A Polícia Civil de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, realizaram, nesta terça-feira (14), a “Operação Kairos”, para desarticular uma quadrilha de anabolizantes clandestinos.
A ação prendeu 15 pessoas e cumpriu 18 mandados de busca e apreensão no Rio e em Brasília.
A operação também contou com o apoio da Coordenação de Repressão às Drogas (CORD) da Polícia Civil do Distrito Federal.
Segundo informações divulgadas pelas autoridades, as investigações tiveram início em junho de 2024, após uma parceria entre o setor de inteligência da 76ª Delegacia de Polícia de Niterói e os Correios, que identificou grandes volumes de anabolizantes enviados diariamente por encomenda.
As substâncias eram fabricadas de forma clandestina, sem fiscalização das autoridades sanitárias e, frequentemente, incluíam elementos tóxicos como repelentes de insetos em suas fórmulas. Em um ano de investigações, foram apreendidas mais de duas mil substâncias ilícitas, causando um prejuízo estimado em R$ 500 mil ao grupo criminoso.
A investigação revelou que a quadrilha movimentava cerca de R$ 80 milhões em vendas por meio de plataformas online e redes sociais. Como parte de sua estratégia de marketing, o grupo patrocinava eventos de fisiculturismo e atletas profissionais, e ainda contratava influenciadores digitais para promover seus produtos.
Além da comercialização, o grupo também mantinha uma estrutura financeira sofisticada, com operadores dedicados a pulverizar os lucros em diversas contas bancárias para dificultar o rastreamento das movimentações.
A Justiça determinou o bloqueio dessas contas, como parte das medidas para interromper as atividades ilícitas.
Os investigados responderão por crimes como associação criminosa, crime contra a saúde pública e contra o consumidor.
Riscos do uso de anabolizantes clandestinos
A operação reforça um alerta crítico sobre os riscos do uso de anabolizantes clandestinos, considerados um problema crescente de saúde pública.
Durante o fórum “Esteroides Anabolizantes: Um problema de saúde pública”, promovido pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) em parceria com universidades e hospitais, especialistas alertaram para os perigos do uso indiscriminado desses produtos.
Dados apresentados durante o evento indicam a preocupação dos especialistas com o impacto na saúde pública do uso crescente e indiscriminado de esteroides anabolizantes. O professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Clayton Macedo, doutor em Endocrinologia Clínica, destaca que “cerca de 3,3% da população utiliza essas substâncias. Esse número sobe para 30% entre frequentadores de academias e ultrapassa 90% entre fisiculturistas”.
“Há farta evidência, baseada em diretrizes e posicionamentos de sociedades científicas nacionais e internacionais, de que indicar hormônios anabolizantes para fins estéticos e esportivos não é seguro, bem como oferece riscos, muitas vezes não monitoráveis”, acrescentou Macedo. “O uso desses produtos causa distúrbios psicológicos e prejudica cérebro, coração, rins, fígado, fertilidade e função hormonal, além de causar infecções e lesões musculares.”
No encerramento do fórum, foi lançada a Carta de Porto Alegre, assinada por 16 entidades, com propostas de medidas conjuntas para conscientizar a população e reforçar o combate à comercialização irregular desses produtos.