Porto Velho, a cidade que não consegue ver o sol por causa da fumaça das queimadas

Por Jon Martin Cullell e efe
10/09/2024 18:46 Atualizado: 10/09/2024 18:46

A capital de Rondônia, Porto Velho, tem vivido em meio a uma nuvem de fumaça causada pela onda de incêndios que assola a Amazônia em meio à pior seca da história recente do Brasil.

“O tempo está bom, mas há um pouco de fumaça”, avisa o piloto durante a aproximação.

É um dia de sorte, pois no último mês dezenas de voos foram cancelados devido à falta de visibilidade.

Mesmo assim, quem sai do aeroporto internacional da cidade pode sentir efeitos da crise ambiental: a garganta fica seca, os olhos ardem, e uma névoa esbranquiçada impede a visão à distância.

De acordo com a IQAir, empresa que mede a qualidade do ar, Porto Velho é atualmente a cidade mais poluída do Brasil, com níveis muito superiores aos de megacidades como São Paulo e Nova Délhi (Índia).

A concentração de partículas, que se infiltram facilmente nos pulmões e no sangue e pode causar doenças cardiovasculares e respiratórias, atingiu 194 microgramas por metro cúbico na segunda-feira, 13 vezes o nível diário recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Jorge Suarez, um funcionário municipal de 50 anos que trabalha na manutenção de vias públicas, diz que não consegue se lembrar da última vez que viu o famoso “céu que se faz moldura” celebrado no hino do estado. Talvez dois meses, ou mais?

“É a pior seca que eu já vi”, disse.

Até agora, neste ano, a Amazônia brasileira registrou mais de 80 mil focos de incêndio, o dobro do ano passado, que já foi considerado um ano desastroso. De acordo com o governo, praticamente todos foram causados pelo homem.

Rio Madeira atinge nível mais baixo de todos os tempos

De frente para o rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas e que banha Porto Velho, Gracemery Martins combate com sua mangueira um pequeno incêndio que cresce rapidamente em frente à sua casa.

“Irresponsáveis, que desgraça, quem poderia ter pensado nisso?”, diz a professora de 67 anos, indignada, que já deu aulas de ecologia e meio ambiente.

Parece que um vizinho ignorou a proibição de fazer fogueiras imposta pelo governo estadual e quis queimar lixo no quintal. Com a vegetação seca devido à falta de chuva, as chamas saíram do controle.

Gracemery chamou os bombeiros, mas eles disseram que estavam sobrecarregados demais para lidar com um pequeno incêndio.

Há 30 anos, ela se mudou para essa parte da cidade por causa da bela vista para o rio e o pôr do sol. Mas o Madeira está no nível mais baixo de sua história e mal pode ser visto por causa da fumaça.

Ao pôr do sol, o sol fica vermelho como fogo. Ela, que é casada com um poeta, diz que o astro está pedindo “socorro à insensatez humana”.

“Se você destruir o meio ambiente, estará destruindo a si mesmo. A mentalidade humana não aprende, mas só podemos continuar lutando…”, lamentou.