Ronnie Lessa, um dos réus no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, prestou depoimento por videoconferência na terça-feira (27), a partir da Penitenciária de Tremembé, em São Paulo. Atualmente preso preventivamente, o matador de aluguel forneceu detalhes sobre o envolvimento no homicídio.
Ele afirmou que a promessa de uma grande recompensa financeira o levou a participar do atentado. Durante o depoimento, Lessa relatou que a proposta dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato, foi a principal motivação para sua participação.
Lessa revelou que a promessa era de receber R$ 25 milhões, pagos em lotes de um empreendimento imobiliário na zona oeste do Rio de Janeiro. “Era uma coisa que era pra ficar rico”, declarou.
O depoimento de Lessa condiz com sua colaboração premiada anterior com a Polícia Federal. Ele detalhou sua motivação para o crime, citando “ganância” e “ilusão danada” como razões para sua decisão. “Eu estava encantado, eu estava louco, cego com os R$ 25 milhões que eu ia ganhar”, afirmou.
O réu mencionou que não havia dúvidas sobre a proposta inicial, explicando que os terrenos prometidos, localizados entre Jacarepaguá e Praça Seca, eram conhecidos como Medelín I e II – em referência à cidade colombiana.
Segundo Lessa, o plano incluía a grilagem desses terrenos e a formação de uma milícia que seria comandada por ele e pelo comparsa – o policial militar reformado Edmilson da Silva de Oliveira, conhecido como “Macalé”.
Grilagem é a prática criminosa que envolve invadir, ocupar, lotear e obter ilicitamente a propriedade de terras públicas, sem autorização do órgão competente. A milícia teria como objetivo explorar serviços como internet e transporte na região.
Lessa admitiu que seu plano, após receber o pagamento, era fugir e abandonar todos os envolvidos no esquema. “Depois que eu estivesse com os meus R$ 25 milhões, eu ia abandonar todos eles. Eu não ia tomar conta de nada”, alegou.
Juiz retirou irmãos Brazão do depoimento virtual
Durante a audiência, Lessa pediu que Domingos e Chiquinho Brazão fossem retirados da sala virtual, o que foi autorizado pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do Supremo Tribunal Federal (STF).
Vieira é o mesmo juiz cujos diálogos com o perito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, foram expostos em reportagens na Folha de São Paulo, publicadas em agosto deste ano.
O promotor de Justiça Olavo Evangelista Pezzotti foi o primeiro a interrogar Lessa.
Além de revisitar os anexos de sua delação, detalhou a reunião na qual recebeu a proposta. “Quem me disse o nome Marielle Franco foi o Domingos. O Chiquinho só concordava, nem abria a boca, parecia que estava assustado”, descreveu Lessa.
O réu também reiterou que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, esteve envolvido no planejamento do crime e deu a ordem para não matar a vereadora no trajeto da Câmara de Vereadores. “As polícias no Rio de Janeiro estão contaminadas há décadas”, disse o matador de aluguel.
Rivaldo Barbosa, Domingos Brazão e Chiquinho Brazão negam envolvimento no assassinato e serão ouvidos no processo.