Por Marcos Schotgues
Semana passada o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, renunciou ao cargo.
Sua saída da pasta ocorreu após postar nas redes sociais sobre um encontro seu com a senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado no início de março. Na ocasião, segundo Araújo, ela teria lhe dito que ele seria, citando, “o rei do senado” se fizesse um “gesto em relação ao 5G”. Em sua publicação, o então chanceler disse não ter feito gesto algum.
A senadora distribuiu uma nota à imprensa indicando Ernesto como extremista, e insistente em estar à margem da boa diplomacia. Afirmou como necessária uma troca no posto. Um dia depois, Araújo não estava mais à frente do Itamaraty.
Na nota, Abreu disse ter alertado o Chanceler sobre os prejuízos que um veto à China na questão do 5G poderia causar às exportações brasileiras.
A posição do ministro era clara quanto à preferir alternativas não-chinesas para as redes móveis do Brasil. Ele apoiou a iniciativa americana Clean Network, que promovia “redes limpas”, definidas como livres de agentes escusos, como empresas ligadas ao Partido Comunista Chinês e outros grupos autocráticos.
O PCC é o perpetrador, diretamente ou através de empresas chinesas, de casos de espionagem e roubo de propriedade intelectual mundo afora. A Comissão Federal de Comunicações dos EUA, corrobora a informação, classificando provedores chineses de tecnologia 5G como “ameaças à segurança nacional”.
Parlamentares, como Ciro Nogueira, Simone Tebet e o presidente do congresso e do senado, Rodrigo Pacheco pronunciaram-se em defesa da Senadora, opondo-se a Ernesto e reiterando a exigência de sua saída.
Enquanto o ex-Chanceler afirmou ter desconsiderado a sugestão devido ao tema do 5G caber ao presidente da república e ao Ministério das Comunicações, o desgaste entre Araújo e Yang Wanming, o embaixador da China no Brasil, bem como sua oposição à expansão global do modelo totalitário chinês são entendidos como fatores impeditivos nas relações entre os países por parte do congresso nacional, setores do governo e pela própria delegação diplomática chinesa, conforme declarações públicas de oficiais.
A mudança, e os comentários da senadora e outros congressistas promovendo os interesses do Partido Comunista Chinês, chamam a atenção pelo momento em que vêm à tona. Ocorrem após Xi Jinping ordenar os diplomatas chineses a, entre aspas, “mostrar espírito de luta ao enfrentar desafios”, segundo afirma o jornal taiwanês Liberty Times, tendo o dado sido confirmado por dois diplomatas chineses.
Eventos concomitantes com possível correlação incluem declarações indecorosas de oficiais chineses mundo afora; a imposição de sanções pela China aos EUA, ao Canadá e a países europeus e o recebimento, apontado pela revista Oeste e pelo deputado Paulo Eduardo Martins, de 1,7 milhões de reais vindos do Partido Comunista Chinês pelo Fórum das Centrais Sindicais do Brasil.
O conselheiro do PCC, Jin Canrong revelou, em um discurso interno recentemente vazado e viralizado, que a compra de parlamentares através do controle de sindicatos e órgãos com influência sobre o eleitorado é uma diretriz central das relações internacionais chinesas. Na ocasião, ele também citou o Brasil como tendo sido cogitado por Pequim como um alvo a ser fomentado para antagonizar os EUA, a favor dos interesses globais sino-comunistas.
O deputado Eduardo Bolsonaro, comentando o assunto, confirmou que Ernesto Araújo confidenciou uma ligação entre a senadora Kátia Abreu e uma vinda do 5G chinês para o Brasil, bem como a existência de atrito entre o senado e o Ministro, e citou o trabalho de Ernesto Araújo como excelente, observando a diferença nas relações exteriores brasileiras antes e depois de sua passagem com a aproximação a países como os EUA, e a Índia e o afastamento de nações autoritárias como a Venezuela e Cuba, bem como o fim de doações a ditaduras totalitárias.
Eduardo Bolsonaro rechaçou as críticas feitas ao Ministro quanto à vacinação, apontando que o Brasil possui o 5º melhor desempenho no quesito, à frente de referências em saúde pública como o Canadá e Israel.
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