Ao mesmo tempo em que ocorre um debate sobre alteração da meta fiscal e corte de gastos, as Forças Armadas fazem pressão para que haja uma reestruturação no orçamento, que em cinco anos teve redução de 44,5%. A partir de 2012, os recursos “discricionários” tiveram queda de R$ 17,5 bilhões para R$ 9,7 bilhões. O montante não abrange despesas com alimentação, salários e saúde dos militares.
De acordo com o comando das Forças, em 2017 foi feito um contingenciamento de 40%, e esse dinheiro só irá garantir as despesas até setembro. Caso não seja providenciada mais verba, o expediente será reduzido e a baixa de recrutas antecipada. No momento, parte do quadro de efetivos já vem sendo substituída por temporários como forma de diminuir o custo previdenciário. Membros do Alto Comando do Exército, Marinha e Aeronáutica consideram que existe um sério risco de “colapso”.
Encarregada de fazer o monitoramento da utilização de material explosivo, a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) do Exército sofre o impacto dos cortes. Ela teve uma redução da sua capacidade operacional de barrar o acesso a dinamites por grupos como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho, especializados em roubar bancos e caixas eletrônicos.
O Comando do Exército declarou em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo que os cortes afetam “drasticamente” a capacidade de fiscalizar a utilização de explosivos, o que favorece o aumento de explosões de caixas eletrônicos. A DFPC faz parte do grupo de órgãos das Forças Armadas que apoia o sistema de segurança pública que está sofrendo com a falta de dinheiro.
Está difícil para a diretoria continuar com operações e impedir que explosivos caiam nas mãos das quadrilhas. Em julho, a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) compareceu à Comissão de Segurança Pública da Câmara para requisitar maior combate ao crime organizado. Existem 23 mil agências e 170 mil terminais de autoatendimento no país. Apenas em agosto, as quadrilhas explodiram com dinamite agências em Lindoia (SP), em Indaiatuba (SP) e em Capelinha (MG). Em junho, a atuação dos bandidos foi em Brasília – foram 22 ocorrências de 2016 para cá no Distrito Federal.
Em entrevista ao Estadão, o presidente Michel Temer afirmou que está tomando providências quanto ao contingenciamento. “Nós queremos devolver dinheiro, digamos assim, para os vários setores da administração e, em particular, às Forças Armadas”, disse ele.
Em relação às reclamações das Forças, o Ministério do Planejamento, através de sua assessoria, afirmou que se “esforça” para solucionar os problemas mais “graves”. “Entretanto, qualquer ampliação de limites, sem que haja redução em outros ministérios, depende do aumento do espaço fiscal.”
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