Análise de notícias
O Monitor do PIB, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) na sexta-feira (16), trouxe resultados positivos para a economia brasileira no segundo trimestre de 2024. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em comparação ao trimestre anterior, um avanço significativo que reflete, em grande parte, o aumento expressivo do consumo das famílias. Este consumo registrou um crescimento robusto de 5,3% no período, impulsionando o desempenho econômico do país.
Por outro lado, a produtividade da indústria de transformação continua a ser uma preocupação central. Desde 2020, essa produtividade vem caindo de forma constante, sem sinais de recuperação após a pandemia de COVID-19.
No primeiro trimestre de 2024, a produtividade industrial caiu 1,3% em comparação ao último trimestre de 2023. Esse declínio prolongado fez com que a produtividade retornasse aos níveis observados no final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, apagando os ganhos obtidos anteriormente.
Em 2023, a situação já era alarmante, com uma queda acumulada de 8,5% na produtividade industrial desde 2019. Mesmo diante de um cenário de recuperação econômica global, a indústria brasileira não conseguiu retomar o caminho de crescimento observado antes da pandemia. Essa queda contínua na eficiência produtiva é um dos principais desafios que o setor enfrenta atualmente.
O cenário do comércio exterior explicita ainda mais esse problema. Em julho de 2024, o Brasil registrou um aumento significativo tanto nos volumes exportados quanto nos importados. As exportações cresceram 11,5%, impulsionadas principalmente pelo aumento de 12,7% no preço das commodities e de 9,0% nos produtos não commodities. Ao mesmo tempo, as importações cresceram 23,4%, evidenciando uma robusta demanda interna que a produção nacional não conseguiu acompanhar.
O Brasil, maior produtor de soja do mundo, alcançou seu maior recorde de importação de soja no primeiro semestre de 2024. A quantidade importada— 752 mil toneladas — representa um aumento de 709% no mesmo período de 2023. Ao mesmo tempo, a produção nacional de soja foi revista para 147 milhões de toneladas, um número abaixo da previsão inicial de 160 milhões de toneladas.
Apesar desse aumento nas importações, a balança comercial brasileira permaneceu superavitária, com um superávit de US$ 7,6 bilhões em julho e um acumulado de US$ 49,6 bilhões no ano. No entanto, esse resultado é inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior, quando o superávit foi de US$ 52,8 bilhões. Essa redução no superávit comercial indica uma crescente dependência das importações para atender à demanda interna, o que pode ser uma fonte de preocupação a longo prazo.
Paradoxalmente, a confiança dos empresários da indústria que já estava alta em julho, permanece elevada, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Essa confiança, no entanto, não reflete uma recuperação econômica robusta, mas sim o aumento na demanda que a oferta não consegue acompanhar.
A demanda crescente tem levado as empresas a expandir suas contratações, resultando na criação de 201.705 novos postos de trabalho formais em junho de 2024. Esse movimento é uma resposta direta à pressão por atender à demanda interna, que continua a crescer.
No entanto, essa expansão do emprego está sendo acompanhada por uma alta na inflação, o que diminui o poder de compra dos salários. Em julho de 2024, a inflação atingiu o limite superior da meta estabelecida, chegando a 4,5%.
Se a inflação está subindo a cada dia e o poder de compra dos salários está caindo, como a demanda continua a aumentar? Devido a uma combinação de fatores econômicos.
Um dos principais motivos é o aumento da circulação de dinheiro na economia, impulsionado por políticas fiscais e monetárias expansivas. Conforme explicado em um artigo de opinião publicado pelo Epoch Times, o Banco Central tem contribuído para essa situação ao injetar mais dinheiro na economia uma vez que, como explicado pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao contrário do que algumas críticas possam indicar, a atual taxa de juros Selic no Brasil não é “exorbitante” quando comparada a padrões históricos ou globais. Embora o Brasil esteja passando por um período de inflação global significativa, o país conseguiu manter tanto a taxa de juros (Selic) quanto a inflação em níveis mais baixos que a média histórica.
Essa maior disponibilidade de dinheiro facilita o crédito e incentiva o consumo, mesmo que o poder de compra dos salários esteja em declínio. Quando as pessoas e as empresas têm mais acesso ao crédito, elas podem continuar comprando, alimentando a demanda. No entanto, essa situação também alimenta a inflação, criando um ciclo em que mais dinheiro na economia leva a um aumento de preços, o que, por sua vez, deteriora ainda mais o poder de compra dos salários.
Além disso, o aumento dos salários nominais, mesmo que não acompanhe a inflação, pode dar a sensação de que há mais dinheiro disponível, o que leva as famílias a consumir mais. Esse fenômeno pode manter a demanda alta a curto prazo, mas não resolve os problemas estruturais que geram a inflação, como o desequilíbrio entre oferta e demanda e a ineficiência produtiva