sistema da China difere do dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos?
TT: A transparência e o doador de órgão poder ser rastreado são critérios pertencentes aos Princípios Guia do Transplante de Células, Tecidos e Órgãos Humanos da Organização Mundial de Saúde (OMS). Sem transparência, a medicina de transplantes anda em um caminho muito estreito onde o abuso pode degringolar os próprios princípios da prática médica.
Supõe-se que a medicina seja para salvar vidas e não causar danos, ainda que na medicina de transplantes se dependa do órgão de outra pessoa para prover a cura para o paciente. Se esse órgão para transplante é obtido de maneira antiética, de um modo em que a vida do doador é comprometida ou mesmo encerrada, então violaria a missão da medicina. Transparência e rastreabilidade são os requisitos mínimos para se prevenir tais abusos.
A fim de avaliar se um sistema de doação de órgãos e transplantes está de acordo com essas diretrizes da OMS, um examinador independente precisa ser capaz de perguntar — a qualquer hora e sobre qualquer órgão — de onde o órgão vem, quem são os parentes, quem é o doador, qual foi a causa da morte e se foi um consentimento voluntário, livre e informado. Esta é uma prática comum em todos os países ocidentais.
Na China, vemos o oposto: não há acesso para examinadores independentes — exceto talvez examinadores tendenciosos, ou para examinadores que não estão cientes das descobertas de investigadores independentes.
ET: Então, como a China conseguiu escapar do exame minucioso independente? E o que isso envolveria?
TT: Um exame minucioso requer acesso por terra. A China mantém controle sobre isso; eles decidem quem pode ou não entrar.
A melhor comparação é feita com o mundo dos negócios. Se uma empresa quer produzir dentro da China, tem que colaborar com uma empresa chinesa e revelar sua tecnologia. Eu acredito que nunca se viu isso em outros países. Na superfície, é apenas uma questão de privacidade da informação da tecnologia, mas, em um nível mais profundo, é censura de quem pode ou não entrar no país.
Na área de transplantes, aquelas organizações e médicos que foram convidados e tiveram acesso garantido para inspecionar centros de transplante são apenas aqueles médicos que provaram ao longo dos anos que só escrevem em um estilo a favor da China. É censura no exame minucioso dos transplantes — como nos negócios — que garante que não haverá perguntas “inconvenientes” nem investigações. Empresas e médicos que igualmente obedecem à censura chinesa têm acesso garantido ao país.
Em outras palavras, ao selecionar quem pode acessar o país, verdadeiros exames minuciosos independentes são sistematicamente impedidos. Se a China fosse realmente aberta, permitiria que críticos verdadeiros, que fazem perguntas reais e minuciosas, entrassem no país. A intenção dessa estratégia é enganar a comunidade internacional com inspeções pseudo-independentes.
ET: Como Huang Jiefu, porta-voz para transplante de órgãos da China, respondeu às alegações internacionais de que muitos dos órgãos da China foram obtidos de prisioneiros de consciência, principalmente de praticantes do Falun Gong?
TT: Em fevereiro de 2017, durante sua visita ao Vaticano em Roma, Huang Jiefu simplesmente respondeu que as alegações sobre o número de vítimas do Falun Gong é “tolice”. Além de dizer que é tolice, basicamente não houve nenhuma declaração replicando as descobertas dos investigadores ou provendo dados que dissessem o contrário.
Dado que há uma crítica internacional por mais de 11 anos, seria igualmente fácil para a China deixar investigadores entrarem lá e investigarem. É de se surpreender que a China resista à crítica ao invés de descartar essas alegações ao permitir inspeções internacionais.
Há livros cheios de evidências, centenas de páginas de evidências, com incontáveis testemunhos de praticantes do Falun Gong e muito mais. Assim, rejeitar tudo isso com apenas uma palavra — “tolice” — é absolutamente inadequado. Mas em certo grau, também prova que as alegações e evidências são verdadeiras, ao menos em parte, já que Huang não é capaz de prover nenhuma resposta para contestar as alegações.
ET: Trinta líderes de sociedades e associações estrangeiras de transplante de órgãos compareceram à recente conferência de transplante em Kunming. Reportagens da mídia chinesa citaram que especialistas internacionais em transplante elogiaram as reformas no sistema de transplante de órgãos da China. O que você gostaria de dizer a eles?
TT: É louvável se a China, ou qualquer outro país, faz reformas genuínas para estar de acordo com padrões éticos. Mas seria um engano fatal aplaudir tais reformas se elas estão apenas encobrindo crimes mais severos contra a humanidade. Nesse caso, as alegadas reformas não podem ser consideradas reformas, mas, pelo contrário, um esquema para enganar médicos ocidentais e encobrir sistemáticas extrações forçadas de órgãos. Se reformas são elogiadas enquanto, às escondidas, continuam as extrações forçadas de órgãos de praticantes do Falun Gong e de outros prisioneiros de consciência, então, deparamo-nos com essa situação devastadora onde aplausos ressoam enquanto pessoas inocentes são chacinadas por seus órgãos.
Como um representante de organizações médicas internacionais, tem-se a responsabilidade de considerar as vítimas primeiro: reformas são boas, mas a primeira coisa a ser garantida é o bem-estar de vítimas em potencial da extração forçada de órgãos.
Você pode garantir que nenhum prisioneiro de consciência está sendo morto por seus órgãos? Se você pode garantir isso, então sinta-se livre para aplaudir. Mas, se não pode garantir que nem um único praticante do Falun Gong está tendo seus órgãos extraídos à força em algum lugar na China, então segure seu aplauso e continue a examinar minuciosamente. Qualquer coisa diferente seria irresponsável e prematuro.
ET: Em uma entrevista com o Global Times, uma sucursal de um jornal porta-voz do Partido Comunista Chinês, Huang afirmou que a China não foi a primeira a usar prisioneiros como fonte de órgãos.
TT: Huang insinua que os Estados Unidos inventaram essa prática de se usar prisioneiros executados como fonte de órgãos. Nessa entrevista, ele também insinua que os Estados Unidos é “o país com tráfico de órgãos mais desenfreado no mundo”. Isso, claro, é falso. E é uma vergonha [ele ter dito isso], porque muitos dos médicos que o apoiam, a maioria, vêm dos Estados Unidos.
O interessante é que essa foi apenas uma entrevista em um jornal chinês, e provavelmente é pouco sabido no Ocidente como Huang costuma se referir a seus colegas ocidentais.
À parte a questão histórica — ‘quem fez primeiro?’ — não há absolutamente dúvidas de que, em termos de números e de abordagem sistemática, a China é a maior criminosa. Ao longo dos últimos 20 anos, eles mataram pelo menos centenas de milhares de pessoas por seus órgãos.
Colaborou: Li Chen