Por Lucas Berlanza, Instituto Liberal
O secretário de Desestatizações Salim Mattar reforçou a intenção do governo de privatizar a maioria das estatais e disse que o desejo é manter apenas três. É música para os ouvidos de quem está muito carente de mudanças reais e esperanças com base sólida. Para que elas se concretizem, é preciso que a gestão Bolsonaro consiga fazer duas coisas: articular a base do governo devidamente em torno da pauta urgente, derrotando os ruídos internos que incomodam nesses primeiros dias, e superar as adversidades externas.
Sobre adversidades externas, uma que pode muito bem ser pedra no sapato se avizinha a partir da próxima sexta-feira no Senado e atende pelo nome de Renan Calheiros. Analistas acreditam que as chances de o velho emedebista alagoano reassumir a presidência da câmara mais alta do Legislativo são grandes. O risco Renan Calheiros é muito real.
Nem preciso mencionar as investigações contra Renan, alvo de 14 procedimentos criminais, que teimam em não gerar resultados, e a persistência de raposa com que, em sua inutilidade e seu caráter pernicioso, ele se conserva vivo na política brasileira. Nem preciso mencionar seu absoluto destemor da pressão popular e da opinião pública. Nem preciso mencionar que, apenas para ficar em um exemplo, ele aparece junto a Romero Jucá e Eunício Oliveira em delação premiada como componente do “núcleo dominante” do PMDB no Senado em esquema de repasse de propina em troca de apoio a projetos de lei de interesse da Odebrecht. Nem preciso, mas mencionei.
Só que o pior de tudo está nas agendas corporativistas e antibrasileiras de Renan, que protagoniza alguns dos espetáculos mais tristes do Parlamento brasileiro.
Renan Calheiros que, em agosto de 2016, disse, diante da declaração repugnante da petista Gleisi Hoffman de que ninguém no Senado tinha moral para julgar a presidente Dilma Rousseff, que a senadora Gleisi não tinha o direito de dizer o que disse, porque era “uma senadora que, há 30 dias, o presidente do Senado Federal conseguiu no Supremo Tribunal Federal desfazer o seu indiciamento e do seu esposo, que havia sido feito pela Polícia Federal”. Presidente do Senado que era ele próprio, é claro, sendo o presidente do STF à época o ministro Ricardo Lewandowski, presente ao julgamento de Dilma.
Renan Calheiros que é essa figura antirrepublicana, que depois tentou se aliviar com o tradicional “não foi isso que eu quis dizer”, pretendendo convencer – apenas aos tolos – de que sua atuação foi “institucional” e impessoal, tendo sido pelo menos o seu tom, em verdade, pessoal o suficiente para a igualmente repulsiva Gleisi recuar e se conter após o seu destempero.
Renan Calheiros que não perde uma oportunidade de exercer a sua criatividade deletéria, como quando decidiu por livre e espontânea vontade conceder um prazo de 45 dias ao Executivo para explicar as “pedaladas fiscais”, sempre tentando amenizar a situação para a ex-presidente e terrorista Dilma.
Renan Calheiros que militou para a estrovenga que foi dar ao Senado, sob sua presidência, o poder de reavaliar e jogar no lixo, se o quisesse, todo o processo de acolhimento do impeachment realizado na Câmara.
Renan Calheiros que, em uma de suas várias demonstrações de desprezo pela lei e pela Justiça, defende o pobre coitado Lularápio da Silva, um perseguido político de um regime hediondo de exceção que precisa ser solto de seu “encarceramento medieval”, “sem prova nem crimes”, nas palavras do próprio alagoano.
Renan Calheiros que manobrou para que se votassem as medidas contra a corrupção propostas pelos procuradores da Lava Jato (sem que esqueçamos, naturalmente, os excessos que elas continham) em regime de urgência, logo após sua votação na Câmara, sem dar tempo aos senadores para estudarem o tema.
Renan Calheiros que emitiu nota em nome do Senado Federal para homenagear Fidel Castro no dia de sua morte, alegando que “devemos nos lembrar que posições políticas diferentes, desde que respeitados valores democráticos, contribuem para enriquecer nossa história” – como se não fosse Fidel justamente um assassino e ditador.
Renan Calheiros que apoiou Fernando Haddad e defendeu a absurdamente inominável candidatura do ex-presidente presidiário petista ao Planalto – que, felizmente, não houve, porque alguém tem juízo neste país.
Renan Calheiros que defendeu alterar a política de preços da Petrobras durante a greve dos caminhoneiros, como se ajustar os preços ao mercado fosse algum tipo de desumanidade. Renan Calheiros que durante todo o tempo debochou de Michel Temer e de sua tentativa de aprovar a Reforma da Previdência, não demonstrando a mínima boa vontade com a necessidade das reformas.
Renan Calheiros que já está, segundo a revista Crusoé, oferecendo cargos comissionados para se eleger pela quarta vez à presidência do Senado. Paremos por aqui, que a lista se alonga.
Renan Calheiros já faz acenos ao governo Bolsonaro, dizendo que vai ajudar, que vai colaborar. Não caiam nesse canto da sereia. Renan Calheiros é um calhorda e um traidor profissional. Ele não tem nenhum compromisso com o país e com seu futuro. Confiar em Renan Calheiros, depois de sua vasta biografia de desserviços, é uma idiotice imperdoável que não pode ser cometida. O Brasil não quer Renan Calheiros na presidência do Senado.
Lucas Berlanza é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É editor dos sites “Sentinela Lacerdista” e “Boletim da Liberdade” e autor do livro “Guia Bibliográfico da Nova Direita – 39 livros para compreender o fenômeno brasileiro”
O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Epoch Times