Tiroteio na Avenida Brasil: operação policial no Complexo de Israel deixa 3 mortos e 3 feridos no RJ

O objetivo era prender criminosos envolvidos em roubos de cargas e veículos; chefe da facção fugiu.

Por Redação Epoch Times Brasil
24/10/2024 22:14 Atualizado: 24/10/2024 22:14

Na manhã de quinta-feira (24), um tiroteio na Avenida Brasil, uma das principais vias expressas do Rio de Janeiro, resultou na morte de três pessoas e deixou outras três feridas. O conflito surgiu durante uma operação da Polícia Militar (PM) em três favelas do Complexo de Israel, na Zona Norte: Pica-pau, Cidade Alta e Cinco Bocas. 

O tiroteio começou por volta das 7h e causou o fechamento da avenida por cerca de duas horas. A população, incluindo motoristas e passageiros de ônibus, ficou presa em meio ao fogo cruzado, sendo forçada a se abrigar nas muretas divisórias da pista.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram pessoas deitadas no chão, tentando se proteger dos disparos.

As vítimas fatais foram identificadas como:

— Paulo Roberto de Souza, de 60 anos, motorista de aplicativo, foi atingido na cabeça e chegou ao Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo já sem vida.

— Renato Oliveira, de 48 anos, funcionário de um frigorífico, foi baleado enquanto estava em um ônibus da linha 493B e não resistiu aos ferimentos.

— Geneilson Eustáquio Ribeiro, de 49 anos, motorista de caminhão, também foi atingido na cabeça e faleceu após cirurgia no Hospital Adão Pereira Nunes.

Outras três pessoas ficaram feridas: Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos, foi baleada na coxa e permanece estável, enquanto dois homens, ambos de 27 anos, foram atendidos no Hospital Federal de Bonsucesso, um já recebeu alta e o outro continua internado.

Barricadas, incêndios e fuzilamento de viatura

Durante a operação, os criminosos montaram barricadas e incendiaram veículos, na tentativa de impedir a ação policial. A PM, que enfrentou forte resistência, relatou dificuldades para entrar nas comunidades devido às valas abertas, bem como ao fuzilamento de uma viatura.

Segundo a tenente-coronel Cláudia Moraes, a situação levou à interrupção do fluxo da Avenida Brasil. Também foi suspensa a circulação dos trens da Supervia nas seguintes estações: Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral.

A operação resultou em grandes congestionamentos em várias áreas do Rio de Janeiro, afetando 35 linhas de ônibus municipais e suspendendo serviços de saúde e atividades escolares na região. O Centro Municipal de Saúde Iraci Lopes e a Clínica da Família Heitor dos Prazeres fecharam temporariamente, assim como uma escola estadual.

Por volta das 9h, a Avenida Brasil foi reaberta, mas a situação ainda causava preocupação entre motoristas e passageiros. Apesar do tumulto, até o momento não houve prisões ou apreensões de drogas ou armas.

Chefe de facção tem 35 antecedentes criminais

O Complexo de Israel, um conjunto de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro, é dominado pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão. Ele é líder do Terceiro Comando Puro (TCP), facção que ocupa vastas áreas da região, só superada pelo Comando Vermelho (CV).

Peixão, que possui 35 antecedentes criminais, incluindo tráfico de drogas e homicídios, tem controlado o Complexo com forte aparato, implementando câmeras de segurança e construindo pontes entre as comunidades.

Sua influência é tão grande que ele chegou a causar a suspensão de atividades de uma igreja católica local. Recentemente, durante operações anteriores, a polícia descobriu imóveis de Peixão, recheados de itens de luxo que refletem seu poderio financeiro.

Uma das casas em Parada de Lucas, por exemplo, contava com uma ampla área de lazer, piscina e até um lago particular para criação de carpas. “Uma casa que poderia ser equivalente a um resort na Região Sul Fluminense”, afirmou o delegado Fábio Asty.

Na ação de hoje, a Polícia Civil acreditava que Peixão estaria numa de suas propriedades, mas ele conseguiu escapar antes da chegada das autoridades.

Após reunião com secretários, governador critica STF

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), convocou uma reunião com o secretário de Segurança Pública, Victor Santos. O encontro ocorreu no Palácio Guanabara, sede do governo, em Laranjeiras, zona sul da cidade, na tarde de quinta. Também esteve presente o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes Nogueira.

A reunião tratou sobre possíveis mudanças no comando da PM após os últimos acontecimentos. Menezes assumiu a pasta em abril deste ano, após pedido direto ao governador pelo secretário de Segurança.

Em entrevista coletiva realizada após a reunião com a cúpula de Segurança Pública do Rio, Castro classificou o episódio desta quinta-feira (24) como um ato de terrorismo e assassinato por parte dos criminosos. 

O chefe do Executivo estadual também voltou a criticar a ação do Supremo Tribunal do Federal (STF) que restringe ações policiais no estado.

Segundo o governador, embora o estado cumpra com as medidas determinadas pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, relatada pelo ministro Edson Fachin, houve um aumento no poder bélico das facções criminosas.