A Polícia Federal (PF) anunciou na quinta-feira (8) que deflagrou a segunda fase da Operação Trapiche, que visa desmantelar uma rede de financiamento do terrorismo. Esta operação, que ocorreu em várias cidades brasileiras, representa uma resposta às crescentes preocupações com a presença e as atividades do Hezbollah no Brasil, particularmente na região da Tríplice Fronteira, onde o Brasil, Argentina e Paraguai se encontram.
Nesta nova fase da operação, a PF fechou uma tabacaria em São Paulo, que era suspeita de lavar dinheiro oriundo do contrabando de cigarros eletrônicos. Esses recursos, de acordo com as investigações, eram usados para financiar viagens de brasileiros recrutados pelo Hezbollah, um grupo que tem uma longa história de atividades terroristas e conexões com o Irã.
(Aviso de interdição do local por mandato judicial. Foto pela Polícia Federal)
Além da tabacaria, mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos em diversas localidades, incluindo São Paulo, Brasília e Minas Gerais. A operação foi coordenada em parceria com agências de inteligência internacionais, incluindo o Mossad, serviço de inteligência de Israel, que forneceu informações cruciais para frustrar possíveis ataques planejados pelo Hezbollah em território brasileiro.
A tríplice fronteira e o papel do Hezbollah
A região da Tríplice Fronteira tem sido um foco de operações ilícitas ligadas ao Hezbollah há décadas. A área é conhecida por suas atividades de contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, que servem para financiar as operações do Hezbollah não apenas na América Latina, mas em outras regiões do mundo.
Investigações revelaram que o grupo terrorista Hezbollah utiliza redes locais para estabelecer mecanismos de financiamento e apoio logístico, explorando a vasta comunidade libanesa na região.
Essas atividades na Tríplice Fronteira têm gerado preocupações constantes das autoridades de segurança, tanto na América Latina quanto internacionalmente. O Hezbollah tem sido acusado de colaborar com organizações criminosas locais, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), para facilitar o contrabando de armas e outros materiais ilícitos. Em troca, o grupo fornece proteção a prisioneiros de origem libanesa e acesso a canais internacionais de tráfico de armas.
Contexto internacional e repercussões
A Operação Trapiche ocorre em um momento de intensificação das atividades do Hezbollah em resposta aos conflitos no Oriente Médio, especialmente no contexto da recente escalada entre Israel e grupos terrorista como o Hamas. Analistas sugerem que o Hezbollah tem explorado a crescente onda de antissemitismo global para camuflar suas operações como crimes de ódio locais, desviando a atenção de suas verdadeiras intenções terroristas.
“A razão para a mudança de táticas do Hezbollah pode estar relacionada com a guerra em andamento em Gaza. O Hezbollah pode usar o Brasil e a América Latina como um campo de batalha por procuração para provocar Israel sem enfrentar consequências severas. Dado o aumento dos eventos antissemitas em todo o mundo, um ataque bem-sucedido por brasileiros não identificados poderia ter sido interpretado como um crime de ódio orquestrado por radicais locais, e não como um ataque terrorista”, escreveu Maria Zuppello, analista italiana no Brasil e especialista na conexão entre crimes de cartéis latino-americanos, mafias italianas e terrorismo.