Por Agência EFE
Metade das estradas do Brasil estará em péssimas condições até 2025 se os investimentos adequados não forem realizados, o que representaria um aumento de R$ 208,9 bilhões nos custos logísticos durante o período, indicou um estudo divulgado nesta quinta-feira em Washington, nos Estados Unidos.
Dados da pesquisa inédita realizada pela Fundação Dom Cabral mostram que 45,3% das rodovias brasileiras já estão em condições inadequadas. Sem investimentos emergenciais, esse número pode ainda aumentar e chegar a 57,5% em 2035.
“Cerca de 50% das rodovias brasileiras estarão em más condições em 2025 e seguirão sendo a principal forma de transporte de carga, o que significa um total de custos logísticos de R$ 208,9 bilhões até lá”, disse o professor Paulo Resende, um dos coordenadores do estudo.
Em um cenário melhor de investimentos, o custo total logístico cairia para R$ 192,5 bilhões em 2025, com uma economia anual de R$ 23,3 bilhões até 2035.
Embora o Brasil ainda não seja referência em infraestrutura na América Latina, o estudo aponta que há potencial para otimizar o setor em 25 anos. No entanto, é preciso construir novas linhas férreas, reestruturar rodovias e conectar portos de norte a sul.
“Essas soluções significam uma economia de R$ 12 bilhões ao ano, 7% a 10% a menos nos custos anuais”, afirmou Ramon Victor César, também coordenador do estudo, que foi divulgado em um workshop sobre transporte e infraestrutura na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O “Diagnóstico e Projeções para a Infraestrutura em Logística de Transportes no Brasil” aponta que, desde 2015, as rodovias concentram 52,7% do transporte de cargas do país. As ferrovias são responsáveis por 27,2% e o transporte aquaviário por 16,9%.
O estudo projeta que um cenário de investimentos contínuos até 2035 diminuiria o protagonismo do transporte rodoviário no Brasil, que cairia do índice atual para 40,8%. O ferroviário e o aquaviário, por outro lado, cresceriam para 28,4% e 25,2%, respectivamente.
No entanto, sem investimentos nos próximos 17 anos, a concentração de cargas transportadas pelas estradas subiria para 54%, enquanto as linhas férreas ficariam com 25,8% e a navegação passaria a ser responsável por 16,4% do total.
“Nos últimos dez anos, o Brasil tem gasto 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestruturas, o que significa que estamos gastando mal na manutenção das já instaladas e muito, muito mal em novas”, afirmou César à Agência Efe.
“O Brasil deveria, no mínimo, dobrar esse percentual e gastar de 4,5% a 5% do PIB para garantir um bom padrão, recuperar um pouco daquelas (infraestruturas) já instaladas, além de introduzir novos modais”, continuou o pesquisador.
Para o especialista, a situação do transporte do Brasil é de desequilíbrio em favor das rodovias, uma dependência que ficou clara em maio deste ano durante a greve dos caminhoneiros. Por esse motivo, seria preciso distribuir as cargas entre rodovias, ferrovias e navegação de cabotagem.
César avalia que ao menos seis novas ferrovias deveriam ser construídas para começar a equilibrar essa situação. Para isso, o país precisaria de investimento privado e de apoio de organizações como o BID.
“A parceria com o banco vem em um bom momento, já que os governos brasileiros não querem comprometer suas carteiras (…). Existe uma preparação de estratégias junto ao Brasil para discutir os desafios de desenvolvimento do país para o próximo governo”, explicou o gerente de Infraestrutura do BID, Augustin Aguerre.
O levantamento apresentado hoje é produto da Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes (PILT/FDC), patrocinada por CCR, VLI, Ecorodovias, QG Infra e Arteris.
A plataforma utilizou dados referentes às malhas estaduais e federais de organizações como a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), além do próprio Ministério dos Transportes.
O objetivo do estudo é estimular governos e o setor privado a criarem soluções adequadas para o transporte a partir de cenários simulados com os dados públicos.
“O mais importante deste projeto é fazer o país olhar para frente com um planejamento de médio a longo prazo. É uma ferramenta que pode ser usada pelos governos, pelas empresas privadas, pelas agências reguladoras para verificar quais são os projetos ideais para o país”, destacou o presidente do grupo CCR, Leonardo Vianna.
O presidente da Associação Brasileira de Concessões de Rodovias (ABCR), César Borges, considera que o sistema de transporte é um “peso” para o crescimento econômico.
Uma das soluções apontadas pelo economista Raul Velloso, por exemplo, “é fazer o equacionamento da previdência pública” e criar de um fundo de pensão para redirecionar parte dos gastos públicos para o setor do transporte.
Outro problema apontado durante a apresentação do estudo foi a regulação das concessões, que precisa de um ambiente institucional com estabilidade de regras, avaliou o advogado Pedro Dutra.
“É indispensável chegar a uma definição sobre a ação regulatória exercida de forma independente do poder político partidário e da ação de corporações públicas e privadas”, disse Dutra.