De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 publicado na quinta-feira (18), o número de suicídios entre policiais superou, pela primeira vez, as mortes em confrontos. O relatório aponta que, em 2023, foram registrados 110 suicídios de policiais militares, enquanto 107 policiais (46 em serviço e 61 fora de serviço) morreram em confrontos ou por lesões não naturais.
O relatório destaca que a taxa de suicídios entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% em 2023, enquanto a taxa de mortes em serviço ou fora de serviço caiu 18,1%. Essa inversão reflete a crise de saúde mental que afeta os profissionais de segurança pública no país.
São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem os maiores efetivos das corporações, apresentaram aumentos significativos nos casos de suicídio. Em São Paulo, os suicídios entre policiais militares aumentaram 63%, passando de 19 em 2022 para 31 em 2023. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 116,7%, com 13 suicídios em 2023 comparados a 6 no ano anterior.
A situação também é crítica em estados como Acre, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde também o dado se repete.
De acordo com o anuário, o ambiente de trabalho desafiador, cronogramas extensos e distúrbios relacionados ao sono são elementos associados aos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que afetam muitos policiais. O anuário ainda explica que os cursos de formação e treinamentos enfatizam a necessidade de resistência e enfrentamento a situações de risco, muitas vezes desconsiderando as necessidades individuais dos policiais.
Políticas voltadas para saúde mental de policiais
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destaca a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à saúde mental dos policiais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Law Enforcement Suicide Data Collection Act de 2020 determina que o FBI colete informações detalhadas sobre suicídios e tentativas de suicídio entre policiais, sem expor vítimas e familiares, para entender melhor a proporção do problema e desenvolver soluções apropriadas.
O Anuário ainda relata que no Brasil, em muitos casos, as instituições de segurança pública evitam divulgar os números reais, criando uma falsa percepção de que o problema não existe. Um exemplo citado é a Polícia Militar de Minas Gerais, que anteriormente mantinha sigilo sobre esses dados, mas recentemente começou a compartilhar os números de suicídios.