O portal de notícias argentino Infobae denunciou em reportagem nesta terça-feira (1º) que barcos chineses têm pescado ilegalmente em águas amazônicas no norte do Brasil.
O veículo, que enviou repórteres à região, publicou uma fotografia na qual alega que pesqueiros do gigante asiático são vistos na costa do Estado do Pará.
A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada por barcos da China na América do Sul não é fato novo. A prática, repetidamente vista no continente, implica violação de soberania e risco ambiental.
Autoridades locais que confirmaram o noticiado dizem que há mais efeitos prejudiciais.
O prefeito Carlos Gouvêa, do município de Soure — que fica na ilha de Marajó, na costa do Pará — diz que isso afeta severamente os esforços estaduais e municipais para desenvolver uma economia sustentável.
Ouvido pelo Infobae, ele afirmou que o assunto deve ser tratado a nível federal.
“Não discutimos isso diretamente com Lula, mas o governo sabe que isso está acontecendo”, disse Gouvêa.
O prefeito acrescentou que a Guiana Francesa, país vizinho, “tem uma estrutura melhor para combater esse flagelo” e impedir que navios chineses cheguem perto de sua costa, “mas aqui na região de Marajó no Brasil, eles fazem, chegam muito perto das nossas costas com aquelas redes que arrastam os peixes”.
Roubo de água da Amazônia
A reportagem denuncia ainda que os navios da China na Amazônia coletam água doce — abundante na ilha de Marajó e proximidades.
De acordo com o prefeito Gouvêa, as embarcações roubam água das bacias amazônicas para vender em outros países.
“Uma curiosidade é que os grandes cargueiros que passam por aqui, uma das coisas ilegais que eles fazem é encher os barcos com água doce da Amazônia para levar para outras partes. Eles levam para o Oriente Médio, é mais barato tornar aquela água potável do que dessalinizar a água de lá”, afirmou.
Ouvido com exclusividade pelo Epoch Times, Isaías da Costa, índigena da etnia Macuxi, da região de Raposa Serra do Sol, em Roraima, corroborou a informação. Ele disse que: “…é contrabandeado (sic) água da Amazônia. [As embarcações da China] levam essa água aí para fora, através do porão dos navios”.
Isaías analisa que a justificativa para encher os porões dos navios com água doce é torná-los mais pesados, mas que o argumento não é contundente: “São mais de milhões de litros levados daqui do Brasil para a China por ano, sem cobrar nada, sem taxa. Então é um contrabando de água, tudo que sai do Brasil é contrabando. Então, eles fazem isso, os chineses”.
Visita da Marinha chinesa ao Brasil
Uma comitiva de alto nível da Força Naval da China visitou o Brasil em 15 de junho deste ano, e segundo almirantes ouvidos pela Folha de São Paulo, o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, pretendia falar sobre os crimes cometidos no Atlântico Sul — incluindo a pesca ilegal.
No mesmo mês, representantes das três Forças Armadas brasileiras participaram de um simpósio na China, os diálogos, conforme comunicado interno do Ministério da Defesa, ao qual a Folha teve acesso, indicava: “aumentar os intercâmbios e a cooperação militar bilateral e multilateral e o conhecimento mútuo entre a China e os países da América Latina e Caribe, com a finalidade de construir uma comunidade com destino comum entre esses países”.
Apesar dos dois encontros, a denúncia vinda da ilha de Marajó aponta que a pesca ilegal chinesa na região não cessou ou diminuiu, corroborando alegações de omissão do governo federal.
Histórico recente de uma prática rotineira
O Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), relata que pesqueiros da República Popular da China procuram litorais menos fiscalizados, com a África também alvejada no passado.
Um artigo publicado pelo Sindicato em novembro de 2020 taxa a pesca ilegal no continente sul-americano como “rotina” — e aponta que a China suas frotas envolvidas em pesca predatória para o Atlântico e o Pacífico Sul em anos recentes. Uma retrospectiva recente da base para o rótulo:
Em 2019, ainda de acordo com o Sobesp, cerca de 7 toneladas de peixe provenientes de pesca ilegal foram apreendidos em uma operação conjunto da Marinha do Brasil e da França, entre a foz do rio Oiapoque, no Amapá, e águas territoriais da Guiana Francesa.
Em 2017 o Equador apreendeu um navio mandarim que levava 300 toneladas de espécies ameaçadas de extinção pescadas ilegalmente na reserva marítima de Galápagos, a segunda maior do mundo e protegida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Em 2016, a Armada Argentina chegou a abater uma embarcação chinesa que pescava ilegalmente em sua zona econômica exclusiva.
Marcos Schotgues contribuiu com esta notícia.
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