STJ autoriza cultivo de cannabis para fins medicinais e industriais no Brasil

Decisão exige regulamentação da Anvisa em seis meses e distingue cânhamo industrial de substâncias entorpecentes.

Por Matheus de Andrade
14/11/2024 14:52 Atualizado: 14/11/2024 14:52

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou, em recente decisão, a importação de sementes e o cultivo de cannabis (popularmente conhecido como maconha) para fins medicinais, farmacêuticos e industriais no Brasil

A medida vale especificamente para a variedade de cânhamo industrial com teor de tetrahidrocanabinol (THC) inferior a 0,3%, buscando promover alternativas terapêuticas aos pacientes

A decisão também determina que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha um prazo de seis meses para regulamentar as atividades relacionadas ao cultivo, à distribuição e ao uso medicinal da planta.

A relatora do caso, ministra do STJ Regina Helena Costa, destacou as diferenças entre o cânhamo e a cannabis.  

destacou que o cânhamo industrial é uma variante da cannabis que possui teor de THC inferior a 0,3%

“Conferir ao cânhamo industrial o mesmo tratamento proibitivo imposto à maconha, desprezando as fundamentações científicas existentes entre ambos, configura medida notadamente discrepante da teleologia abraçada pela Lei de Drogas”, defendeu a ministra. Assim, de acordo com a ministra, o cultivo dessa variedade não se enquadra nas restrições impostas pela Lei de Drogas. 

Essa decisão vem em um momento em que, globalmente, diversos países têm flexibilizado suas leis para permitir o cultivo e a produção de produtos à base de cannabis, especialmente para fins medicinais. 

No Brasil, a discussão sobre a regulamentação do uso medicinal da cannabis é tema de debates há anos. 

No entanto, a medida do STJ não libera o uso da planta in natura e nem permite o cultivo da planta por pessoas comuns. 

Opositores  da droga argumentam que a maconha é composta por mais de 500 substâncias, das quais apenas uma, o canabidiol (CBD) possui efeitos terapêuticos comprovados. 

A posição crítica é reforçada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que autoriza a prescrição de medicamentos à base de CBD, mas veda o uso da cannabis in natura para fins terapêuticos.

Estudos destacam os potenciais riscos à saúde associados ao uso recreativo da maconha, como a redução do desempenho cognitivo, aumento do risco de transtornos psicóticos e prejuízos ao desenvolvimento cerebral em jovens. 

Em meio a esse cenário, a Anvisa defende a manutenção do atual marco regulatório para a cannabis medicinal, mas busca aprimorar as regras para ampliar o acesso aos pacientes e fomentar a produção nacional.