Na manhã de segunda-feira (28), o recém-eleito no 2.º turno prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), deu uma entrevista à TV Globo, na qual expressou suas expectativas para o novo mandato.
Com 59,35% dos votos válidos (3.393.110), Nunes derrotou no domingo (27) o candidato Guilherme Boulos (PSOL), que obteve 40,65% (2.323.901) — uma diferença de 1.069.209 votos.
Nunes abordou os seguintes assuntos: o desempenho da empresa Enel; a postura do governo federal e do Ministério de Minas e Energia perante os apagões em São Paulo; os impasses relacionados a quedas de árvores; o preço da tarifa de ônibus; e o papel do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na sua eleição.
Enel, apagões e governo federal
Nunes não poupou críticas à Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica na cidade desde 2019. No período de um ano, São Paulo registrou três apagões, com destaque para um ocorrido em outubro que deixou mais de 3 milhões de pessoas sem luz.
O prefeito sugeriu o encerramento do contrato com a empresa e defendeu que o governo federal precisa intervir no caso.
“Reeleito com essa votação expressiva, portanto, inegavelmente com muito mais peso político, eu começo, junto com o Tarcísio, por mais força ainda para tirar essa empresa daqui. Essa empresa tem que sair da cidade de São Paulo”, enfatizou Nunes.
“O governo federal, o presidente da República, esse péssimo ministro de Minas e Energia têm que tomar uma atitude […] A concessão é federal, a regulação é federal e a fiscalização é federal. Então, o governo federal precisa olhar para a população de São Paulo e tirar essa empresa”, reforçou.
Também pediu cooperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “Nós temos que fazer uma ação para ter uma nova empresa com responsabilidade e isso, se o presidente quiser fazer, ele faz em um minuto, basta assinar o decreto fazendo intervenção, ele tira a diretoria da Enel, põe um interventor para começar a cuidar da cidade”.
Problema com poda de árvores
Uma das causas apontadas para os recentes apagões foram as quedas de árvores, problema que vem se acumulando na cidade. Atualmente, a prefeitura enfrenta uma fila de 13,9 mil pedidos de poda e remoção de árvores.
Nunes, no entanto, afirmou que as podas de árvores em áreas urbanas são obrigação da Enel.
“O que acontece: a gente tem engenheiro-agrônomo em todas as 32 subprefeituras. Eu queria fazer um exercício com vocês. Vocês vão estar andando pela rua, olhem a fiação e as árvores, vocês vão ver muitas árvores que passam pela fiação. O problema é a Enel”, culpou Nunes.
Segundo o prefeito, ela é que deve desligar a energia para permitir o trabalho seguro dos profissionais.
“Eu fiz 620 mil podas. A grande questão é que quando a árvore está encostada no fio é a Enel que faz essa poda, não é a Prefeitura de São Paulo. Ninguém tá empurrando nada. É que se você não desligar energia, coloca em risco a vida do profissional, então a Enel vai, desliga energia e a gente faz a poda”, acrescentou.
Aumento na tarifa de ônibus
Nunes disse ter “vontade” de manter a tarifa de ônibus congelada em R$ 4,40 — valor que vigora desde 2020.
“Uma coisa que eu sempre fiz e vou continuar fazendo é governar com responsabilidade. A questão da saúde financeira da cidade, a responsabilidade fiscal, isso é muito importante para a gente poder colocar todos os serviços em atendimento”, comentou o prefeito.
Todavia, também afirmou na entrevista que, em dezembro, sua equipe irá avaliar os fatores antes de decidir sobre um possível aumento.
“Quando chega em dezembro é que a gente pega todos os dados do dissídio, o valor do diesel e a questão da política pública de mobilidade para tomar uma decisão. Então, em dezembro, eu sento com a equipe para tomar decisão. Se a gente consegue manter, é a minha vontade, ou se não consegue manter e explicar porque não vai manter”, declarou.
Vice-prefeito e segurança pública
Nunes também comentou sobre o futuro papel do vice-prefeito eleito, coronel Mello Araújo (PL). Embora ainda não tenha definido as funções do vice, o prefeito mencionou a possibilidade de criar uma secretaria executiva focada em segurança pública e zeladoria.
“Acho que uma secretaria executiva que ele possa me ajudar é na questão da Segurança Pública, pode estar ajudando a questão da zeladoria, ou seja, acompanhar mais de perto algumas políticas públicas que a gente está desenvolvendo e vai desenvolver mais específicas, eu chamo de ações prioritárias”, disse.
Abstenção e “campanha agressiva”
O segundo turno das eleições foi marcado por uma alta taxa de abstenção, que alcançou 31,54% — cerca de 2,9 milhões de eleitores. Nunes atribuiu esse fenômeno a uma campanha eleitoral agressiva, que, segundo ele, gerou uma rejeição significativa entre os eleitores.
“A gente teve um número de abstenção grande e acho que atribuo isso a uma campanha muito agressiva que a gente não gostaria que acontecesse. Acho que fica uma lição que as pessoas mais agressivas acabaram tendo uma rejeição muito alta. A população rejeitou esse tipo de comportamento”, opinou.
Parceria com Tarcísio de Freitas
Em seu discurso de vitória, Nunes agradeceu ao governador Tarcísio de Freitas, ressaltando a importância da parceria entre os dois.
“O Tarcísio, realmente, foi fundamental nesse processo. Não só como um grande parceiro na administração. A gente tem muitas ações conjuntas, habitação, segurança, saneamento, mas o Tarcísio também participou muito ativamente da eleição”, salientou o emedebista.
O prefeito definiu o governador como “uma pessoa muito parceira, parceira dos bons momentos, parceiro dos maus momentos, parceiro de todos os momentos”.
“Lá no dia 28, 29 de agosto, mais ou menos, dei uma caidinha [nas pesquisas]. E aí foi quando o Tarcísio mais entrou. Foi no momento de dificuldade que ele mais se aproximou e demonstrou seu alto caráter”, enalteceu.
Futuro político na visão de Nunes
Ricardo Nunes, que completou 56 anos, iniciou sua carreira política como vereador em 2012 e ascendeu à prefeitura paulistana após a morte de Bruno Covas, em 2021.
Com uma coligação que incluiu doze partidos (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Mobiliza, Agir e União Brasil), ele criticou o que chamou de “extremismos”.
“Aos que acompanharam essa eleição histórica, a democracia deixou uma grande lição para nós da cidade de São Paulo, e deixou uma lição para o Brasil. O equilíbrio venceu todos os extremismos”, argumentou Nunes.
Perguntado a respeito da relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Nunes não citou o nome dele na entrevista e afirmou que “na eleição a lealdade é fundamental”.
No discurso de vitória, Nunes mencionou Deus, família e a primeira-dama, Regina Carnovale. “Eu agradeço muito a Deus, agradeço à minha família. Queria deixar agradecimento especial a minha esposa Regina que esteve sempre ao meu lado, em todos os momentos da minha vida e sofreu enormes maldades nessa campanha”, afirmou.
Por fim, elogiou o governador de São Paulo, o qual chamou de “líder maior” e, indiretamente, fez referências ao seu futuro político: “E ao líder maior, sem o qual não teríamos essa vitória, meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarcísio de Freitas. […] Tarcísio, seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro.”